O incêndio que atingiu o telhado do Teatro Castro Alves (TCA), no Campo Grande, em Salvador, nesta quarta-feira (25), começou na calha do teto acima da sala de balé e se alastrou para o telhado do palco principal, afirma o titular da secretaria da Cultura da Bahia (Secult), Bruno Monteiro. O incêndio começou por volta das 13h e ficou restrito ao telhado, sem atingir áreas internas do teatro.
Monteiro ainda descarta curto-circuito – apontado como possível causa – como origem da ocorrência. “Não tem nada elétrico no telhado, havia trabalho de reparo na calha, mas nada elétrico”, diz. Apesar das informações, ele ressalta que a identificação mais precisa do que pode ter causado o acidente é função da perícia e avaliação do Departamento de Polícia Técnica (DPT) da Bahia.
Segundo a Defesa Civil de Salvador (Codesal) o fogo teve início onde há execução de serviço e presença de material inflamável, a exemplo de fibras e resinas, que entrou em ignição. A Codesal diz que splits funcionaram bem na parte inferior do prédio, resfriando a área, e contento o alastramento do incêndio.
O comandante de operações da capital e Região Metropolitana de Salvador do Corpo de Bombeiros, Coronel Aloísio Fernandes, confirmou que havia material inflamável na região, contudo, a equipe identificou e controlou a situação em cerca de 4h após início do incidente. Ele informa que a ação contou com sete viaturas de combate, duas unidades de resgate, uma plataforma aérea e, ao todo, 42 bombeiros. A Polícia Militar também esteve no local para prestar auxílio.
Bombeiros chegaram por volta de 14h; ainda havia chamas até 16h, no entanto, focos de incêndio já estavam sob controle Foto: Ana Lúcia Albuquerque / CORREIO |
Todo prédio será fechado para passar por processo de perícia e identificar o que de fato causou o incêndio. “Prioridade foi garantir integridade [do edifício] e que não houvesse nenhum tipo de vítima”, diz Monteiro. Ainda não há previsão para reforma do local atingido. Não há registro de feridos.
Fãs lamentam
Moradores da região e funcionários do TCA acompanharam, emocionados durante toda tarde, o incêndio no teatro. O Layno Pedra, 38, produtor cultural conta que mora perto do TCA e estava voltando do almoço quando viu a fumaça e se deparou com bombeiros, policiais e dezenas de pessoas ao redor do prédio.
“Já estou quase uma hora parado aqui olhando. TCA é o principal espaço cultural do estado, a gente fala de espaço, tanto como espaço de espetáculo, quanto também espaço de formação, como o balé do TCA. Os shows da Concha [Acústica] sempre me marcam, o último que fui foi o de Milton Nascimento e teve também o espetáculo de balé do TCA que foi em homenagem aos 80 anos de Gilberto Gil”, recorda.
Para a museóloga Denise Fernandes, 60, a situação foi diferente. Ela trabalha no teatro e foi pega de surpresa com o anúncio de evacuação. “Estava trabalhando normalmente, como em qualquer outro dia. Foi uma coisa muito rápida. Eu fiquei um pouco nervosa porque a gente procura logo saber se os colegas estão bem. Mas foi tudo bem tranquilo, temos acesso fácil à saída”, conta.
O produtor cultural Fernando Guerreiro também esteve no local, onde estreou diversos espetáculos ao longo de sua carreira, para saber da situação. “Ontem [também] estive aqui para uma reunião, pois provavelmente eu vou gravar um seriado aqui na sala do couro. Eu estou sempre voltando para cá. É como se fosse a minha casa pegando fogo. Ainda bem que foi tudo controlado”, ressalta Guerreiro.
Apresentações canceladas
As apresentações agendadas até o final de semana no Teatro Castro Alves, em Salvador, foram canceladas após um incêndio atingir a cobertura do imóvel nesta quarta-feira (25). Ninguém ficou ferido e o fogo não se alastrou na parte interna do teatro.
Segundo Bruno Monteiro, titular da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult), os cancelamentos só devem interferir na agenda até o final de semana. “A pauta de apresentações do TCA nos próximos dias e nesse final de semana está cancelada. Todas as medidas para ressarcir o público que já que havia adquirido os ingressos serão tomadas, para que ninguém saia no prejuízo. E nós anunciaremos, nos próximos dias, qual será a programação”, disse.
Alguns eventos já programados devem ser remanejados para outras datas, como o show da cantora Adriana Calcanhoto, que se apresentaria na quinta-feira (26). “Vai ser adiado para uma data oportuna. Já foi conversado com a artista e com o produtor e logo, logo vamos trazer a informação de quando a gente vai realizar”, esclareceu Rose Lima, diretora artística do TCA.
No domingo (29), estava previsto também a apresentação do Balé Teatro Castro Alves (BTCA) com o espetáculo “Viramundo”, em homenagem aos 80 anos de Gilberto Gil. Assim como a peça “Koanza: do Senegal ao Curuzu”, com o ator Sulivã Bispo.
Governador pede prioridade na recuperação do TCA
O governador Jerônimo Rodrigues (PT) determinou trabalho conjunto de diferentes órgãos estaduais e garantiu a recuperação do TCA com “máxima brevidade”.
“Sigo acompanhando de perto a atuação das forças estaduais, principalmente do Corpo de Bombeiros. O TCA é um patrimônio cultural do nosso estado e determinei que o Corpo de Bombeiros, secretarias de Cultura, Turismo e Casa Civil do Estado, junto com a direção do equipamento, trabalhem de forma conjunta e ágil para avaliar os danos causados pelo incêndio e para recuperar com máxima brevidade as estruturas danificadas. Da forma mais rápida e segura, o teatro será reaberto para seguir fortalecendo a nossa agenda cultural”, afirmou Jerônimo.
O secretário municipal da Cultura e do Turismo (Secult), Pedro Tourinho também diz que está acompanhando a ocorrência e, apesar da gestão do TCA ser do Governo do Estado, a prefeitura de Salvador está disposta a oferecer todo o suporte necessário para o teatro. Ele acompanhou presencialmente a ação dos bombeiros pela tarde.
“A gente veio aqui como prefeitura para demonstrar nosso apoio e nosso suporte. É um equipamento importante para a cidade”, declarou Tourinho.
Reforma do teatro
Mesmo sem data definida, a reforma do telhado do TCA acende luzes sobre outra reforma que começou há mais de 10 anos e também segue sem conclusão. Trata-se das obras do projeto batizado de Novo Teatro Castro Alves, fruto de um convênio firmado em 2012 entre o extinto Ministério da Cultura e a Secretaria Estadual de Cultura (Secult) durante a segunda gestão do hoje senador Jaques Wagner (PT).
Segundo o TCA, não há previsão para finalizar a reforma. Quanto à possível relação com incêndio, coronel Fernandes diz que ainda é “precipitado” relacionar a obra com a ocorrência desta quarta-feira. A Secult estadual diz não ter informação da data de conclusão.
Desde que foi celebrado, o convênio passou por inúmeros aditivos ao longo de uma década, com sucessivas prorrogações no cronograma previsto para finalizar o projeto, orçado originalmente no valor total de R$ 12,1 milhões.
A mais nova prorrogação diz respeito à conclusão do terceiro e derradeiro eixo da requalificação do TCA. Após completar as duas primeiras fases do projeto – as revitalizações da Concha Acústica, inaugurada em 13 de maio de 2016, e da Sala do Coro, entregue em 5 de outubro de 2018 -, a Secult vem esticando desde 2019 a etapa final da obra, com recursos pendentes na ordem de R$ 743 mil. Trata-se justamente da modernização da sala principal do Castro Alves, considerada a joia da coroa.
*Com orientação da subeditora Fernanda Varela