Uma fé que arrasta multidões. Foi assim que aconteceu na segunda-feira (13), quando crianças, jovens e idosos saíram de suas casas para participar da alvorada, reza popular, carreata, missa e procissão dedicadas a Santo Antônio, conhecido como “pai dos pobres” e “santo casamenteiro”. Os devotos se reuniram em peso depois de dois anos de pandemia para, além de pedir por paz, abertura de caminhos e fartura, agradecerem por terem sobrevivido ao vírus da covid-19. Em Salvador, a santidade foi celebrada em mais de seis missas em bairros diferentes.
Às 6h, os fiéis realizaram uma alvorada, seguida da reza popular e carreata pelas principais ruas do Santo Antônio Além do Carmo. Neste período, alguns devotos fizeram a entrega de alimentos. É o caso de Gustavo Nascimento, de 53 anos, que oferta pães para as pessoas no dia de Santo Antônio todos os anos. “Levei dois sacos com 56 pães que foram abençoados pelo padre depois da missa. O último pão é o meu, que vai me dar energia para continuar o ano todo e fazer outras oferendas nos próximos anos”, disse.
Já Raimunda Amparo, 66, distribuiu 95 quentinhas de feijoada no bairro. “Faço isso há 20 anos e minha tia já fazia antes de mim, é sempre bom ajudar todos que precisam, é um trabalho muito bonito. Faço com muito amor”, declarou.
De noite, a programação foi farta: uma missa comandada pelo bispo auxiliar, Dom Valter Magno de Carvalho; uma reza popular na última casa amarela do bairro, que é dedicada ao santo; uma feijoada feita pela ialorixá do Ilê Axé Oyá Ogum Silé Omin, mãe Marta de Iansã; e uma procissão que levou muita gente atrás da santidade. Nessa última, que percorreu as principais ruas dos bairros Santo Antônio Além do Carmo e Barbalho, a santidade foi levada com 400 pães aos seus pés.
Quem acompanhou o percurso do início ao fim foi Augusto Antônio, 63. “Essa fé veio do meu avô, que construiu uma igreja para Santo Antônio no município de Ubaíra e eu, desde lá, já era devoto. Morei 30 e poucos anos aqui no Carmo e, hoje, mais agradeço do que peço”, contou.
Responsável por fazer o altar de Santo Antônio para a procissão, o artista plástico Rodrigo Guedes, 31, contou que o pão representa o alimento do corpo e do espírito, além de simbolizar o corpo de Cristo. É do artista também a exposição na casa amarela do bairro, que é de sua avó, uma das responsáveis por passar a tradição de devoção do santo casamenteiro para o neto.
Fiéis ofertaram pães e quentinhas para os presentes (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) |
Rodrigo ainda realizou mais uma edição da reza pública Santo Antônio na casa de sua avó, que estava de portas abertas para receber o público. A estimativa do artista plástico é que mais de 300 pessoas tenham passado pelo local para rezar, agradecer e fazer seus pedidos. “Esse ano completamos 17 anos de reza pública, oriunda de uma devoção centenária por parte de minhas avós, materna e paterna”, afirmou.
Santo Antônio é sincretizado com Ogum, orixá que assim como ele abre caminhos. “Essa é uma tradição milenar na minha vida, minha ligação com Santo Antônio e com Ogum, tenho por herança de família. Assim como Santo Antônio saía nas ruas dividindo os pães, peguei a missão de sair às ruas para distribuir quentinha de feijão, então eu sirvo 600 quentinhas no dia, 300 meio-dia e 300 de noite, são mais de 60 quilos de feijão”, explicou mãe Marta de Iansã.
A ialorixá afirmou que, além dos pedidos por paz e fartura, as pessoas se reuniram no Santo Antônio Além do Carmo para agradecer por terem conseguido sobreviver depois de dois anos de pandemia. A mãe de santo também relatou ter visto pessoas com muita fome na porta de sua casa.
“Eu vi que chegavam aqui pessoas realmente com fome. Teve gente que chegou aqui chorando, dizendo que tinha dois dias sem comer. Então, fazer isso é muito compensador”, finalizou.
*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo