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Vídeo. “Eles queriam que fosse eu”, diz jovem preso por engano no DF

O auxiliar de soldador Aderson David de Souza, 20 anos, detalhou, em entrevista Metrópoles, todo terror vivenciado nas duas últimas semanas. Ele foi abordado por policiais militares dentro de casa, em Samambaia, e acabou preso injustamente por um assalto que não cometeu. O jovem passou 12 dias detido no Complexo Penitenciário da Papuda e foi solto nessa terça-feira (7/3).

Aderson conta que tinha acabado de chegar do trabalho quando o primo pulou o muro de sua casa e pediu que se escondesse ali. O adolescente tinha participado de um assalto na região e roubado os celulares e a bolsa de um casal. O soldador pediu que o menor confessasse o crime antes que os policiais o abordassem em casa.

“A polícia entrou na minha casa e o abordou dentro do quarto. Depois, tirou foto de todo mundo que estava na casa. Quando eles tiraram foto eu estava sem blusa e de cordão, aí eles mandaram para as vítimas e elas não me ‘reconheceram’. Os policiais foram embora e, depois de 10 minutos, voltaram e me abordaram dizendo que a vítima tinha ‘me reconhecido’”, lembra Aderson.

Justiça manda soltar jovem preso por engano após falha da PMDF em ocorrência

Confira a entrevista completa:

Os policiais militares enviaram uma foto de Aderson para a vítima, dona da bolsa, e ela disse que ele teria sido o assaltante em questão. No momento, o adolescente que cometeu, de fato, o crime estava de jaqueta preta e teria puxado mochila da mulher. Dois dias depois, o rapaz passou por audiência de custódia e teve a prisão em flagrante convertida em preventiva.

“Mesmo eles [os policiais] tendo tudo e sabendo que não era eu, mesmo eu tentando provar que não era eu, foi como se eles quisessem que fosse eu. Mesmo todo mundo falando que não, eles queriam que fosse eu”, comentou Aderson.

A liberação do jovem ocorreu por decisão da Polícia Civil (PCDF), que reviu a prisão e percebeu que houve erro na condução do caso. Além dos depoimentos, todas as imagens de câmeras de segurança que flagraram o momento do assalto, comparadas com fotos de Aderson, provam a inocência do rapaz.

No inquérito, a Polícia Civil do DF chega a relatar que “há ausência de credibilidade no reconhecimento realizado pelas vítimas, que se basearam exclusivamente em suas vestimentas, as quais não ostentava quando foi encontrado pelos militares”.

“Pela própria análise das imagens, sem muito esforço, é possível visualizar três indivíduos, um com moletom preto, outro com um moletom azul e o terceiro com um moletom vermelho, que em nada se assemelham a Aderson. Trata-se de indivíduo que não possui antecedentes criminais e com emprego fixo”, aponta o relatório da PCDF.

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Aderson tem 20 anos, mora na Samambaia e é auxiliar de soldadorWey Alves/Especial Metrópoles

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Aderswon foi solto na terça-feira (7/3)Wey Alves/Especial Metrópoles

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Ele foi acusado de assaltar um casal na Samambaia Wey Alves/Especial Metrópoles

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Policiais tiraram uma foto de Aderson e a vítima o reconheceu como um dos criminosos Wey Alves/Especial Metrópoles

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Ele contou ao Metrópoles que passou dificuldades na PapudaWey Alves/Especial Metrópoles

12 dias na prisãoPreso por quase duas semanas, o jovem disse que viveu experiências difíceis na Papuda. Durante a entrevista à reportagem, Aderson perguntou se poderia permanecer de boné pois estava com “vergonha dos cabelos raspados”. Vaidoso e envergonhado, o auxiliar de soldador pediu desculpas por uma marca no rosto que ganhou depois de uma briga na cadeia.

Além do sentimento de injustiça e incapacidade, Aderson contou que sentiu medo do convívio com os detidos. Segundo o jovem, por qualquer motivo os homens acabavam brigando e arrumando confusão. “O que mais me deixou com medo foram as brigas, porque lá qualquer motivo os caras têm briga e têm morte”, relembrou.

Além disso, o jovem relata dificuldades para se alimentar na cadeia. Ele contou que, em uma ocasião, a comida da prisão parecia estar estragada.

“O que eu mais senti falta foi da comida. A comida lá não é muito boa. Sei lá, teve um dia lá que parecia que estava estragada. Aí a gente, na fome, ou come ou fica com fome, então é melhor comer”.

DefesaDesde que Aderson foi preso, a família reuniu provas e testemunhas para comprovar que o jovem não estava envolvido no crime. A mãe dele, Edileuza Barbosa de Souza, 41, afirmou que não conseguiu dormir nenhum dia desde que filho foi levado à Papuda.

“Não fiquei em paz, porque não tem como ficar. Eu ficava imaginando que meu filho estava lá sofrendo e pagando por um crime que não cometeu. Meu filho nem tem passagens na polícia, não podia sofrer uma injustiça dessas”, disse.

Edileuza conseguiu provar, por meio de câmeras de segurança da rua onde o assalto foi cometido e por relatos de testemunhas que estavam com o jovem na hora do crime, que ele não era um dos suspeitos. A PCDF afirmou que, assim que tomou conhecimento da “ausência de credibilidade no reconhecimento realizado pelas vítimas”, tomou providência.

O advogado de defesa do jovem preso injustamente, Walisson dos Reis, afirma que “não se faz justiça cometendo ilegalidade e injustiças em nome do Estado brasileiro”. “O reconhecimento ilegal feito por policiais militares, em enviar a foto dos suspeitos para que as vítimas já soubessem quem iria ser reconhecido, é muito grave e viola decisões de tribunais superiores”, afirmou.

Walisson pretende processar o Estado por danos morais.

Em nota, a PMDF informou ser “comum” que policiais militares fotografem suspeitos. “Isso evita que a vítima tenha contato com um possível autor do crime, eliminando qualquer tipo de constrangimento entre as partes. Além disso, as imagens dos detidos devem constar nos relatórios elaborados eletronicamente pelos policiais”, comunicou a corporação.

“O próprio relatório enviado tem o depoimento da vítima, relatando que reconhecia o homem preso por engano como o autor do roubo […], o que motivou a ação policial. No relatório da Dicoe [Divisão de Controle de Denúncias da Polícia Civil] consta que um dos foragidos foi detido com Aderson após pular o muro da casa dele […]. Coube aos policiais deterem todos para elucidação dos fatos. Vale salientar que o policial militar somente conduz as partes para delegacia, cabendo ao delegado a decisão de manter o suposto autor preso ou não”, concluiu a PMDF.

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