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Santo Maldito, no Star+, trata da fé e dos conflitos que ela desperta

Um militante ateu e autor de livros que pregam o ateísmo se transforma num pastor religioso, depois que sua esposa, milagrosamente, sobrevive a uma tragédia. É esse o papel que marca a volta de Felipe Camargo a um merecido protagonismo depois de décadas em papéis secundários. O ator, que foi revelado nos anos 1980 como uma das grandes promessas de sua geração – além de um dos maiores galãs globais da época -, vive Reinaldo na série Santo Maldito, que estreia nesta quarta-feira (8) no Star+.

A série é dirigida por Gustavo Bonafé, que já tinha, ao menos, duas boas passagens pelo cinema, em filmes muito diferentes um do outro: o primeiro foi Chocante (2017), uma comédia sobre amigos trintões que se reúnem para relançar a boy band que tiveram no passado; o outro é Legalize Já, drama inspirado na formação da banda Planet Hemp. Tem ainda no currículo O Doutrinador, filme de ação inspirado em um anti-herói de HQ nacional.

Felipe Camargo e Augusto Madeira

Suspense dramático
Agora, o cineasta se arrisca num drama com momentos de suspense e, novamente, se sai bem (ao menos, nos dois primeiros episódios, a que o CORREIO teve acesso). Para a criação da série em oito episódios, Bonafé teve o apoio do roteirista Ricardo Tiezzi, cuja formação como mestre em ciência da religião parece ter sido decisiva para a qualidade desses primeiros episódios. 

Embora escorregue em algumas frases de efeito do protagonista, que beiram o clichê, o roteiro explora muito bem a discussão sobre fé, a sua mercantilização e os conflitos internos que ela gera nas pessoas. Reinaldo, que é professor de cursinho, prega o ateísmo também em sala de aula e a esposa, Maria Clara (Ana Flávia Cavalcanti), uma ex-aluna dele, também não acredita em Deus. Nem mesmo quando ela leva um tiro e fica em estado vegetativo no hospital, Reinaldo apela para a fé.

É tão descrente e racional, que decide praticar, por conta própria, a eutanásia na esposa, já que a médica não dá esperança de sobrevida a Maria Clara. Reinaldo entra sorrateiramente na UTI, vai até a cama dela e se prepara para arrancar à força o tubo que mantém a mulher viva. Mas, surpreendentemente, quando arranca o equipamento, ela, num súbito movimento, desperta. Reinaldo não sabia, mas estava sendo filmado por um funcionário do hospital, um homem muito religioso que acredita ter testemunhado um milagre.

Dilema
O enfermeiro leva então o vídeo para a igreja e mostra ao pastor Samuel, interpretado pelo ótimo Augusto Madeira, um dos atores mais presentes no audiovisual brasileiro, quase sempre em papéis secundários, mas que, a essa altura, pelo seu talento e versatilidade, merecia mais destaque. 

Samuel, que também acredita tratar-se de um milagre, decide oferecer todas as suas economias a Reinaldo e lhe propõe que pregue em sua igreja. O ateu, então, vê-se diante de um dilema: como recusar R$ 15 mil para uma breve pregação, enquanto tem uma dívida gigantesca com o hospital em que a esposa dele permaneceu internada?

Ana Flavia Cavalcanti vive a esposa do personagem de Felipe Camargo

“A série fala de muitas coisas. Além da religiosidade, ela também fala sobre a tomada de decisão das pessoas nos momentos difíceis”, afirma o diretor Bonafé. “Fala de como as pessoas são capazes de ir contra os próprios valores em função do desespero em que elas se encontram, levando, às vezes, para um buraco mais fundo. Que, talvez, não seja um buraco, mas seja a luz”, acrescenta.

Para Felipe Camargo, a pregação ateísta de seu personagem talvez esconda a fé que ele tem: “Ele não é um ateu em paz. Reinaldo fala tanto em Deus, que acho que ele acredita em Deus. E ele começa a se realizar na igreja, onde as pessoas vão mudando suas vidas. E isso cria uma revolução muito grande”, afirma o ator.

Com Santo Maldito, o Star+ (streaming que pertence ao grupo Disney e é voltado ao público adulto, ao contrário do Disney+) mostra que, embora ainda não tenha uma produção de séries nacionais frequente como a da Netflix, parece estar um passo à frente da concorrente, que, se leva vantagem na quantidade, perde, até aqui, na qualidade das produções brasileiras. A outra produção nacional do Star+, O Rei da TV, inspirada na vida e na carreira de Silvio Santos, é também muito boa.

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