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Saiba por que as mulheres sofrem mais com dor de cabeça do que os homens

Uma dor latejante e aguda, localizada só de um lado cabeça; o menor sinal de luz se torna insuportável; qualquer barulho tira a pessoa do sério; enjoo a ponto de provocar vômitos. Se você se identificou com a descrição desses sintomas, é porque, muito provavelmente, você é uma das vítimas da enxaqueca, um dos tipos mais comuns de cefaleia, conhecida comumente como dor de cabeça. Além da enxaqueca, há um  outro tipo mais frequente de dor de cabeça, que é a cefaleia tensional.

A administradora de empresas Marjorie Alcântara, de 51 anos, foi diagnosticada com enxaqueca aos 13. Na época, a doença era fácil de ser controlada, mas, à medida que os anos passavam, a dor se acentuava, até que o problema se tornou crônico, quando ela tinha 19 anos. E, segundo Marjorie, o uso excessivo de remédios na adolescência pode ter piorado a enxaqueca. “Hoje, é bem pior que naquela época. Antes, eu vomitava e melhorava. Hoje, não. E durante um tempo, fiquei dependente de analgésico”, revela a administradora.

A neurologista Maria Clara Clara Carvalho, da rede Mater Dei, confirma que o abuso de analgésico aumenta o risco de desenvolver cefaleia. “Se você sente necessidade de usar analgésicos mais de três vezes por mês, deve procurar um médico”, alerta a neurologista, que tem pós-graduação em dor. Marjorie lembra que, quando procurou um neurologista, cerca de três anos depois das primeiras crises, precisou passar por uma desintoxicação e ficou três meses sem usar medicamento. Quando a dor persistiu, ela chegou a ser internada para tomar corticoide.

Segundo Maria Clara, é muito comum as pessoas atribuírem a dor de cabeça a outros fatores, como uso de bebida alcoólica, uma crise de estresse ou a um determinado alimento. Mas a médica observa que a cefaleia pode ser de origem primária, ou seja, aconteceria independentemente de outros fatores. Para estimular as pessoas a tratarem o problema, a Sociedade Brasileira de Cefaleia criou uma campanha divulgando que, se alguém sente dor de cabeça por três ou mais vezes em um mês, deve marcar uma consulta com um especialista.

Mulheres sofrem mais

A enxaqueca, em média, vitima três vezes mais as mulheres que os homens. Embora possa ocorrer em qualquer época, é muito comum que seja especialmente no período menstrual – por causa da queda de produção do estrogênio – e costuma durar em média 72 horas.

As causas da enxaqueca podem variar de acordo com o paciente e muitas vezes há uma predisposição genética para desenvolvê-la. A alimentação também pode contribuir para a sua ocorrência. “O leite animal pode provocar enxaqueca em algumas pessoas, inclusive os derivados do leite. Por isso, manteiga e chocolate também podem aumentar a chance de desenvolver a doença. Mas há pacientes, raros, que sentem dor de cabeça por causa de laranja”, revela Ítalo Almeida, neurologista adepto da medicina integrativa há 18 anos.

No caso de Marjorie, por exemplo, a cefaleia pode ser desencadeada por dois alimentos: maracujá e manjericão. O alho em excesso também pode desencadear a dor. Ela chegou à conclusão depois que começou a observar com mais atenção a relação entre a dor e a alimentação. Por outro lado, a cefaleia dela não tem relação com o ciclo menstrual.

A médica Sonia Sales tem 54 anos e sofre com dores de cabeça desde os 16. Ela diz que a principal causa, em seu caso, é o estresse. “Varia de acordo com a fase da vida e noto que há uma relação com a ansiedade e o estresse”, afirma a médica. Segundo os neurologistas que consultou, ela sofre de cefaleia tensional, embora ela mesma costume afirmar que tem enxaqueca.

Sonia já recorreu ao tratamento preventivo, mas não obteve resultados. “Dizem que o preventivo ajuda a diminuir as crises e que esse já seria um bom resultado. Mas quem tem enxaqueca quer se livrar de uma vez!”, queixa-se. Sonia diz que já fez uso simultâneo de três medicamentos, mas, nem assim, obteve sucesso no tratamento.

Agora, a médica está recorrendo à meditação e frequenta um curso que ensina a prática. Normalmente, medita cinco minutos por dia, ao acordar. Ela diz que centrar-se na respiração também ajudou a ter melhoras. Além da meditação, ela tem ficado atenta à alimentação e pratica atividade física regularmente. Atualmente, só recorre à medicação em caso de dor. E a dor de cabeça, que costumava durar até três dias, hoje costuma durar 24 horas.

Dor de cabeça tensional

A cefaleia tensional é mais comum, mas, segundo Maria Clara Carvalho, não é a que mais motiva a ida ao neurologista, pois é a enxaqueca que causa danos à rotina dos pacientes, como irritabilidade, e dificuldade ou impossibilidade de trabalhar. A dor de cabeça tensional pode durar até sete dias e se manifesta na região frontal ou occipital (a parte de trás do crânio). Costuma ocorrer no fim do dia e não apresenta os sinais da enxaqueca, como sensibilidade à luz e náuseas. Suas causas mais comuns são tensão muscular e estresse.

“Nesse tipo de cefaleia, a dor é mais leve que na enxaqueca. Costuma responder ao analgésico comum e é muito frequente. Provavelmente, 100% da população vai sofrer dela em algum momento da vida”, assegura Jamari Oliveira Filho, neurologista e professor titular da Ufba. O médico afirma que o paciente deve ficar atento se a dor está associada a outros sintomas neurológicos, perda de sensibilidade ou a alguma paralisia, pois, neste caso, pode estar associada a alguma doença mais grave.

E há situações em que é necessário buscar imediatamente uma emergência, alerta Jamari: “Se a dor já começa muito forte, pode ser um sinal de aneurisma. Se você está bem e, de repente, a dor vem com força, tome logo uma providência”. Neste caso, a dor de cabeça pode ser secundária, ou seja, um indicativo de outra doença, que pode ser identificada em exames laboratoriais.

A enxaqueca não tem cura, mas há tratamento para a doença. Uma das possibilidades é recorrer à medicina integrativa, que trabalha com controle de estresse, exercício físico, disciplina do sono e nutrição adequada. “Tudo isso influencia no nosso corpo. A medicina integrativa se dedica a saber o  que faz bem para o corpo como um todo”, diz Ítalo Almeida.

O neurologista diz, no entanto, que essa especialidade não rejeita o uso de medicamentos, mas, em seu consultório, costuma não haver necessidade de recorrer à química. “Há métodos importantes de controle de estresse, como reiki [técnica japonesa]; neurometria [realiza a análise funcional do sistema nervoso] e até a hipnose”, sugere Ítalo. O médico faz ainda uma importante recomendação: hidratar-se com frequência, com água à temperatura ambiente.

Maria Clara ressalta o uso de recursos poucos lembrados para combater a cefaleia: toxina botulínica (conhecida como Botox) e anticorpos monoclonais. O primeiro deve ser aplicado em pontos específicos da cabeça por um especialista. Os anticorpos podem ser comprados em farmácia e são de aplicação subcutânea. O paciente pode aplicar em casa, desde que esteja instruído por um médico.

Jamari dá sugestões para evitar a dor de cabeça tensional: “Ela costuma ser causada por fatores externos, como postura inadequada e hérnia discal. O uso frequente do celular também pode desencadear este tipo de dor, porque as pessoas costumam usá-lo com a cabeça inclinada pra frente. Então, recomenda-se usar as redes sociais no computador, em vez de no celular”.

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