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Sobe o Som: conheça detalhes sobre o autoral e controverso álbum de Adriana Calcanhotto

‘Errante’ vem da palavra em latim ‘errans’, que significa “o que anda sem destino”, “o que não acerta”. Em português, ela também pode significar ‘uma pessoa erradia’, ‘perdida’. Esse duplo sentido dá nome ao mais novo álbum da cantora e compositora Adriana Calcanhotto, tema do quadro Sobe o Som desse mês, que fala sobre novidades musicais. O Sobe Som é uma iniciativa do #correio24horas, lançada no São João de 2021, para falar de música brasileira. 

Com onze faixas inéditas, Errante traz composições feitas principalmente na estrada. Mesmo sob diferentes perspectivas, as faixas refletem sobre esse ‘ser itinerante’, que carrega a casa no corpo, atravessa desertos mesmo preferindo o mar, e se desapega de lembranças transformando-as em poesia. 

Diferente do álbum antecessor, o Só, de 2020, Errante marca o reencontro de Adriana ao estúdio com todos os músicos presentes. Isso porque ‘Só’ foi construído com todos os participantes separadamente no confinamento da pandemia. Já no novo álbum, a cantora se juntou a Alberto Continentino (baixo, piano e lira), Davi Moraes (guitarra e violão), Domenico Lancellotti (bateria e percussão), Diogo Gomes, Jorge Continentino e Marlon Sette (instrumentos de sopro) numa casa na serra do Rio de Janeiro para dar forma ao disco. 

No estúdio, Adriana apresentava suas composições em forma de samba, e os músicos encaixavam outros ritmos, construindo a polirritmia que sempre acompanha a cantora. Funk tocado no violão, xote, maxixe, samba, rock, tudo tão bem misturado que é difícil de definir. E isso é ressaltado em ‘Prova dos Nove’, música que abre o álbum. Nela, Adriana reafirma suas escolhas através da ligação às ideias modernistas, antropofágicas e tropicalistas. Ou seja, ela come a cultura brasileira para criar algo seu. 

Inclusive, ela tem uma peculiaridade de compor com violões amaciados por outros artistas. No caso de Errante, Adriana compôs e gravou com o violão de Nara Leão e do cantor das multidões, Orlando Silva. “Esses violões chegaram a mim e, graças a deus, vieram parar comigo porque as pessoas que são suas fiéis depositárias sabem que esses instrumentos vão ser felizes aqui, que vou compor com eles.”, afirma a cantora. 

Mas, nem tudo são flores. É inevitável não colocar em observação o trecho ‘não me quer porque sou branca’, na música “Quem te disse?”. Sabemos que o eu-lírico é ela, mas por todo histórico no nosso país relacionado à solidão na mulher negra, dá um engasgo ouvir essa afirmação.  

De qualquer forma, tem gente especulando que essa música é uma indireta a Maitê Proença, com quem Adriana teve um relacionamento até 2022. Um dos versos que apontam a possível indireta é “Não me quer por ser mulher”. Isso porquê, pouco antes do fim da relação, Maitê deu uma entrevista revelando: “Eu queria que ela fosse homem. Para essa atividade, sempre gostei mais de homem. Mas ela é mulher, gosto dela e aceito.” Se foi indireta ou não, isso fica na imaginação do ouvinte, porque Adriana não confirmou nada.  

A última música do álbum foi composta durante uma viagem de ônibus com Gilberto Gil na Europa. Adriana brinca que ‘[ia] catando a poesia que entornas no chão’, remetendo a música Vitrines de Chico Buarque. No caso, ela foi recolhendo frases que Gil soltava na viagem, e inspirada pela conversa que tiveram sobre a estrada, Adriana criou a letra de “Nômade”. 

Errante parece conectar Adriana Calcanhotto com suas diversas fases nos últimos 30 anos. Sua ‘errância’ a acompanha desde seu primeiro álbum, Enguiço, de 1990. Agora, em 2023, Adriana não é apenas uma artista consolidada no cenário nacional e de outros países. Com maturidade, ela se permite errar e vagar entre as possibilidades infinitas de sua arte, sem se perder de si.  
 

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