Quatro municípios baianos decretaram situação de emergência em decorrência da chuva intensa que atinge o interior do estado: Santa Cruz Cabrália, Ilhéus, Belmonte e Porto Seguro. Ao todo, são 24 municípios atingidos, segundo dados da Superintendência de Defesa Civil da Bahia (Sudec). Ainda segundo o órgão, até a noite de ontem havia 16 desabrigados, 5.096 desalojados e 412 outras pessoas afetadas de alguma maneira pelo temporal. E a previsão para essa terça é de mais aguaceiro.
A Secretaria de Infraestrutura da Bahia (Seinfra) registrou seis ocorrências em rodovias baianas em decorrência do temporal iniciado na sexta-feira, 21 de abril, feriado de Tiradentes. Deste total, dois pontos ainda estão com tráfego em meia pista: um trecho na BA-283, entre Itabela e Guaratinga, onde ocorreu o rompimento de um bueiro; e outro na BA-001, entre Belmonte e Santa Cruz Cabrália. No primeiro caso, uma escavadeira hidráulica já está posicionada e os outros equipamentos tinham previsão de chegar na noite de ontem. No segundo, a previsão é que os equipamentos sejam mobilizados para o local somente nesta terça (25).
Os outros quatro trechos de estradas foram totalmente liberados: um ponto na BR-415 entre Ilhéus e Distrito de Banco da Vitória; um na BA-262 entre Ilhéus e Uruçuca; outro na BA-651, entre Coaraci e Itapitanga, no Litoral Sul; além do trecho no médio sudoeste, na BA-262, entre Firmino Alves e Santa Cruz da Vitória.
Nos últimos quatro dias, de sexta até ontem, os problemas se multiplicaram em muitas localidades. Foram mais de 100 ocorrências registradas, entre desalojamentos, deslizamentos, alagamentos e queda de árvores. Até ontem, ao menos 74 famílias precisaram deixar suas residências e outras sete perderam as casas na região entre Ilhéus e Itabuna, onde também ocorreu o alagamento do Morro do Muriqui, comunidade quilombola. A água foi tanta que invadiu todas as casas do povoado.
Ainda que pareçam sinônimos, há diferença entre estar desalojado e desabrigado. Desalojadas são pessoas que precisaram sair de suas casas temporária ou definitivamente por motivos como alagamentos ou riscos de desabamento, geralmente por prevenção e, por isso, não precisam de abrigo provido pelo Estado. Já os desabrigados são aqueles que perderam suas casas definitivamente por conta de desastres e necessitam de abrigo provido pelo governo.
“Mais uma vez estamos aqui com a nossa comunidade alagada. Perdemos, novamente, todas as nossas rocas, todas as plantações. […] A gente precisa de ajuda e a água não para de subir. Um risco para as crianças porque a gente viu um monte de cobras”, desabafou um integrante da comunidade quilombola em vídeo nas redes sociais. Tanto nos arredores de Ilhéus como no interior da cidade, moradores relatam alagamentos em diversas casas da cidade.
Claudyane Burak, 47, é professora e viu muitas famílias conhecidas tendo de sair de casa por consequência da chuva intensa iniciada ainda na última quinta-feira (20). “Existem muitas famílias desabrigadas, sim. Conhecidos e suas famílias tiveram suas casas alagadas. A situação é triste, vi muito alagamento na Avenida Princesa Isabel. Apesar da chuva não ser constante, vem muito forte e, no tempinho que acontece, alaga tudo por aqui”, informa a professora.
A Defesa Civil de Ilhéus está em alerta laranja. Isso porque a previsão é que o temporal persista e o acumulado para hoje fique entre 60 e 90mm. Para os meteorologistas, qualquer quantia acima de 50mm é considerada alta.
Bairro submerso
A situação parece ainda pior em Santa Cruz Cabrália, no extremo-sul baiano, onde se registrou, em quatro dias, mais de 450mm de chuva. O valor é 2,75 vezes a média do mês de abril da cidade, que é de 165mm, segundo o Cemaden. A prefeitura decretou estado de emergência. O bairro de Sapolândia é o mais afetado do município e, segundo os moradores, chegou a desaparecer em determinado momento dos últimos dias de chuva.
“Passamos as últimas madrugadas tirando pessoas de casas alagadas. A população perdeu tudo, está vivendo a partir de doação. O bairro desapareceu, ficou debaixo d’água. É uma cena que não sai da nossa cabeça, tem mais de 600 pessoas desabrigadas aqui”, conta Aneilton Souza Júnior, 32, que trabalha com pesca e turismo e reside no bairro de Sapolândia.
“Aqui, só não morreu gente porque os vizinhos se ajudaram e resgataram as pessoas. Teve uma casa que precisou mais de sete pessoas para dar socorro porque era de difícil acesso”, completa Aneilton. Além do trabalho dos moradores, em Santa Cruz Cabrália os bombeiros já resgataram mais de 160 pessoas em áreas alagadas.
Ao menos quatro aldeias indígenas de Santa Cruz Cabrália também tiveram o acesso dificultado pela chuva e ficaram isoladas. Segundo informações da prefeitura local, o município está abastecendo as aldeias com mantimentos.
A situação fez com que a União de empreendedoras da Costa do Descobrimento, que compreende municípios do sul e extremo-sul da Bahia, se mobilizassem em uma ação que capta doações para converter em cestas básicas, material de limpeza e higiene para as famílias que perderam tudo na área.
Em Porto Seguro, o cenário não é muito melhor. A prefeitura, inclusive, suspendeu as aulas de ontem e hoje em toda a rede municipal de ensino. “A medida visa preservar a segurança e a comodidade dos alunos e profissionais da educação. As aulas serão repostas dentro do cronograma do ano letivo”, informou a gestão.
Por lá, o estado de emergência também foi declarado e, ainda de acordo com a prefeitura, a decisão de suspensão das aulas se deu para que todos os órgãos municipais estivessem mobilizados para tentar minimizar os estragos provocados pela chuva. Em caso de necessidade, a prefeitura de Porto Seguro divulgou contato da Defesa Civil: (73) 98200-2424.
Bombeiros de diversas cidades foram para o sul e extremo-sul ajudar desalojados (Foto: Rafael Martins/GOVBA) |
Operação Chuva
O Corpo de Bombeiros Militar da Bahia (CBM-BA) permanece atuando nas regiões sul e extremo sul da Bahia. No domingo (23), 31 bombeiros da capital e interior atuaram no resgate das vítimas das áreas de risco em Santa Cruz Cabrália. Os militares também entregaram donativos como alimentos, cobertores, colchões e água potável. Também ocorre o auxílio no atendimento pré-hospitalar (APH) aos necessitados.
Houve o deslocamento de vinte e cinco bombeiros militares de Salvador e de Itabuna, Santo Antônio de Jesus e Teixeira de Freitas, enviados para reforçar as tropas que atendem a região. Cinco caminhões com sete mil litros de água mineral, mil colchões, mil cobertores e mais de 20 toneladas de alimentos foram encaminhados para a região sul. A ajuda é necessária, visto que no fim de 2021 a mesma região passou por graves problemas quando o acumulado histórico de chuva desabrigou centenas na região.
A previsão é que, mesmo em menor volume, a chuva continue e o alerta laranja, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), deve ser observado em todo o sul do estado. O órgão alerta para os riscos de grandes alagamentos e transbordamento de rios e deslizamentos de encostas.
Algumas instruções para passar por esse período são desligar aparelhos elétricos e quadro geral de energia, observar alteração nas encostas, permanecer em local abrigado e, em caso de inundação ou similar, proteger os pertences da água envolvendo-os em sacos plásticos.
Nesta segunda (24), o ministro da Integração de Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, assinou uma ordem de serviço para a construção de 696 casas em Itabuna destinadas àqueles que ficaram desabrigados após a chuva. O investimento total do governo federal para a construção das residências será de R$ 82,9 milhões. Antes da assinatura, o ministro sobrevoou a região, acompanhado pelo governador Jerônimo Rodrigues (PT) e do ministro da Casa Civil e ex-governador Rui Costa (PT).
*Colaborou Raquel Brito