Excelentíssimo governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, precisamos conversar. Há cinco anos, tento agendar uma reunião para tratar do déficit de médicos na rede pública do DF com o Vossa Excelência. No entanto, sem retornos positivos ou qualquer abertura para que esse encontro possa ocorrer. Mas, uma notícia veiculada no sábado, dia 23, no Correio Braziliense, me acendeu a luz da esperança novamente. Nela, o sr. diz: “Precisamos encontrar uma maneira de resolver (a falta de médicos no SUS-DF)”. A afirmação foi feita na inauguração da nova sede do 8º Grupamento de Bombeiro Militar, em Ceilândia.
Acredito que, na ocasião, o sr. governador do DF tenha sido questionado sobre o caos na saúde diante da epidemia de dengue. Ainda em sua fala, li que o GDF está dedicando todos os esforços e recursos para enfrentar o problema. Suponho que isso inclua uma audiência para tratarmos do assunto (e outras pautas), que é um tema, sobretudo, sensível à população. Veja: são 152 mortes confirmadas por dengue. Além disso, a capital do país, que deveria ostentar outros números, atingiu a marca de 162.665 casos da doença.
Sim, passou da hora de empenharmos todos os esforços e recursos para tirar a saúde pública do DF da UTI. Neste contexto, excelentíssimo governador, gostaria de salientar minha total abertura de agenda para que essa conversa possa ocorrer o quanto antes. Mostrei a necessidade da atualização do Plano de Carreira, Cargos e Salários à vice-governadora, Celina Leão, e apresentei a proposta à secretária de Saúde, Lucilene Florêncio. Acredito que o sr. deva ter conhecimento. E, portanto, já que falamos de empenho para sanar o déficit de médicos na rede pública, esse é um caminho para começarmos nosso tão prorrogado diálogo.
Até aqui, ainda não tive retorno da proposta. Mas, ainda focado nas palavras do sr. governador, quero dizer também que já alertei, inúmeras vezes, para a necessidade de um olhar mais cuidadoso para os nossos servidores da saúde. Afinal de contas, estamos falando de pessoas que lidam, diariamente, com vidas. Por ora, no entanto, o que temos é um Sistema de Saúde Pública frágil, deteriorado pelo tempo, cujo o esforço financeiro parece não chegar onde devia. Um motorista trabalha sem carro? Não. Um jornalista trabalha sem palavras? Não. Por que a suposição de que médicos, enfermeiros e outros trabalhadores do SUS-DF conseguem trabalhar sem estrutura, testes para detectar doenças, medicamentos e outros insumos?
Precisamos mesmo conversar, sr. governador do DF. Há poucos dias, soube inclusive da intenção de negociar o salário de determinadas especialidades médicas, essas que aparecem mais na mídia, deixando outras de fora, como se fossem menos importantes para o funcionamento do SUS. Será verdade? Apostando no bom senso e respeito aos servidores, espero que não. Hoje, há médicos da rede pública antecipando aposentadoria, pedindo redução da jornada, abrindo mão dos seus cargos. Muitos desses profissionais com 20 anos de SES-DF. Imagine. Chegaram à exaustão. E não é por suas funções. Mas pelas péssimas condições de trabalho.
O excelentíssimo governador deve saber que o DF tem hoje a maior concentração proporcional de médicos do país. São 18.978 profissionais com registro ativo no Conselho Regional de Medicina. Os médicos querem sim trabalhar na rede pública de saúde, mas é necessário condições favoráveis. Porque hoje, além de trabalharem com o mínimo, ainda enfrentam uma população igualmente exausta das filas por atendimento. Pessoas que, muitas vezes, apelam, lamentavelmente, para a violência. Qual a atratividade desses cargos? Se fosse um anúncio de emprego, temo que seria: “Vaga aberta para função de salvar vidas. O salário não compensa, as condições de trabalho também e, talvez, você seja vítima de violência durante o expediente”.
Mas, sim, sr. governador. Acredito que podemos mudar esse cenário. Aliás, no passado, em outros dois governos, quando o SindMédico-DF conseguiu negociar o Plano de Carreira, Cargos e Salários, médicos (e outas categorias que também tiveram aumento) voltaram a se interessar pelo serviço público. Alguns até fecharam consultório porque sabem que o SUS é único. E não apenas por ser o maior sistema de saúde pública do mundo. Mas, porque ensina, porque humaniza, porque aproxima, porque salva milhões. O SUS é, sobretudo, uma grande escola.
Então, excelentíssimo governador, apelo à sua sensibilidade, visível no discurso aos bombeiros, para que marquemos uma audiência. O SindMédico-DF é parceiro da gestão pública. E como parceiro para uma saúde pública de verdade, que dê assistência à população, criticamos ao mesmo passo em que apontamos soluções. Nós, médicos, também queremos ouvi-lo. Para se ter uma ideia, dos nomeados entre 2019 e 2023, que somavam 2.052 médicos, apenas 734 continuam na SES-DF este ano. Só entre dezembro de 2022 e fevereiro de 2024, a secretaria perdeu 7% dos seus médicos. E, se nada for feito, seguiremos enxugando o gelo. Com mais evasão de profissionais, fechamento de serviços e mortes evitáveis.
A saúde tem solução. E pede muita pressa. Mais uma vez, ainda esperançoso com a notícia que li, me coloco a total disposição para uma audiência. E, como digo sempre, os servidores não são o problema. Eles são parte da solução. Vamos mudar este cenário. Conte com o SindMédico-DF, sr. governador.