O Rio de Janeiro ficou mais de um ano sem Secretário de Segurança Pública. O governador Cláudio Castro (PL) achava desnecessário. Quando aparentemente não dava mais, ele nomeou um secretário indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Deu no quê? No que se viu, no que se vê, dia sim e o outro também.
A não ser quando o Estado oficial, em datas festivas ou ocasiões especiais, pede arrego ao Estado paralelo sob o comando do crime organizado. Então, a violência arrefece para não atrapalhar os negócios nas duas pontas. Invariavelmente é assim no Natal, Ano Novo, carnaval, visitas de Papa e convenções internacionais.
Afinal, é preciso manter as aparências e não matar a profícua galinha que insiste em pôr os ovos de ouro que alimentam a casta e distraem o povaréu. Há um pacto silencioso nesse sentido, que dispensa acordos por escrito entre as autoridades formais e as informais, e um imbricamento cada vez maior dos dois Estados.
A obra de arte estará completa quando ao invés de dois Estados só existir um. Há sete anos, o Ministério da Defesa do governo Michel Temer calculou que cerca de 3,5 milhões de cariocas viviam em áreas sob absoluto controle do tráfico de drogas. Ali, a Constituição tal qual a conhecemos não passa de letra morta,
“O Rio não é lugar de baderna”, proclamou Castro na última quarta-feira depois que torcedores do Penãrol aterrorizaram parte da Zona Oeste da cidade à luz do dia, saqueando lojas e atacando moradores. A selvageria e o vandalismo duraram quase uma hora, até que a Polícia Militar se dignasse a aparecer por lá.
Na quinta-feira, por cerca de duas horas, um tiroteio interditou a Avenida Brasil. Para escapar das balas, homens, mulheres e crianças foram obrigados a rastejar. Três foram mortos. Castro calou-se por 12 horas. Ao abrir a boca, culpou o Supremo Tribunal Federal e o governo federal pelo que chamou de ato de terrorismo:
– Infelizmente, tivemos uma reação por parte do tráfico muito desproporcional.
A crise da segurança no Rio decorre basicamente da crise de autoridade. Castro não manda mais nada. Seu vice o abandonou. O candidato que ele apoiou para prefeito classificou sua gestão como “medíocre”. Para sustentar-se no cargo, ele loteou delegacias e batalhões entre deputados estaduais e federais.
A cidade maravilhosa sobrevive em marcha de carnaval e em desfile de escola de samba.