InícioEditorialEsportesConheça a origem dos times de Salvador através das suas cores

Conheça a origem dos times de Salvador através das suas cores

Já imaginou um Ba-Vi com o Vitória de uniforme verde e amarelo e o Bahia vestindo azul, preto e branco? Isso nunca aconteceu, mas poderia ter acontecido se detalhes na fundação dos dois principais clubes de Salvador na atualidade não dessem uma guinada cromática na história.

Veja a seguir o motivo que levou os times da cidade a adotarem as cores que têm – ou que tinham, já que o Vitória e o Ypiranga mudaram ao longo do tempo. 

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Jogadores do Vitória em foto supostamente de 1902 (Foto: Reprodução EC Vitória)

VITÓRIA
O ano é 1899, finalzinho do século XIX, e um grupo se reúne em um casarão no Corredor da Vitória. Naquela parte da cidade, onde os jardins à frente das fachadas sinalizam a influência da colônia britânica no local, 19 jovens estavam imbuídos a criar seu próprio clube de cricket, esporte tradicional entre os ingleses e que, através da convivência, eles haviam aprendido e queriam praticar também.

Assim nasceria então o Club de Cricket Bahiano, mas ao longo da reunião, segundo contado na revista histórica Um Menino de 84 anos (1983), de autoria de Fernando Protásio, “alguém ampliou: Club de Cricket Brasileiro, que teria as cores da pátria”. O Vitória seria verde e amarelo.

O nacionalismo só não imperou devido a uma ponderação que fazia muito sentido há 124 anos. Encontrar tecido naquelas cores era uma missão difícil e custosa, o que levou Juvenal Teixeira, um dos fundadores, a sugerir que o padrão fosse preto e branco.

Curioso que as cores guiaram o nome. Junto com o verde e amarelo, caiu por terra o “Brasileiro” e entrou o nome da localidade. E assim surgiu o Club de Cricket Victoria. Preto e branco.

O Victoria, no entanto, durou pouco como alvinegro. Há uma pequena divergência nos registros históricos se a mudança para vermelho e preto ocorreu em 1901 ou em 1902, mas não há dúvida quanto à motivação: o associado César Godinho Spínola, ex-remador do Flamengo, propôs criar uma sede náutica (que ficaria na Barra) e, no embalo, sugeriu adotar a mesma combinação cromática dos cariocas.

Além de rubro-negro, o nome acabaria sendo alterado para Sport Club Victoria, pois a agremiação já não praticava só cricket – com o remo, vieram também a natação, o atletismo e o futebol.

Time do Bahia em 1931, ano da fundação. Essa faixa na cintura era vermelha, formando as cores do estado (Foto: Reprodução EC Bahia)

BAHIA
Fundado em 1º de janeiro de 1931, o Bahia já nasceu azul, vermelho e branco. Mas bem que o tricolor poderia ter tido preto no lugar do vermelho. A explicação está na gênese do clube.

Na década de 1920, o futebol baiano era dominado pelo Ypiranga e pelo Botafogo. Até que a dissolução dos departamentos de futebol da Associação Atlética da Bahia, campeã em 1924, e do Clube Bahiano de Tênis, campeão em 1927, levaria ao surgimento de um novo time na cidade.

Segundo consta no Museu do Bahia, instalado na Arena Fonte Nova, “de um encontro casual dos amigos Carlos Koch, Eugênio Walter de Oliveira (Guarany), Fernando Tude, Julio Almeida e Waldemar Costa, em 8 de dezembro de 1930, no Jockey Clube da Bahia, nasceu a ideia da criação do Sport Club da Bahia”. Os quatro primeiros eram ex-jogadores do Bahiano; Waldemar, da Associação Atlética. A sede do Jockey ficava na Rua Carlos Gomes.

A agremiação se originou, portanto, dessa fusão entre jogadores da Associação Atlética, que era azul e branco, e do Bahiano, preto e branco. Mas as cores não se misturaram integralmente. Em uma reunião marcada para quatro dias depois, ampliada para mais interessados, decidiu-se que a camisa seria branca (do Bahiano) e o calção azul (da Associação), contendo uma faixa vermelha na cintura e formando as cores do estado.

Esses mesmos jogadores que saíram da Associação Atlética e do Bahiano haviam formado o Atlético Bahianinho, que disputava partidas amadoras. No entanto, a homenagem ao estado se estendeu também ao nome do novo clube, que na grafia da época se chamou Sport Club Bahia.
 

Ypiranga voltou a usar verde e branco na década de 1960 (Foto: Acervo de Antonio Matos)

YPIRANGA
O Ypiranga não tinha o amarelo e preto quando surgiu. É uma derivação do Sete de Setembro Sport Club, fundado em 1904 com as cores verde e branca. Só em 1906 foi rebatizado para Sport Club Ypiranga.

Há duas vertentes para explicar quando ocorreu a mudança de cores. Uma delas, defendida pelo professor Bernardo Improta, que foi presidente do Mais Querido até 2005, é de que a troca de nome já foi acompanhada da alteração para amarelo e preto. E que ambas se devem a um lote de uniformes que, por erro da fábrica, foi confeccionado nas cores erradas.

A outra vertente é que isso só aconteceu em 1914, quando Augusto Maia Bittencourt assumiu como presidente. E a mudança teria sido por um viés econômico, já que ele possuía camisas com listras verticais em preto e amarelo, que foram aproveitadas como medida de economia. Tal história encontra-se no livro Pugnas Renhidas (2014), de Henrique Sena dos Santos.

Um fato pitoresco aconteceu em 1962. Vale aqui uma contextualização: o Ypiranga viveu seu reinado futebolístico de 1917, quando conquistou seu primeiro título baiano, até 1932, ano do oitavo. Atualmente tem dez, sendo o último datado de 1951, quando também ganhou o Torneio dos Campeões do Norte-Nordeste.

Portanto, em 1962, já eram 11 anos sem levantar uma taça, tempo demais para um time do porte do que havia sido o Ypiranga. A “solução” encontrada pelo então presidente Humberto Rebouças foi inusitada: mudou os símbolos do clube, na esperança de voltar a ganhar troféus. Ele retomou as cores verde e branca da origem e foi além, alterando até o nome, de Esporte Clube Ypiranga para Clube de Futebol Ypiranga, e o mascote, de canário para periquito.

A superstição não deu resultado: o time continuou sem ganhar e, poucos anos depois, voltou a ser aurinegro – e a adotar o nome e o mascote tradicionais.
 

Jogadores do Galícia na década de 1930 (Foto: Galícia EC/Divulgação)

GALÍCIA
Clube da colônia espanhola na cidade, o Galícia adota as cores e o nome da região que homenageia, no noroeste da Espanha. O escudo do clube, fundado em 1º de janeiro de 1933, deixa evidentes outras referências à pátria-mãe.

O azul aparece em uma faixa diagonal, tal qual na bandeira da Galícia. E o Galícia Esporte Clube ainda carrega no distintivo a cruz de Santiago, referência ao apóstolo cujos restos mortais estão na cidade de Compostela, localizada na mesma região.

Em campo, a maior glória do time é ser o primeiro tricampeão baiano, de 1941 a 43. Tem cinco títulos ao todo – os outros em 1937 e 1968. Vai disputar a segunda divisão do estadual nesta temporada, com início em 14 de maio.

Time do Botafogo em imagem supostamente do ano de 1919. Na camisa do goleiro, as iniciais BSC de Botafogo Sport Club (Foto: Reprodução)

BOTAFOGO
A história do quarto maior campeão baiano de todos os tempos, o Botafogo Sport Club, começou no dia 1º de novembro de 1914 graças a um sargento do Corpo de Bombeiros, Antônio Valverde Veloso, que se inspirou na corporação ao escolher as cores do clube. O nome Botafogo também é uma referência indireta – e pode-se dizer paradoxa.

Atualmente, o Botafogo está com o departamento de futebol profissional inativo. Recentemente, o clube disputou o Campeonato Baiano da primeira divisão em 2013 (tendo revelado o atacante Keno, atualmente no Fluminense) e em 2014, ano da última participação.

Também jogou a segunda divisão estadual no ano passado, mas não vai disputar a edição atual. Mantém um trabalho de divisão de base em Salvador.

Este conteúdo especial em homenagem ao Aniversário de Salvador integra o projeto Salvador de Todas as Cores, realizado pelo Jornal Correio, com patrocínio da Suzano, Wilson Sons, apoio institucional da Prefeitura de Salvador e apoio da Universidade Salvador – Unifacs.

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