O presidente da Frente Parlamentar Brasil-China, deputado Fausto Pinato (PP-SP), afirmou, em entrevista ao Metrópoles, que a viagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao país asiático simboliza um “alívio” nas relações diplomáticas do Estado brasileiro com os principais parceiros comerciais. “É a retomada da estabilidade e da racionalidade”, resumiu o parlamentar.
Lula deve desembarcar na China em 28 de março para uma agenda de três a quatro dias. A expectativa é de que o petista aborde, nos encontros com as autoridades chinesas, programas de modernização de cooperação tecnológica para a produção de satélites de observação da Terra. As informações foram antecipadas pelo colunista Igor Gadelha.
Para Pinato, a agenda de Lula também terá o agronegócio e a indústria sustentável entre as pautas. “Podemos ir muito além, a China possui capacidade de investimento estruturante para auxiliar o Brasil. A China estará empenhada nas pautas climáticas, os grandes líderes mundiais sabem que a manutenção da humanidade depende disso”, defendeu.
O deputado entende que a China será mais um aliado do Brasil na preservação da Amazônia. Espera-se que o mandatário do país tente atrair os chineses para políticas de financiamento da recuperação da região.
“A China será com certeza um grande aliado nessa empreitada. O Brasil precisa tornar o agronegócio e a mineração um modelo de negócio rentável financeiramente, porém sustentável e defendendo o equilíbrio do meio-ambiente. Dá para fazer isso sem prejudicar o avanço, desde que responsável, do agro. Chegou o momento de separar o joio do trigo”, completou.
Relação estremecidaPinato criticou a política diplomática do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Segundo o deputado, o Brasil “caminhava para o isolamento diplomático, não só em relação à China”.
“Tenho conversado com vários embaixadores estratégicos e todos estavam muito assustados com a postura ideológica e extremista do governo Bolsonaro. A grande maioria dos embaixadores querem estreitar a relação com o Brasil e enxergam na figura do presidente Lula um estadista, não uma pessoa com espírito totalitário. Estão muito otimistas, percebe-se um grande alívio”, prosseguiu.
A relação entre brasileiros e chineses por vezes se viu estremecida, todas as vezes após ataques unilaterais do mandatário brasileiro. Nem a boa relação econômica cultivada pelos países desde antes de 2009, quando a China se tornou o principal parceiro do Estado brasileiro, foi suficiente para colocar panos quentes no discurso ideológico do ex-presidente e integrantes de seu governo.
Bolsonaro se viu imerso em polêmicas recorrentes com os chineses desde que havia assumido o mandato. Um dos episódios mais simbólicos da rixa ideológica do ex-presidente ocorreu após visita dele a Taiwan, que é considerada uma “província rebelde”.
Em outros momentos, coube ao filho do ex-presidente e deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), inflamar a relação. O parlamentar criticou o interesse em empresas chinesas de participarem das negociações pela implementação da tecnologia 5G no Brasil. Na oportunidade, afirmou que o país buscava “aliança global para um 5G seguro, sem espionagem da China”.
Outro atrito ocorreu durante a pandemia da Covid-19, quando Bolsonaro sugeriu, sem qualquer comprovação científica, que o novo coronavírus seria uma criação chinesa para alimentar uma “guerra biológica” e que a informação era de conhecimento dos “militares”.
Discurso alinhadoA análise de Pinato sobre a importância de Lula no cenário internacional encontra eco entre integrantes do governo federal. Na sexta (17/2), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que Lula terá a oportunidade de ampliar laços com importantes aliados econômicos durante o G20, em 2024, que será presidido pelo Brasil.
O petista anunciou uma viagem programada para a Índia, onde ocorrerá a 1ª Reunião de Ministros de Finanças e Governadores de Bancos Centrais, a fim de “preparar terreno” para a gestão brasileira do grupo formado pelos ministros de finanças e chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo, além da União Europeia.
“Vai ser muito importante, porque o presidente Lula é uma autoridade mundial, uma pessoa muito respeitada pelos seus oito anos de governo e, por isso, a sua liderança vai ser muito importante para endereçar assuntos de interesse nacional e internacional na presidência do G20”, afirmou Haddad, na ocasião.
O Brasil na presidência do G20 organizará dezenas de reuniões ministeriais envolvendo os mais diversos temas, que incluem desde macroeconomia, finanças, agricultura, energia, meio ambiente, transformação digital, comércio, investimentos, até indústria e saúde.
Assim como Pinato, Haddad também defendeu a imagem de um Brasil “isolado” dos demais países na gestão bolsonarista. “Nossa economia foi muito isolada. Acho que o mundo está celebrando o fato de que o Brasil voltou à mesa de negociação em busca de democracia, paz, combate à fome e prosperidade com justiça social”, defendeu.