O Esporte Clube Vitória parece ter sido o primeiro clube de futebol do Brasil a vestir as cores verde e amarelo, 11 anos antes de constituída a Seleção Brasileira que disputaria a Copa Roca, na Argentina. Foi na tarde de 28 de junho de 1903, num jogo amistoso – ainda não tinha sido estruturado o Campeonato Baiano de Futebol e nem existia a Liga Baiana de Esportes Terrestres – realizado no Campo dos Mártires, atual Campo da Pólvora. Naqueles idos, a convocação dos jogadores era feita através de um bilhetinho, os atletas receberam o comunicado em mãos, assinado por Alberto Moraes Martins Catharino e Álvaro Tarquínio.
O convite do acervo de Zezé Catharino, já falecido, dizia: “Temos a honra de convidar-vos para uma partida de “Foot-Ball”, que se realizará no próximo domingo, 28 do corrente. Caso não possais comparecer à referida partida, pedimos o obsequio de avisar até o dia 25 do corrente. Lugar: Campo dos Martyres; Horas: 4 horas da tarde; Vestimenta: Camisa verde e amarela (verde do lado esquerdo e amarela do lado direito, calça branca e meias até o joelho); Kick-off: 4 horas e meia da tarde”.
Desde sua fundação, em 13 de maio de 1899, o então Clube de Cricket Vitória já desejava a camisa verde amarela, que não chegou a usar nos jogos desse esporte. A sugestão partiu de Alberto Teixeira, de início saudada com entusiasmo, não concretizada após as ponderações de Juvenal Teixeira que alegou a dificuldade de se achar à venda, no comércio, camisas com essas cores, teriam de ser confeccionadas. Mais prático e mais barato, esclareceu o Dr. Juvenal, seria usar as cores preto e branco. Quatro anos depois, já praticando o futebol, o clube aderia às cores verde e amarelo e com camisas confeccionadas por costureiras.
Vestiram a camisa verde e amarelo, no jogo amistoso realizado na data referida: Luiz Tarquínio Filho, Álvaro Tarquínio, Juvenal Tarquínio, José Nova Monteiro, Zacharias Nova Monteiro, Arthur Moraes, Armando Gordilho, Pedro Ferreira, Augusto Carvalho, José Ferreira e Alberto M. Martins Catharino. Cada jogador contribuiu com 2.545 Reis. No segundo jogo, que contou com Júlio Bompet, (irmão de Benjamin, fundador da Associação Bahiana dos Cronistas Desportivos) no elenco, o aporte de cada jogador foi de 5.150 Reis. Era assim, os jogadores pagavam para jogar. As despesas cobriam os custos com aluguel de cadeiras para as mulheres, capinação do terreno, gratificação dos músicos, aluguel de carroças, placas, arame, travessas e bandeiras… E pagava-se um menino para ficar no campo o dia todo, certamente para não mexerem na arrumação.
Nesse mesmo ano de 1903, posterior ao jogo com as cores verde e amarelo aqui mencionado, o primeiro de três, o clube imprimiu seus estatutos na Litho-Tipografia Almeida. Previa, em caso de dissolução, a liquidação de seus bens, distribuídos assim os valores: 50% para o Asilo da Mendicidade e 50% entre os sócios. Para se associar era preciso ser maior de 18 anos, natural de qualquer estado ou país, ter bom comportamento e ser indicado por algum sócio, avaliada a proposta por uma comissão de sindicância. O estatuto definia as cores para os esportes terrestres: casquete preta (boné), com monograma vermelho, camisa listrada preta e vermelha, cinto e sapatos brancos (sola de borracha) e meias e calções pretos.
Do elenco que vestiu verde e amarelo, em 1903, apenas três formaram, em 1908, a equipe que conquistou o título da primeira divisão, no terceiro ano do campeonato baiano, disputado no campo do Ground do Rio Vermelho: Álvaro Tarquínio que era o chamado chefe de campo (capitão) e que atuava como atacante, Alberto M. Martins Catharino, e Armando Gordilho.
Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às quintas-feiras