São Paulo — Liderada por Anderson Ricardo de Menezes, o Bando do Magrelo, apelido de Anderson, movimenta milhões de reais e trava uma disputa pelo tráfico de drogas com o Primeiro Comando da Capital (PCC), causando terror na região de Rio Claro, no interior de São Paulo.
Para tentar fazer frente à maior facção do país, o Bando do Magrelo se destaca por ações extremamente violentas. Magrelo, que se intitulava o “novo Marcola”, é suspeito de ordenar a execução de pelo menos 30 integrantes do PCC.
O antigo braço direito do líder, Murilo Batista Prado, de 25 anos, era responsável por levar, de carro, os assassinos até os locais das execuções. Ele, junto ao Magrelo, também transportava cargas de drogas do Paraguai até Rio Claro.
Mortes, tráfico e “caguetagem”
Dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP) apontam que, em 2020, 21 pessoas foram assassinadas na cidade. O número praticamente dobrou no ano seguinte, aumento atribuído à atuação do Bando do Magrelo.
Além dos homicídios e narcotráfico, o Bonde do Magrelo informava a polícia, de forma anônima, sobre reuniões e atividades envolvendo o tráfico de drogas dos rivais, “eliminando a concorrência”, por meio da “caguetagem”, ou seja, delatando o PCC.
Em uma denúncia obtida pelo Metrópoles, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), órgão do Ministério Público de São Paulo (MPSP), afirmou que as execuções promovidas pela quadrilha, em via pública, com disparos de fuzil em plena a luz do dia, “colocam tristes holofotes na cidade”.
Raio de ação
O Gaeco identificou, a partir de mensagens trocadas entre a quadrilha, que o bando comercializa drogas com ao menos oito cidades.
Os diálogos foram acessados após a apreensão do celular de Rogério Rodrigo Graff de Oliveira, o Apertadinho. Ele também está preso, sob a suspeita de participação no de um empresário em São Pedro, em junho de 2022.
De acordo com as conversas no celular, o bando de Magrelo mantém contatos comerciais para a venda de drogas, em Louveira, Pirassununga, Leme, Americana, Sumaré, São Carlos e Jundiaí, todas no interior paulista.
“Bando não é facção”
Em entrevista dada à reportagem em maio do ano passado, a desembargadora Ivana David, do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), afirmou que a quadrilha ainda não tem tamanho para ser considerada uma facção:
“Esse bando não é uma facção, ainda não tem tamanho para isso. São oito denunciados, que se opõem ao PCC naquela região, brigando por território. Esse ‘Patrão’ compra droga que vem do Paraguai e quer ter o poder de vender em a toda região de Rio Claro, que é rica.”
À época, a Promotoria destacou em uma denúncia que algumas das vítimas do bando de Magrelo estavam envolvidas com o tráfico de drogas.
“A consequência de quem ousa contrariar as determinações de Anderson Ricardo é uma só: a morte!”, afirma o MPSP na denúncia.
Racha no bando
Magrelo foi preso em 23 de maio do ano passado, usando documento falso na cidade de Borborema, a cerca de 210 km de distância de Rio Claro e a quase 380 km da capital paulista.
Seis dias antes, ele fugiu da polícia por um buraco no muro da mansão em que morava, em Ipeúna, no interior paulista, durante uma operação conjunta do Gaeco e da PM.
A ida de Magrelo para o sistema carcerário, no entanto, gerou um racha no bando e insuflou a ganância de antigos aliados. Em especial, de Murilo Batista Prado, de 25 anos, segundo relatório policial obtido pelo Metrópoles.
O jovem se apresenta como empresário e desfez a parceria com o Magrelo após um desentendimento.
Com o líder ainda preso, Murilo se mostrou disposto a tomar o lugar do Magrelo no controle do tráfico de drogas da região, o que resultou em uma onda de assassinatos na região. A briga entre os dois deixou cinco mortes “oficiais” de junho até os dias atuais.
A Polícia Civil investiga se Murilo é uma das duas vítimas encontradas carbonizadas dentro de um carro, há cerca de dois meses em, uma área rural de Ipeúna, no interior Paulista.