InícioEntretenimentoCelebridadeO mundo sem a alegria de Roberto Dinamite

O mundo sem a alegria de Roberto Dinamite

Ainda tentamos nos recuperar do luto de Pelé, agora temos de suportar o mundo sem Roberto Dinamite. Pelo histórico do rei, o mais coerente seria ter chorado mais a morte de Pelé, mas não é bem assim.

“Coisas do coração”, como na belíssima canção de Raul, são incoerentes, até por não ser vascaíno, embora admire a história de antirracismo do Vasco, alçado à condição de grande clube vencendo a aversão dos coirmãos bem-nascidos da zona sul.

Além de distribuir felicidade a seus torcedores, maior artilheiro da história do Brasileiro, com 190 gols, enquanto Pelé nem 100 marcou, Roberto deixou Zico bem pra trás no Rio, com 284 gols, enquanto o Galinho guardou 239. Sabia bater falta e tirava fácil do beque para fuzilar. Fez pra mais de 700 gols.

O jeito espontâneo, simples, alegre, expresso em seu sorriso cativante fazia de Roberto um querido, não apenas da torcida cruz-maltina, pois ninguém tinha isso pra dizer dele de errado, vivia bem-humorado, exceto nas rusgas com Eurico Miranda.

A sinceridade de Roberto chegava a tal ponto de chorar por ter sido expulso da tribuna onde as celebridades do Vasco assistiam aos jogos, porque Eurico, chateado com ele, aplicou indevido cartão vermelho a um ídolo daquele tamanho.

Tão amado foi Roberto ao extremo de chegar ao cargo máximo do Vasco, a presidência, já todo grisalho, dedicando seu amor de outro patamar, ao comandar o clube da colina.

Roberto combinava bem com o Vasco porque assim como ele, o clube se afirmou graças a muita raça, e raça em sentido literal, pois foi o primeiro a aceitar os pretos em seus quadros.

Daí, os clubes da zona sul começarem a perseguição: só podia jogar quem soubesse escrever o nome. E o Vasco alfabetizou seus pretos, foi campeão da segunda divisão em um ano e no outro, levantou logo a taça principal do Rio.

Os clubes brancos insistiram na exclusão: só podia jogar quem tivesse mando de campo. Os comerciantes portugueses construíram o maior estádio do Brasil até o advento do Maracanã: São Januário.

Esta determinação dos cruz-maltinos encaixava bem na garra de Roberto Dinamite, deixando o homem-sorriso para nós, vascaínos ou não, uma boa referência de prática virtuosa: explosivo apenas diante dos beques.

Deu sua contribuição à seleção brasileira, ao marcar, entre 20 gols, o da classificação na Copa de 78, diante da Áustria, quando Reinaldo precisou sair, alegando contusão no joelho, após comemorar fazendo gesto de pantera negra, algo proibido naquele escrete.

O golaço mais lembrado nasce de um banho de cuia muito bem aplicado no zagueiro, dentro da área, numa vitória sobre o Botafogo, por 2×1, garantindo ao Vasco a classificação para a final da Taça Guanabara, seguindo mania feliz de derrotar o Flamengo.

No entanto, há um outro, difícil agora de encontrar no youtube, foi logo no começo da carreira, quando Roberto pega de voleio, um cruzamento, e acerta na veia, uma pintura.

Na despedida, Roberto gravou belíssima mensagem aos seguidores, afirmando continuar no coração de cada um, depois de deixar o campo da vida. Mesmo em seus acréscimos, Roberto comemorou um gol do Vasco, acamado, esperando o apito final. Roberto me cativou, não só pelo grande artilheiro, mas pela pessoa dele: espero honrar seu legado no meu nome – Paulo Roberto.

Paulo Roberto Leandro é jornalista e professor doutor em Cultura e Sociedade.

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