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Cortella e o filho Pedro se reúnem em podcast sobre conflito de gerações

É citando o escritor libanês Khalil Gibran que Mario Sergio Cortella encerra a conversa com o CORREIO, para definir o que é o seu podcast, que estreia nesta terça-feira (14) no Amazon Music: “Khalil Gibran dizia que as grandes dores são mudas. O que nós queremos no podcast é desmudecê-las”.

‘A Grande Fúria do Mundo’ vai discutir temas como arte, literatura, psicologia e filosofia, em encontros entre Mario Sergio, de 69 anos, e seu filho mais novo, Pedro, de 39. O título da produção é uma referencia à música Pais e Filhos, da Legião Urbana, em que Renato Russo, a determinada altura, pede, desesperado: “Explica a grande fúria do mundo”.

Mas, afinal, o que significa essa tal “grande fúria”? “Gosto muito de lembrar que a noção de fúria não é obrigatoriamente de algo que é ameaçador, nem apocalíptico. A ideia de fúria é da energia intensa, daquilo que faz com que a gente tenha que lidar com momentos que nos levam a um tipo de ‘chacoalhamento'”, explica Mario Sergio.

Pedro, que é jornalista, revela sua admiração por Renato Russo, compositor de Pais e Filhos, com Marcelo Bonfá e Dado Villa-Lobos: “Renato Russo era tão genial que, no mesmo verso da música, ele bota a pergunta mais básica da infância, ‘por que o céu é azul’, e, logo na sequência, ele encaixa talvez a mais complexa da humanidade, que é pedindo uma explicação para a grande fúria do mundo”.

“A grande fúria do mundo é esse movimento incessante da vida onde nós aqui estamos, não vemos toda a clareza do sentido de estarmos e desejamos continuar. Pra isso, temos de entender, pra não perdermos a autonomia, a capacidade de liberdade. Então, no podcast, a gente quer conversar sobre isso”, diz Mario Sergio.

A ideia de reunir pai e filho na mesma mesa para um debate de ideias é promover um “duelo” de gerações, segundo Pedro. Para o jornalista, é preciso explicar por que existe um “gap” entre a infância e a idade adulta. “Explicar como, sendo seres humanos, a gente tem essa relação com o outro, a relação entre o mais velho e o mais novo”, define Pedro.

Conceito de “geração”

O conceito de “geração”, no entanto, parece ter se modificado muito de uns tempos para cá, principalmente, com a popularidade das redes sociais, que acelerou a mudança de cultura e de hábitos. “Se um vírus, infelizmente, demora 24 horas pra atravessar o planeta, há coisas muito boas que demoram alguns segundos para isso. Sem dúvida, há 30 anos, a gente definia uma geração como um tempo de 25 anos, na suposição de que alguém aos 25 anos seria pai, como eu fui. A ideia de geração era mais estendida. Hoje, há um encurtamento, porque as questões se sucedem como um tsunami no nosso dia a dia”, explica Mario Sergio.

Um dos episódios vai tratar das bolhas sociais, que, para Mario Sergio, está relacionada também a essa questão das gerações. O filósofo diz que, muitas vezes, o que está ‘bombando’ no celular de um jovem não é aquilo que aparenta ser sucesso no aparelho de  alguém mais velho. E é isso que vai ser abordado neste episódio, que será disponibilizado em breve.

Pedro observa que, dentro de uma mesma casa, as pessoas veem e recebem informações diferentes, porque o algortimo individualizou as referências. “Nosso podcast acaba sendo um embate de referências. O meu pai com as dele, do mundo acadêmico e eu com as minhas, de uma cultura pop, que cresceu mais ligado à mídia audiovisual”, revela o jornalista.

Filósofo, Cortella, assim como alguns colegas acadêmicos, às vezes é acusado de banalizar a filosofia ou de torná-la simplória. Companheiros de trabalho dele, como Leandro Karnal e Luiz Felipe Pondé, que, como ele levaram a filosofia para as redes sociais, sofrem as mesmas acusações. Mas Cortella dá atenção a essas críticas? “Há mesmo um grande risco de banalizar a filosofia. Temos que tomar cuidado o tempo todo. Eu, Karnal, Pondé, Clóvis [Barros Filho, jornalista e bacharel em direito] passamos pelos ritos da universidade Mas uma coisa é tornar a filosofia mais amplificada; outra, é torná-la banal. Em vez de tornar a filosofia simples, que é o que desejo, será que a estou tornando simplória? Temos que tomar cuidado com isso. Não ouço esse tipo de fala como ameaça, mas como uma advertência”.

Os doze episódios de A Grande Fúria do Mundo estarão disponíveis semanlmente, a partir desta terça-feira (14) e cada um tem uma hora de duração. A produção é liberada na Amazon Music para membros Prime e assinantes do Amazon Music Unlimited.

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