Aos 31 anos, Ricardo Goulart decidiu colocar um fim na carreira de jogador. Nesta segunda-feira (24), pouco antes do duelo entre Bahia e Botafogo, o meia-atacante concedeu a sua última entrevista e explicou os motivos para a decisão. Na Fonte Nova, ele afirmou que já vinha amadurecendo a ideia e agradeceu ao Bahia pela relação construída nos últimos meses.
“Juntamente com a minha família [tomei a decisão de parar]. Para muitos, com 31 anos ainda tem muita lenha para queimar, mas o futebol te exige ao extremo. Eu saio grato, foi uma decisão muito bem pensada, conduzi da melhor forma. Não é porque eu encerrei esse ciclo que vou parar no tempo. Vou continuar no futebol. Olhando o meu histórico eu saio feliz ainda”, afirmou ele, antes de continuar:
“Eu sou um profissional que faço autocrítica. Na minha carreira toda foi assim. No ano passado conseguimos conquistar o acesso, esse ano conquistamos o Baiano. Mas nos últimos jogos eu estava me cobrando os meus números e na vida temos que saber nos retirar. Não foi por falta de dedicação. Mas temos que ter a sabedoria de ser grato na vida”.
Questionado sobre os planos pós-aposentadoria, Ricardo Goulart afirmou que vai continuar ligado ao futebol, mas não deu detalhes sobre a área. Ele foi questionado sobre o possível interesse em comprar a SAF do Santa Cruz, juntamente com o seu representante, Paulo Pitombeira, e o presidente do Bahia, Guilherme Bellintani. Não negou, mas despistou.
“Um dos motivos, não foi repentino. Venho trabalhando nisso, tenho um grupo fora do futebol e a gente está pensando em alguns projetos, mas as coisas precisam ser com um pouco mais de calma, deixar a realidade vir à tona, ainda não caiu a ficha. É trabalhar o mental, com o apoio da minha família. Mas se inicia um novo ciclo que eu estou disposto a aceitar”, iniciou Goulart.
“Tenho que curtir essa aposentadoria, o pessoal já me colocar para fazer uma compra… Tenho que dar uma olhada no saldo (risos). Mas são dois seres humanos incríveis, conheci Guilherme [Bellintani] no ano passado, juntamente com o meu amigo Paulo Pitombeira, as pessoas que têm acesso a mim. Ele tem mostrado muito apoio, sabe que não é fácil se aposentar, mas eles me deixaram bem à vontade. Acho que esses primeiros dias são para curtir, esclarecer ideias, escutar projetos. Mas se a coisa for boa eu vou fazer um bom negócio”, completou.
A carreira de Goulart foi marcada por conquistas. Revelado no Santo André-SP, ele passou por Internacional e Goiás antes de brilhar com a camisa do Cruzeiro. No clube mineiro, conquistou o bicampeonato do Brasileirão (2013 e 2014) e um Campeonato Mineiro.
O sucesso foi tanto que rompeu os limites do futebol brasileiro. Os sete anos no futebol chinês renderam ao meia-atacante a naturalização no país asiático, que transformou Goulart em Gao Late, nome adotado na China. Ao lembrar da infância e início no futebol, o agora ex-jogador se emocionou.
“Falaria para ele que foi um ótimo profissional, dedicado, respeitado, foi um menino que saiu com os pés descalços e pisou em grandes estádios. Me deu a oportunidade de conhecer novos lugares, formar uma família e dar uma condição boa aos meus filhos. Falar que aquele menino com os pés descalços sempre sorriu, foi humilde e humano. Falaria para ele sempre ser grato ao futebol, que ele foi feliz nesses 15 anos de carreira”, disse, em um exercício de dizer algo do Goulart atual para o adolescente que ele era quando tentava se tornar jogador profissional.
Fim no tricolor
Quis o destino que o último passo da carreira de Goulart tenha sido com a camisa do Esquadrão. Ele chegou ao clube no ano passado em meio à disputa da Série B e foi peça importante no acesso, ainda que a condição física não fosse das melhores.
O desempenho valeu a renovação para a atual temporada. Ricardo Goulart encarou a mudança de posição, se consolidando como centroavante na disputa com Everaldo pelo posto de titular. Foram três gols em 16 jogos e o título de campeão baiano, o 50º na história do tricolor – maior vencedor disparado do estadual.
“Eu levo o relacionamento com as pessoas. Eu acho que, nos clubes por onde passei, não teve nenhuma falta de respeito. Tenho amizade com ex-jogadores mais velhos que eu. A gente se fala, conta história. Agora vou viver desse lado. Escolhi o Bahia para me aposentar, sou uma pessoa de grupo, leve. Onde entro quero sair da melhor forma. Estou sendo homem. Estou me aposentando muito feliz, grato pelo Bahia me estender a mão quando mais precisava. Saio com a imagem de um troféu levantado. Isso não tem preço”, finalizou.