InícioEditorialPreta, baiana e global: Amor Perfeito tem tudo para ser um novo...

Preta, baiana e global: Amor Perfeito tem tudo para ser um novo marco na teledramaturgia

Beije sua preta em praça pública; respeitem meus cabelos, brancos!; representatividade importa; onde estão os pretos na televisão? Todas essas afirmações e questionamentos balizaram e balizam pautas do movimento negro ao longo dos anos. Se ver em locais de destaque e poder é importante para construir autoestima e se sentir pertencente. A televisão é um desses espaços, mas, ao longo do tempo, pessoas negras estiveram colocadas em locais de subalternidade nas novelas: o motorista, o bandido, a empregada, o cômico, o secundário.

Em Amor Perfeito, novela que estreia nesta segunda (20) para substituir Mar do Sertão, há uma grande possibilidade de se construir um marco para a TV brasileira por conta da quantidade de pessoas pretas que aparecem nos mais diversos papéis. Parte dessa história tem o dedo do baiano Elísio Lopes Jr, que estreia na teledramaturgia e é um dos nomes que assina a nova produção global. Além de Elísio, a autoria também tem participação de Duca Rachid e Julio Fischer.

A novela se passa entre as décadas de 1930 e 1940, retratando uma elite negra que foi apagada dos registros oficiais. A trama é ambientada na fictícia cidade de Águas de São Jacinto, onde personagens pretos ocupam lugar de destaque na sociedade, como médicos, promotores e empresários. Segundo a rede Globo, metade do elenco é composta por atores pretos.

“Eu quero, desejo e almejo poder construir na teledramaturgia personagens que beijam, que amam, que são felizes, que têm objetivos próprios, que são vilões, mocinhos, pobres e ricos, com sua existência humana, humanizados, com alma. Se o racismo, que faz parte da história do nosso país e que atravessa a nossa existência, tiver sentido e passar ali, na vida do personagem, ele vai ser retratado”, diz Elísio.

A história narra o encontro entre Maria Elisa Rubião, a Marê (Camila Queiroz), moça rica, estudante de Administração e Finanças, e o jovem médico Orlando (Diogo Almeida), que se apaixonam assim que se conhecem.

Noiva de Gaspar (Thiago Lacerda), filho mais velho do prefeito Anselmo (Paulo Betti) e da primeira-dama Cândida (Zezé Polessa), Marê vai contrariar os desejos do pai, o empresário Leonel Rubião (Paulo Gorgulho), para viver esse amor por Orlando. A morte trágica do pai, assassinado pela madrasta Gilda (Mariana Ximenes) e a ação da vilã para culpá-la faz com que Maria Elisa seja presa injustamente. O que ela não imaginava é que, naquela altura, já estava grávida de Orlando. Desiludido e enganado, o médico vai embora do país ao descobrir um segredo do passado que envolve as famílias dos jovens e certo de que Marê não se importa mais com ele.

Condenada injustamente, ela decide fugir com duas companheiras de cela e dá à luz Angelo. Para fugir do cerco da madrasta, ela pede a uma delas que entregue o menino a Olímpia (Analu Prestes), mas o destino lhe prega uma peça e o bebê acaba sendo deixado na porta da igreja de São Jacinto e sendo criado pelos padres, que lhes dão o nome de Marcelino (Levi Asaf).

Oito anos depois, Marê sai da cadeia e Orlando, que nunca a esqueceu, volta ao Brasil decidido a reconquistá-la. Ela lhe comunica que eles são pais de um menino que desapareceu, e os dois se unem em busca do herdeiro, que está bem ali, do ladinho deles.

Com esse enredo e elenco, Elísio acredita que é possível mostrar o racismo pelos olhos de quem vê, com suas brutalidades e sutilezas – igualmente macabras – em um ambiente como o início do horário nobre da maior emissora de TV brasileira.

“Num país como o Brasil, onde o maior produto de entretenimento que entra na casa das pessoas diariamente, que forma opinião, forma estética, forma aceitação e negação, que é a novela, é muito feio se você não encara esse desafio de colocar narrativas responsáveis diariamente da casa das pessoas”, pondera Lopes.

Protagonista na trama, Diogo Almeida recorda que, quando criança, nos anos 1990, não tinha exemplo de papéis como o que ele vai interpretar em Amor Pefeito. “Mesmo assim, acreditava e sonhava estar onde estou hoje. Esse é um momento muito importante e significativo para o povo preto”, diz. 

Ele também explica que é importante a presença de homens e mulheres pretas por trás das câmeras, nos bastidores das gravações, na preparação e na escrita do texto que é interpretado pelo elenco.

Baianinho de Juá
Uma das atrações da novela tem 9 anos e nasceu em Juazeiro, no norte do Estado. É o ator-mirim Levi Asaf, que dá vida ao pequeno Marcelino na novela das 18h e é o xodó do elenco nos bastidores, arrancando elogios de nomes como Camila Queiroz e Babu Santana, que crava: “dá vontade de levar esse menino pra casa”.

(Paulo Belote/Divulgação/TV Globo)

Ele começou a atuar aos 5 anos e não parou mais. O interesse pelas artes cênicas foi percebido pelos pais, quando Levi criava filmes com seus bonecos e interpretava todos os personagens.

Levi Asaf foi o primeiro jovem ator negro a interpretar o Pequeno Príncipe na montagem paulista O Pequeno Príncipe, o Musical, de 2022, de Fernanda Chamma, que reabriu o Teatro Villa-Lobos em São Paulo.

Você sabia que o Itamaraju Notícias está no Facebook, Instagram, Telegram, TikTok, Twitter e no Whatsapp? Siga-nos por lá.

Últimas notícias

Chuva no RS: Rio Guaíba ultrapassa cota de inundação, e água invade o Cais Mauá

O Rio Guaíba, em Porto Alegre, ultrapassou na tarde desta quinta-feira (2) a cota...

STF define regras e decide que MP precisa de autorização da Justiça para prorogar investigações

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, nesta quinta-feira (2) regras para delimitas a atuação...

Brasil se torna livre de febre aftosa sem vacinação, informa governo

O governo federal informou nesta quinta-feira (2) que o Brasil se tornou um país...

Governo mantém “Enem dos Concursos” no RS mesmo com calamidade

Estado tem 80.348 inscritos na prova; das 228 cidades em que será aplicada no...

Mais para você