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Tradição: Povo de axé faz entrega de presentes a Oxum na véspera do Dia de Iemanjá

‘Ora iê iê ô!’ Essa é a saudação a Oxum, orixá que reina sobre as águas doces e que, na noite desta quarta-feira (1), foi homenageada por seus filhos e filhas no Dique do Tororó. Centenas de pessoas vestidas de branco e movidas pela fé e muito axé, participaram do ato, que teve como atrativo principal a entrega da oferenda à orixá.

O presente é tradicionalmente entregue na Alvorada, nas primeiras horas do Dia 2 de Fevereiro, para abrir os festejos em homenagem a Iemanjá, que reina sobre os mares e oceanos. Desta vez, o presente de Oxum aconteceu na noite anterior ao evento em honra da Rainha do Mar, capitaneado por Carlinhos Brown e embalado pelos tambores da banda feminina Yayá Muxima.

Carlinhos Brown participou do cortejo em homenagem a Oxum

(Foto: Paula Fróes/CORREIO)

O evento, chamado “Sórodó”, palavra que significa o ato de levar oferendas para as águas, resgata uma tradição forjada em uma experiência de fé. Filho de Omolu, o orixá da cura, o garçom Silvio Silva, 48, explica que a origem do ato em homenagem a Oxum se deve a uma antiga família do Engenho Velho da Federação. “Uma jovem teve uma doença e a mãe dela pediu a Omolu que curasse e ele curou. Na hora de entregar o presente, o orixá pediu para entregar a Oxum, nas águas. E assim se fez o Sórodó”, conta.

Por muitos anos, a família da jovem curada fez a homenagem de maneira interna. No entanto, quando houve o pedido de retirada dos monumentos dos orixás do Dique do Tororó, na década de 1990, a juventude do candomblé decidiu realizar o movimento do Sórodó. Presidente da Associação Afro-Ameríndia (AFA), Leonel Monteiro, explica o motivo da homenagem ser feita um dia antes dos festejos de Iemanjá:

“Enquanto Oxum protege o aparelho reprodutor feminino e acolhe o feto até seu nascimento, Iemanjá coloca a fartura dos oceanos dos seus seios. Então, uma mãe complementa a outra, por isso há dois presentes a serem entregues, no dia 1 e 2 de fevereiro”, diz Leonel.

Sem materiais de plástico ou similares para impedir agressões ao meio ambiente, o presente oferecido a Oxum foi colocado em um balaio ecológico, com folhas, flores, grãos, frutos e as comidas que agradam a orixá, como pipoca, mugunzá e milho. Ele é entregue no lago do Dique do Tororó em um barco da Coordenadoria de Salvamento Marítimo (Salvamar).

Vinda do Espírito Santo para Salvador, a ialorixá Valquíria Martins, 56, está na cidade apenas para homenagear Oxum e Iemanjá. Ela relata que a experiência de presenciar as homenagens às orixás no local que mais se cultua religiões de matrizes africanas no Brasil é semelhante à sensação de um renascimento. “É como se a vida estivesse voltando, é uma emoção muito grande. Vim agradecer, não pedir”, ressalta.

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Presente no ato pela primeira vez, a assistente jurídica Francine Cardoso, 39, acredita que a importância do movimento Sórodó se deve à possibilidade de reafirmação da religião de matriz africana. “É a manifestação do direito de professar a fé e fazer um ato que há décadas existe e está retornando. Nesse momento, retornar a prestigiar nossa mãe Oxum com tantas casas e irmãs juntas, de tantas nações, é a reafirmação da nossa cultura”, afirma.

O produtor executivo Nadinho, do Afoxé Filhos do Congo, também destacou o retorno das celebrações abertas ao público após a pandemia, enfatizando a importância da fé na trajetória dos adeptos às religiões de matrizes africanas para enfrentar o período. 

“Nós só temos a agradecer depois de termos passado por uma pandemia enorme. Chamamos muito os nossos orixás e a mãe Oxum era uma delas, não é à toa que ela está comandando o mundo. É por isso que nós estamos aqui. Os afoxés estiveram presentes nessa caminhada de preservação da cultura africana”, celebrou.

Por volta das 20h30, com a chegada de Carlinhos Brown, o cortejo teve início. Uma multidão seguiu os sons da banda Yayá Muxima, que conduziu os religiosos no sentido Estação da Lapa. De lá, eles seguiram do Dique até a Fonte dos Orixás.

Enquanto fazia o percurso, Brown exaltou o evento e lamentou a falta de reconhecimento da cidade à Oxum. “O evento é de extrema importância porque nós ficamos impedidos de vir, mas Oxum nunca nos abandonou, sobretudo com sua cura. E numa cidade que todo mundo fala que é uma cidade de Oxum, é importante nós começarmos a entender onde estão esses valores. Hoje, era para a cidade estar aqui. Todo mundo vai entregar o presente de Iemanjá, mas ela quer que sua filha coma e receba o presente primeiro. Nós primeiro passamos pela água doce para chegar a salgada”, lembrou.

Com centenas de pessoas caminhando sobre o passeio ao lado do Dique, Brown também apontou a necessidade de um maior espaço para o movimento. “Nós queríamos tomar o lugar dos carros, não ficar acuados aqui no passeio. Queremos que os terreiros venham. Aqui é gritante a espiritualidade, que é do bem. Precisamos rever essa situação, porque não é folclore. É espiritualidade”, reiterou. 

Em frente à Fonte dos Orixás, os presentes foram depositados por uma equipe da Salvamar, aproximadamente às 21h25. Finalizando o ato, os filhos de axé cantaram ‘É D’Oxum’, a icônica canção de Gerônimo, em uma poderosa voz conjunta de celebração e resistência.

*Com a orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo

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