São Paulo — A presença do deputado estadual Tomé Abduch (Republicanos) na comitiva que Ricardo Nunes (MDB) levou nesta semana para o Vaticano intrigou alguns aliados do prefeito paulistano, que pretende adiar ao máximo a escolha do vice na sua chapa pela reeleição em outubro deste ano.
Nos últimos meses, Abduch (foto em destaque) tem tentado se aproximar de Nunes, indo a algumas agendas do prefeito, de olho na vaga. Segundo aliados, ele aposta no fato de ser apoiador do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e correligionário do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) — ambos terão peso na escolha do vice — para se cacifar na disputa. A ida ao Vaticano com o prefeito seria parte da estratégia.
Nunes fez a viagem à convite da Igreja Católica, que organizou uma conferência para tratar de mudanças climáticas com líderes políticos de grandes cidades e convidou o prefeito da capital — São Paulo é uma das poucas cidades que têm uma secretaria exclusiva para tratar dos impactos do aquecimento global.
O convite incluiu uma audiência com o papa Francisco, que ocorreu nessa quinta-feira (16/5). O prefeito é católico praticante e levou uma escultura de Nossa Senhora Aparecida para o pontífice abençoar.
Para acompanhá-lo na viagem, Nunes selecionou um grupo restrito: Vitor Sampaio, seu chefe de gabinete, os secretários Enrico Misasi (Relações Institucionais) e José Renato Nalini (Mudanças Climáticas), o vereador João Jorge (MDB), o presidente da SPTuris, Gustavo Pires, e Tomás Covas, filho do ex-prefeito Bruno Covas, morto em 2021.
Integrante que se convidou Tomé Abduch não estava na relação inicial, mas quando soube da viagem se ofereceu a Nunes para acompanhar a comitiva. O Metrópoles apurou que o deputado bancou por conta própria a viagem para a Europa. Auxiliares do prefeito afirmam que Nunes não criou impeditivo para a companhia do deputado.
Aliados interpretaram o gesto como mais um movimento do deputado estadual para tentar se viabilizar como vice na chapa do prefeito — viagens assim costumam solidificar a relação entre os integrantes da comitiva.
Abduch chegou a ser cotado para assumir Secretaria de Urbanismo e Licenciamento da gestão Nunes, por indicação do governador Tarcísio de Freitas, no começo do ano. Mas o deputado declinou do convite, dizendo que preferia “trabalhar para a campanha do candidato escolhido pela direita” na disputa pela Prefeitura da capital.
Nos bastidores da Prefeitura, a relutância dele em assumir posto indicado pelo governador não pegou bem, e alguns dos auxiliares mais próximos de Nunes acham que as chances do deputado conseguir a indicação para vice era perto de nula antes dessa viagem. Para pessoas próximas a Bolsonaro, essa probabilidade é “zero”.
Aliados de Tarcísio, que terá enorme influência na indicação do vice de Nunes, também não têm simpatia pelo deputado, que é ex-coordenador do movimento Nas Ruas, grupo de onde saiu a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP). Na lista de cotados para a vaga entre os bolsonaristas estão o Coronel Ricardo Mello Araújo, ex-presidente da Ceagesp, e a vereadora Sonaira Fernandes (Republicanos), ex-secretária da Mulher na gestão Tarcísio.
O Metrópoles tentou contato com Tomé Abduch nessa quinta-feira para comentar a viagem ao Vaticano, mas ele não retornou até a publicação desta reportagem. O espaço segue aberto para manifestação.