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Racismo: até quando?

O grave e preocupante problema do racismo no futebol veio à tona novamente, ocupando grande parte da mídia, devido ao caso ocorrido na Espanha, atingindo duramente o jogador brasileiro Vinícius Júnior (Vini), vítima também de outras manifestações. Infelizmente, o racismo persiste no cenário contemporâneo, causando dor e indignação na vida de inúmeras pessoas e de suas famílias, deixando feridas abertas e cicatrizes profundas.

Uma sociedade, de fato democrática, não pode tolerar manifestações racistas, seja nas arenas dos esportes, seja nos campos da vida. Embora atingindo também outros grupos sociais, o preconceito racial e étnico atinge, sobretudo, a população negra. Passos significativos e portadores de esperança têm sido dados na legislação civil para a superação desta chaga social, principalmente através da penalização dos infratores. Mas o caminho a percorrer é longo para a sua erradicação, exigindo sempre mais efetividade na aplicação da justiça, mas também no âmbito da prevenção, através de uma nova cultura fundamentada na dignidade inviolável de cada pessoa, no respeito às diversas culturas e raças, na convivência fraterna e pacífica. 

Os poderes públicos têm muito a fazer no combate ao racismo, mas é preciso um esforço permanente e incansável envolvendo a sociedade civil organizada, as escolas, as universidades e as diversas confissões religiosas, dentre outros. Além disso, cada um pode contribuir muito para a superação do preconceito racial nos ambientes em que vive, jamais justificando ou reproduzindo atitudes preconceituosas. A resposta à pergunta “até quando” depende também de cada um de nós. Não se pode perder a capacidade de indignação ética diante de manifestações racistas. O desrespeito e a banalização da vida, com as suas várias expressões, não podem ser incorporados ao cotidiano como algo tolerável ou inevitável.

O racismo é sempre desumano e desumanizador; representa uma grave ofensa ao Criador e a negação do amor ao próximo ensinado por Jesus. A dignidade está inerente à condição de ser humano; não ocorre por concessão de alguma pessoa ou instituição social. É um dado antropológico a ser reconhecido e tutelado pelas instituições sociais, que não podem jamais ignorá-la ou permitir a sua violação. O não reconhecimento da real dignidade de cada pessoa, por diversos motivos, como a cor da pele, a cultura, a religião ou a condição social, gera desrespeito, discriminação, violações à vida e aos seus direitos fundamentais. 

O ser humano, “imagem e semelhança” de Deus, possui uma dignidade incomparável, a ser reconhecida em qualquer condição ou situação. Entretanto, as pessoas ou grupos mais vulneráveis, as vítimas de injustiças e preconceitos, necessitam de maior atenção e solidariedade. Que o caso de racismo no futebol nos leve a estar vigilantes e comprometidos com a superação dos preconceitos e da intolerância nas arenas da vida.

D. Sergio da Rocha é  cardeal arcebispo de Salvador

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