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Como disse recentemente José Genoino, presidente nacional do PT, a propósito de um assunto qualquer, “uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”.
Uma coisa é o bom momento que o governo parece atravessar: multiplicam-se os indicadores de que a economia retomou o crescimento; nada existe na agenda de votação do Congresso capaz de criar embaraços nos próximos meses; os todo-poderosos ministros Antonio Palocci e José Dirceu afinaram o discurso; e ficou para o fim do ano ou começo do próximo uma possível nova reforma do ministério. Destaque-se, também, a contenção de Lula que tem derrapado menos nos seus improvisos. Ou tem improvisado menos.
Bem, isso tudo é uma coisa. A outra coisa é: os responsáveis pela grana dentro do governo economizam mais do que o previsto e seus colegas se queixam de falta de grana para tocar o mínimo em suas respectivas áreas; no âmbito do governo e mesmo em sua periferia, não existe nenhuma discussão sobre como driblar as armadilhas da política econômica herdada de Fernando Henrique Cardoso e sua turma; José Dirceu espera passarem as eleições municipais para decidir o que fará da vida – se fica ou se sai do governo; e o PT está às vésperas de colher algumas derrotas eleitorais comprometedoras. Se elas de fato ocorrerem, serão debitadas à política de Palocci. E aumentarão as pressões para mudá-la.
O ministro da Fazenda está na dele com o aval de Lula. O ministro da Casa Civil não está na dele – primeiro porque perdeu força dentro do governo e não conseguiu recuperá-la; segundo porque tem tantas atribuições que não consegue dar conta de todas elas; terceiro porque virou uma espécie de gerente administrativo do governo quando gostaria de ser seu coordenador político; e quarto porque continua sendo contra a política de Palocci, mas não vê sinais de que ela será alterada.
Há mais oposição à política econômica na Esplanada dos Ministérios do que pode sugerir a falsa calmaria que por lá impera.
Até assessores de maior confiança do presidente, como é o caso de Frei Beto, já disseram a ele com lealdade que se preparam para ir embora tão logo passem as eleições. A todos, Lula pede paciência, paciência, paciência. É mais para o público interno do que para o externo que Lula pede confiança.
É improvável que possíveis maus resultados colhidos pelo PT nas eleições municipais sejam capazes de enfraquecer Palocci ou de fazê-lo admitir uma correção de rota na sua política. Pelo contrário: nesse caso, Lula se verá tentado a se inclinar ainda mais para a direita na suposição de que agindo assim evitará o fortalecimento dos seus adversários – leia-se PSDB e PFL, principalmente o primeiro.
Em resumo: para o bem ou para o mal, salvo algum fato extraordinário, o governo Lula se arrastará até 2006 mais ou menos do jeito que está e que é hoje.