“Nenhuma voz cantando forró combinou tanto com a sanfona, a zabumba e o triângulo, como a voz de Lindu (do Trio Nordestino). Fosse na divisão, no ritmo, na animação, tudo se combinava como fogueira na noite de São João. Viva Lindu, a eterna grande voz do Forró.”
Esse depoimento do cantor e compositor Carlos Pitta vai ao encontro do que o grande Luiz Gonzaga falou numa entrevista que eu postei no Baú do Marrom da semana passada, defendendo que, sem música de Luiz Gonzaga, não existe São João. “Certa vez, em 1988, Gonzagão chegou a declarar que o baiano Lindu, o cantor da primeira formação do Trio Nordestino, cantava melhor do que ele.”
Mas afinal quem foi Lindu? Lindolfo Mendes Barbosa, mais conhecido como Lindu, nasceu na cidade de Entre Rios, na Bahia, no dia 11 de outubro de 1941. Cantor, compositor e sanfoneiro, ele morreu em 25 de janeiro de 1982, aos 41 anos, de insuficiência renal.
Por sua importância tanto no Trio Nordestino quanto na disseminação do forró em todo o Brasil, ao lado de grandes mestres, Lindu tem um verbete no Dicionário Cravo Albim da Música Popular Brasileira.
Em 1960, foi para o Rio de Janeiro e passou a atuar juntamente com Cobrinha e Coroné, na segunda formação do Trio Nordestino (antes houve um outro Trio Nordestino que não vingou). Em 1964, no primeiro LP do Trio Nordestino, teve gravado o coco “Retrato da Bahia”. Em 1974, suas composições “Vou ver Luzia”, parceria com Antônio Barros, e “Pedido de casamento” foram gravadas por Bastinho Calixto na EMI.
Lindu é o último da esquerda para a direita ao lado de Roberto Carlos e de seus companheiros do Trio Nordestino (Foto: Divulgação) |
Em 1976, o Trio Nordestino lançou o LP “O alegríssimo Trio Nordestino”, com destaque para “Cadeira de balanço”, de sua parceria com Assisão. Em 1977, no LP “Estamos aí pra balancear”, gravaram outra música de sua autoria, em parceria com Assisão: “Menina apimentada”, um dos destaques do disco.
Em 1980, o Trio Nordestino lançou pela Copacabana o LP “Corte o bolo”, com destaque para “Toque toque”, de sua autoria com Barthô Galeno. Outras de suas composições gravadas pelo Trio Nordestino foram: “Arte culinária”, com Pinto do Acordeom; “Baiano bom era meu pai”, com Toninho; “Vamos farrear”, com Luiz Moreira; e “Forró desarmado”, com Cecéu. Faleceu no início dos anos 1980.
Em 1999, teve as composições “Se meu amor não chegar”, com Wilson Nascimento, e “Eu te peguei no fraga”, com Genival Santos, gravadas pelo cantor brega Falcão no CD “500 anos de chifre – O brega do brega”. Em 2004, suas composições “Dom Francisco, Dom Tomé”, com Assisão, e “Arte culinária”, com Pinto do Acordeom, foram gravadas pelo Trio Nordestino no CD “Baú do Trio Nordestino – 2 – com convidados”.
Músicas como “Procurando Tu”, “O Neném”, “Tem Tanta fogueira”, entre outras, até hoje constam do repertório de grandes artistas de forró. O Trio Nordestino original foi formado no início de 1958 por Lindu (voz e sanfona), Coroné (zabumba) e Cobrinha (triângulo).
Fazendo o circuito de casas noturnas de Salvador, quando estavam trabalhando para a boate Clock, conheceram o recém-contratado Gordurinha, músico e compositor que iria abrir as portas do Rio de Janeiro. Com a promessa de gravar um disco, Gordurinha levou o trio para a Odeon Records e RCA Victor, onde não tiveram oportunidade. Numa nova tentativa, desta vez na Copacabana, passaram no teste dirigido por Nazareno de Brito. Contratados, gravariam em dez dias um LP e Tape com 12 músicas.
O Trio Nordestino existe até hoje formado por descendentes dos músicos da formação original. Mas sem o brilho vocal de Lindu, que deveria ser mais lembrado pelas novas gerações.
O projeto São João em todo canto é uma realização do jornal Correio com patrocínio da Via Bahia e apoio da Larco Petróleo.