Queridas leitoras, incluindo tia Elzinha, prezados leitores, fluminenses ou não. Cabe a quem verdadeiramente ama com ardor esta pátria mamada trabalhar incessantemente para reduzir o contingente de energúmenos, biltres e boçais.
Não há como fazer deste gado um grande país se a canalha travar o di-álogo – troca de razões a dois -, como Platão nos legou em 35 sementes a frutificar no pensamento.
Diante do pressuposto, esta coluna publica, imprime e determina ao vacilante governo federal implementar o novíssimo ensino médio, ora promulgado, tendo a filosofia como mãe (de fato é); seu filho adotivo, o futebol, conduz a didática.
Livres da influência peçonhenta de um coordenador desqualificado (revelado no governo fascista!), recuperamos as ciências sociais, a história e a geografia de meu irmão da vida, professor titular Luiz Cláudio Requião.
A título de rascunho do nosso primeiro projeto de investigação pedagógica, vamos estudar o Fluminense de Salvador com ajuda de Ubiratan Brito. Sem passado, não se ganha, nem se empata, precisamos conhecer nossa história.
Éramos uns meninos amarelos de playground, quando estourou o levante popular da bola. Os ex-escravizados ficavam vendo os jogos ao redor dos campos da Pólvora ou do Rio Vermelho. Quando a bola saía, iam pegar.
Demoravam de devolver, ficavam batendo pontinho, curtindo o brinquedo. Belo dia, se retaram. Clonaram o clube pioneiro e aristocrático do Rio. Mamãe Salvador pariu um Fluminense preto e pobre. E muito feio para o padrão da elite.
O bebê de Anisio Silva nasceu em 1905, muito, muito antes de Frantz Fanon virar modinha, o Ilê Aiyê cultuar a beleza negra e o Olodum tocar com ‘Maicon’ Jackson.
Não é difícil imaginar jogadores suspeitos, informais e clandestinos, tidos como vadios e desordeiros, escalando paredes para escapar da polícia de costumes: jogar bola era tão crime quanto candomblé e samba de roda…
Correr dos homens era método de preparação física do campeão de Salvador em 1913, quando o Flu foi, enfim, aceito, e 1915, além de vice seis vezes, tornando-se o primeiro team popular, embora o Ypiranga ficasse com os louros.
Para isso serve produzir conhecimento: livrai-nos, Atena, da preguiça opinativa… o escorado das ideias adora dizer: “cada qual tem sua opinião…”. Fobia, quase pânico de desenvolver a capacidade de pensar! Memória e verdade são unidas…
Podemos voar alto, coragem, animais humanos, temos o poder da inteligência! Nesta primeira lição, é preciso dizer também do encontro do deus do futebol baiano, Popó, e o Fluminense.
Popó era tão retado a ponto de ter jogado em todas as posições desde os 14 anos. Sem transferir “15 pau” pra conta de boquirroto, muito menos tomar 800 mil a Talisca, fez seu nome honestamente, pelo talento dos pés pretos.
O kosmo seria desordenado se Popó não jogasse no Fluminense, tendo por auge um 6×0 no meu vitorinha, ao fazer o gol fecha-caixão, diante de Octávio Mangabeira, barrado pela parceria etílica no nome da atual Fonte Nova.
Vamos, galera, cumprir o decreto do nosso novíssimo ensino médio, evitando criar uma geração de craques em bolo de pote, esta deliciosa arte, mas até para fazer um reles bolo de pote, o sabor vem da filosofia… e do futebol…
Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade.