É daquelas histórias que a gente não sabe se é lenda, mas há quem jure que é verdade. Nos anos 1970, no auge da fama, o astro da música brasileira Sidney Magal estava em Salvador para uma sessão de autógrafos no maior shopping da cidade. Chegada a hora de a estrela ir embora, seguranças o cercaram e tentaram enfrentar a multidão, que não o deixava passar. Foi aí que alguém encontrou uma solução, no mínimo, inesperada: quebrar uma parede do estabelecimento e, assim, encontrar uma maneira de, finalmente, Magal deixar o prédio. E assim foi feito.
Quem lembra desse episódio é a cineasta Joana Mariani, quando lhe pedem que dê uma ideia da popularidade do artista no auge da fama. Joana é a diretora do documentário Me Chama Que Eu Vou, que estreia nesta quinta-feira (12) nos cinemas e conta a trajetória de um dos artistas mais populares da história do país quando se fala em música romântica.
Magal e Magali, no casamento civil (foto: acervo da família) |
Mesmo diante do pouco tempo de duração – apenas 1h10 -, o filme dá conta de muita coisa: dá uma dimensão da idolatria ao artista nos anos 1970; fala da história de amor dele com a esposa, Magali; mostra a bonita relação que o artista tem com os filhos e revela a personalidade muito sensível por trás daquele personagem aparentemente machão que um dia cantou a ultramachista Se Te Agarro com Outro, Te Mato.
Joana se tornou amiga de Magal quando foi assistente de direção do videclipe da canção Tenho, há cerca de 15 anos. O clipe, é bom lembrar, foi decisivo para que se alimentasse uma imagem cult de Magal, outrora considerado brega. Depois do clipe, Joana passou a frequentar a casa dele e se encantou com as histórias que ouvia de Magal, sobre sua própria carreira.
Joana conseguiu um farto material de arquivo, obtido em emissoras como SBT, Record e Globo. O próprio Magal também tem em sua casa um grande acervo, incluindo fotos cedidas por fãs e recortes de revistas. A diretora diz que, mesmo tendo todo aquele material à disposição, preferiu mesclá-lo a entrevistas atuais, com Magal e Magali.
E ela acertou na decisão, porque os melhores momentos do documentário ficam mesmo por conta dos depoimentos do casal e, especialmente, do cantor, que exibe todo seu charme e sensibilidade. Ele, aliás, é um chorão, uma “manteiga derretida”, como se diz popularmente. Em diversos momentos, enche os olhos de lágrimas e tenta conter o choro. Um dos filhos não é diferente: também se emociona ao lembrar de quando o pai comunicou a ele a decisão de que a família iria trocar o Rio de Janeiro pela Bahia, nos anos 1990.
E uma das coisas que mais emociona Magal – e o espectador – são as lembranças de sua história com Magali. Joana classifica a história do casal como uma fábula:
“Tem um quê de fábula porque Magal, desde que a conheceu tinha certeza que ela era a mulher da vida dele e que eles passariam o resto da vida juntos”.
E estão juntos há 43 anos. Antes, Magal havia sido casado com a atriz Solange Couto.
Joana ressalta uma característica de Magal, que é enxergar o lado bom de tudo. E uma das demonstrações disso está na maneira como ele lida com os altos e baixos da carreira, o que ele conhece bem, porque poucos artistas brasileiros oscilaram tanto entre a fama e o ostracismo como ele. Quando enfrentava o primeiro momento de perda de popularidade, nos anos 1980, Magal enxergou o lado bom da diminuição da fama: “Ele hoje diz que aquilo deu a ele a oportunidade de viver mais com os filhos, de curtir a família e essa é uma maneira muito particular de olhar a vida, de ver sempre o copo meio cheio”.
O retorno ao sucesso é outro assunto que emociona Magal no filme, quando se lembra de quando seu empresário ofereceu uma música para entrar na trilha da novela Rainha da Sucata e ele disse ao artista que a canção seria o tema de abertura da história criada por Silvio de Abreu. Magal não conseguia emplacar um sucesso nas rádios havia mais de dez anos e os convites para aparecer na TV eram escassos, muito diferente do que ocorrera anos antes.
Mas a canção Me Chama que Eu Vou entrou na onda da lambada, que dominava o país.
“A carreira não acabou, gente: eu tinha só a sensação”, diz Magal no filme, ensaiando um novo choro, ao se lembrar do sucesso que a música alcançou.
Depois de novamente sumir da mídia, veio o novo ciclo com o clipe de Tenho, que tinha a participação do escritor Xico Sá e da atriz Débora Falabella. Aí, veio um novo ciclo na carreira do cantor, que foi alçado ao selo de “cult” e o fez ser descoberto pelas classes mais altas e mais intelectualizadas.
E, se você pensava que a carreira dele havia acabado de vez, se enganou: além de Me Chama que Eu Vou, está sendo produzido um filme de ficção sobre a história de amor entre Magal e Magali, que teve parte dele filmada em Salvador, e será lançado em breve nos cinemas Tem ainda uma série no Star Plus, streaming do grupo Disney; um musical sobre sua história e uma exposição que será realizada em São Paulo saudando os mais de 50 anos de carreira dele.