Novas imagens das câmeras de monitoramento do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, revelam o momento em que o carro usado pelos atiradores que executaram o empresário Vinícius Gritzbach dá voltas perto do ônibus da Guarda Civil Municipal (GCM) momentos antes do crime. As novas imagens estão sendo analisadas pela força-tarefa da Secretaria da Segurança Pública (SSP), que investiga o caso.
O empresário delator do Primeiro Comando da Capital (PCC) foi assassinado na sexta-feira (8/11) em frente ao ônibus estacionado da GCM. Um motorista de aplicativo foi atingido pelos disparos e também morreu. A filmagem mostra claramente quando um carro Volkswagen Gol preto dá pelo menos três voltas no acesso à plataforma de desembarque do aeroporto, como se estivesse fazendo uma ronda.
Em seguida, é possível ver passando pelo local o Chevrolet Trailblazer preto que era usado pelos policiais militares da escolta particular do empresário. Segundo os seguranças, o outro carro da escolta, uma Amarok preta, teve problema e ficou em um posto de gasolina.
Um outro vídeo de uma câmera instalada na plataforma de desembarque mostra o Gol preto estacionando atrás do ônibus da GCM após ter dado três voltas em torno do aeroporto. Nenhum guarda-civil municipal estava no veículo no momento do crime. Logo em seguida, o automóvel acelera e ultrapassa o ônibus, mas a filmagem acaba.
Os vídeos são importantes para ajudar a investigação a montar o quebra-cabeças do caso. As novas filmagens são anteriores a outras gravações que a investigação tem do momento dos disparos. As cenas anteriores já divulgadas na imprensa mostram quando dois homens encapuzados e armados com fuzis saem do Gol preto e atiram em Vinicius.
Assassinos soltos
Apesar dos vídeos, até o momento, a polícia não conseguiu identificar ou prender nenhum dos assassinos. Pelo menos 13 policiais estão sendo investigados por suspeita de envolvimento na execução: oito policiais militares que faziam a escolta do empresário e cinco policiais civis que foram denunciados pelo empresário por corrupção.
Segundo a investigação, alguns dos policiais investigados são sócios de diversas empresas. Elas informaram que, além de exercerem atividades externas não permitidas pela polícia, os agentes tinham patrimônio incompatível com os seus rendimentos. Além dos policiais, membros do PCC, um agente penitenciário e uma pessoa que devia dinheiro ao empresário também estão entre os suspeitos do crime.
Vinicius era réu em processos de homicídio contra dois membros do PCC e por fazer lavagem de dinheiro para a facção. Ele respondia aos crimes em liberdade e, em abril, teve sua delação premiada com o Ministério Público de São Paulo (MPSP) homologada pela Justiça. O acordo permitiria que o empresário tivesse redução das penas no caso de condenações. Em troca, ele denunciou integrantes da facção por estelionato e agentes de segurança por extorsão.
Segundo a defesa do empresário, um áudio que faz parte da delação revela em acordo de colaboração premiada detalhes de sua relação com o advogado Ahmed Hassan, o Mude, que aparece na gravação com um policial civil não identificado oferecendo R$ 3 milhões para ele matar o empresário.
Gritzbach também acusou agentes de cobrarem R$ 40 milhões para deixar de investigá-lo como suspeito de ser o mandante dos assassinatos criminosos do PCC. O empresário disse que não pagou a propina.
A investigação do fuzilamento do empresário tem trazido à tona detalhes do acordo de delação com o MP. Por medo de ser morto por integrantes do PCC, Vinícius Gritzbach contou à polícia, em 2022, que chegou a ficar 21 dias sem sair de casa, junto de sua família. Segundo os autos, ninguém podia sair de casa nem mesmo para “fazer compras de alimentos e as crianças irem à escola”.
Trocas de e-mails entre a defesa de Vinícius Gritzbach e promotores do Ministério Público mostram tensão nas tratativas para que ele firmasse um acordo de delação premiada sobre lavagem de dinheiro para o Primeiro Comando da Capital (PCC). Ao longo da negociação, que durou meses, ele tentou blindar ao máximo seu patrimônio, que inclui uma longa lista de imóveis, lanchas e até um helicóptero. Isso levou os promotores a ameaçaram rejeitar a proposta de colaboração.