“É música de nossos ancestrais, coisa nossa, lá do Recôncavo”, diziam Mateus Aleluia, Dadinho e Badu ao serem questionados pelo produtor musical Adelzon Alves sobre o significado das letras de suas músicas.
Responsável pelo lançamento de nomes como Clara Nunes, Dona Ivone Lara, Clementina de Jesus, Martinho da Vila, Alcione e João Nogueira, o produtor até já tinha visto alguns refrões em sambas-enredo da Portela cantados em iorubá. Mas uma música completa? Um disco inteiro? Isso aí era novidade.
Mas aquele trio cachoeirano despertava alguma coisa nos ouvidos e juízo do produtor. Algumas coisas, várias coisas para ser mais exato. As vozes, os arranjos, a elegância dos três
“É música de nossos ancestrais, coisa nossa, lá do Recôncavo”, diziam Mateus Aleluia, Dadinho e Badu lá nos anos 70, ao serem questionados pelo produtor musical Adelzon Alves sobre o significado das letras de suas músicas.
Responsável pelo lançamento de artistas como Clara Nunes, Dona Ivone Lara, Clementina de Jesus, Martinho da Vila, Alcione e João Nogueira, o produtor até já tinha visto alguns refrões em sambas-enredo da Portela cantados em iorubá. Mas uma música completa? Um disco inteiro? Isso aí era novidade.
Mas aquele trio cachoeirano despertava alguma coisa nos ouvidos e juízo do produtor. Algumas coisas, várias coisas para ser mais exato. As vozes, os arranjos, a elegância dos três cantadores mexia em algo que ele só sabia ser muito íntimo e sincero. Por isso, queria não somente trabalhar com eles, mas também conhecer a fundo sobre aquele mistério instigante por trás das músicas que Os Tincoãs faziam.
Com o tempo, e escutando pessoas em países como Nigéria e Angola, ele foi descobrindo a preciosidade que era o trabalho daqueles três. Descobriu que a Bahia conseguiu preservar linguagens como o banto e o iorubá arcaicos, algo impressionante e relatado por altas lideranças do candomblé no continente africano. Uma parte inédita dessa história será revelada nesta quinta (20), quando o álbum inédito Canto Coral Afrobrasileiro será lançado: um registro feito entre 1982 e 1983, antes dos três partirem para Angola.
Gospel afrobrasileiro
Segunda faixa do disco, Oiá Pepê Oiá Bá foi lançada no último dia 6 de abril. Certamente você já escutou o ritmo e letra muito parecidos, mas na voz de Daniela Mercury ou de Margareth Menezes, em Oyá Por Nós.
Seu Mateus e Badu são os dois remanescentes vivos do trio. Dadinho morreu no ano de 2000, em Angola, onde ficou depois da viagem que deu sequência à vida dos três após a gravação do álbum. O lançamento no ano em que o trabalho completa 40 anos é um desejo de Seu Mateus, que toca os atabaques.
São dez faixas, quatro nunca gravadas. E seis gravadas com o coral dos Correios e Telégrafos do Rio de Janeiro. Todas as músicas do álbum foram compostas e adaptadas pela dupla Mateus e Dadinho e também serão lançadas em vinil.
“O trio deles era muito bonito vocalmente falando e cantando um tipo de música que inicialmente eu também não entendia. O tema de uma escola de samba, como a Portela, fez Ilu Aiyê Odara [de 1972], que significa terra de gente boa [na realidade, significa Terra da Vida]. Mas era só no refrão. Eles cantavam a música inteira em um idioma que eu não sabia o que era”, conta Adelzon.
O produtor carioca, hoje com 83 anos, conta que queria fazer dos Tincoãs o gospel afrobrasileiro e afirma que o grupo tem importância fundamental para compreensão da antropologia e história brasileira.
O próprio Mateus Aleluia só foi saber da existência do trabalho em 2003 – um ano depois de retornar de Angola. Quando o grupo partiu para a África, Adelzon cuidou de tudo. Mixou, masterizou e guardou. Entregou a Mateus o trabalho digitalizado em CD, quase 20 anos após a gravação.
“Foi uma surpresa muito grande tomar conhecimento deste trabalho, mesmo vinte anos depois que foi gravado, em 2003, quando retornei de Angola e, agora, ele vai ser apresentado ao público também praticamente 20 anos depois. É bonito isso. É um trabalho atemporal porque o homem talvez tenha sido projetado para ser atemporal, evoluir, mas ser atemporal”, reflete seu Mateus, em nota.
Depois de receber o CD, ele leu no jornal que o jovem produtor Tadeu Mascarenhas inaugurava seu estúdio de gravação e sonhava trabalhar com ele ou qualquer material relacionado a Os Tincoãs. O que Mateus fez? Foi ao estúdio do rapaz sem lenço nem documento – mas com o disco em mãos.
O resgate, de fato, aconteceu por meio da parceria com a cineasta e produtora baiana Tenille Bezerra, diretora do documentário Aleluia, O Canto Infinito do Tincoã (2020). Entusiasta do grupo e do lançamento da obra inédita, abraçou a produção executiva do trabalho que, agora, finalmente, será lançado nas plataformas digitais, pela Natura Musical, via FazCultura.