Varal de bandeirinhas, vestidos de chita, chapéus de palha, estampa xadrez e comida a base de milho e amendoim são elementos que não podem faltar nas tradicionais festas de São João que acontecem em todo o País no mês de junho, especialmente no Nordeste. Mas não foi isso que ganhou destaque na campanha junina lançada pela Farm. A marca de roupas está recebendo uma série de críticas pela produção que mistura elementos carnavalescos e até circenses.
“A Farm precisa visitar o São João de Caruaru (PE) e o de Campina Grande (PB) para entender que roupa de curtir o São João não é roupa de carnaval”, comentou uma internauta. “Quando for assim é melhor nem fazer. Vocês não têm ideia do tamanho/importância do São João para a cultura do Nordeste. Nem tudo é carnaval carioca zona sul não viu? Que representação mais caricata”, criticou outro internauta.
O vídeo da campanha apresentou looks com peças brilhosas, tules, meia-calça com corações, entre outros elementos que não costumam ser vistos nas festas juninas, e, sim, no Carnaval. Algumas peças remetem até a roupas utilizadas por palhaços. Se não fosse o varal de bandeirinhas ao fundo ou a trilha sonora escolhida, talvez nem desse pra saber que a produção tinha foco no São João.
Ivens Andrade, publicitário e comunicador de moda, acredita que a campanha reduz as manifestações culturais presentes nos festejos juninos. “Se foi falta de repertório ou estratégia de apagamento, tudo carrega um desrespeito leigo e ignorante de quem não se preocupa em olhar direito para o Nordeste. Aquele jeito, de nos chamar de ‘Baianal’, ‘Os Paraíbas’, ‘O grande estado’ é perpetuado por campanhas como essa”, pontua.
“A moda que cerca o período junino é rica em infinitas possibilidades. O trabalho manual de artistas quadrilheiros, a ressignificação de bordados e patchworks, as técnicas manuais de 9 estados, os profissionais da beleza… Isso sem falar de cantores, compositores, músicos, repentistas, coreógrafos, cenógrafos e brincantes profissionais e amadores que celebram cultura e história em junho”, reforça.
“Isso não é moda, isso não é São João. Como não entendem ou respeitam na totalidade a nossa cultura, seria melhor que também não se apropriassem da alegria dela”, declara. Criada em 1997 no Rio de Janeiro, a Farm é conhecida por coleções cheias de cores e peças estampadas.
A Farm fixou um comentário na publicação destacando que a ideia do vídeo não era retratar um São João tradicional, mas apresentar um conceito lúdico a partir de várias referências. A marca diz que entende o ruído que isso criou e que “acolhe” as críticas. Veja:
“Sabemos a importância de preservar e celebrar as tradições culturais brasileiras. Por isso, na comunicação desse post, o objetivo não era retratar uma linguagem tradicional de São João, mas sim propor um conceito lúdico e criativo a partir de referências diversas que extrapolam o universo usual da festa junina. Exploramos a possibilidade de misturar várias peças neste clipe musical, produzindo novos imaginários que nem sempre são literais. Entendemos que essa decisão gerou um ruído em relação às raízes culturais da festividade. Acolhemos cada ponto levantado ao longo dos comentários e agradecemos as contribuições de todos. A FARM sempre mantém o diálogo aberto para que as trocas produzam histórias incríveis e que tenhamos muito orgulho de contar. Obrigada”.
Originalmente publicada em O Povo