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COP27: vida ou morte (por Eduardo Fernandez Silva)

Na COP27 acordou-se a criação de um fundo de perdas e danos, para ajudar países vulneráveis a se recuperarem de desastres causados pelas mudanças climáticas; daí haver quem celebre o resultado.

Pergunto: o leitor ficaria feliz se um milionário concordasse em criar-lhe um fundo para compensar danos que você sofrer em razão do clima, mas que ficariam para discussão posterior “detalhes” tais como quem colocará dinheiro no fundo, e quanto, se a grana será dada ou emprestada, e ainda como o leitor poderá usar o dinheiro? Também ficaria para depois definir critérios para saber se o dano foi, ou não, causado pelo câmbio climático. Esse descompromissado compromisso lhe daria segurança? Melhor buscar outros caminhos, não?

Não à toa o jornal Financial Times assim comentou o evento: “A COP27 teve sucesso em decepcionar ainda mais que o previsto”! Apontou também, o mesmo jornal, que a questão urgente e essencial da redução do uso dos combustíveis fósseis não avançou, travada pelos petropaíses, pelos lobistas das multinacionais dos fósseis presentes à reunião, e também por nações africanas afetadas pela miragem de que suas amplas reservas de gás lhes abrirão as portas da felicidade! Miragem que também afeta o Brasil, onde muitos acreditam que o pré-sal resolverá nossos problemas de pobreza e má condução política!

Outro ponto em que nada se avançou, e que também afeta o Brasil, é sobre os sistemas de produção de alimentos que, globalmente, são responsáveis por cerca de 1/3 das emissões, ao passo que as dietas predominantes, nos países ricos e nos pobres, são talvez o primeiro fator de má saúde e morte prematura! Analistas da Chatham House afirmam que a COP27 discutiu soluções do lado da oferta e evitou questões politicamente mais contenciosas de agir sobre a demanda para assegurar dietas saudáveis e sustentáveis para todos! Certamente que pesou, no abandono desse tipo de discussão, os lobbies de fabricantes de refrigerantes, enlatados, fast food, pecuaristas e associados, além, é claro, de políticos que, por não gostarem de dar más notícias, preferem enganar-se e enganar-nos, considerando “relativo sucesso” o que, de fato, foi um retumbante fracasso! E deixam o problema se agravar!

Atualmente, dado o que já se conhece do clima e o que se observa em termos de desastres, a gravidade da questão não mais pode ser exagerada. O Secretário Geral da ONU afirmou que “estamos em uma estrada para o inferno climático com o pé no acelerador”, e pediu um pacto de solidariedade entre os países. Soluções reais têm que ser adotadas!

Para evitar o pior teremos, todos, que mudar hábitos, sonhos e objetivos. A solidariedade deve substituir a competição. Teremos de contar com todos e todas, inclusive com quem hoje pressiona para evitar soluções reais. Uma questão chave é: como fazê-los dar mais prioridade à vida dos netos, deles e de todos, do que à miragem do lucro futuro? Difícil, mas não impossível!

 

Eduardo Fernandez Silva. Mestre em Economia. Ex-Diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados

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