A próxima eleição para o comando das mesas diretoras do Congresso acontece só no início do ano que vem, mas a disputa pelos cargos de direção já está impactando na agenda legislativa e na relação entre os Poderes da República.
Nesse cenário, votações cotidianas – sobretudo na Câmara – têm sido encaradas em Brasília como demonstrações de força ou fraqueza de cada grupo político. Isso aconteceu com a manutenção da prisão do deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), suspeito de mandar matar a vereadora Marielle Franco, que alguns observadores apontaram como uma derrota para o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL).
Lira não gostou nada dessa interpretação e tornou pública uma tensão com o governo Lula que vinha esquentando, mas nos bastidores. “Essa notícia hoje, que você está tentando verbalizar, porque os grandes jornais fizeram, foi vazada do governo e basicamente do ministro Padilha, que é um desafeto, além de pessoal, incompetente. Não existe partidarização, eu deixei bem claro que ontem a votação é de cunho individual, cada deputado é responsável pelo voto que deu. Não tem nada a ver”, disparou Lira em referência ao ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais. Padilha é o responsável principal pela articulação do governo Lula com o Congresso.
O atual presidente da Câmara não pode mais concorrer à reeleição e tenta emplacar um aliado para o biênio 2025-2026. Um dos favoritos do alagoano é o deputado Elmar Nascimento (União Brasil-BA). No entanto, esse possível sucessor de Lira articulou e votou pela soltura de Brazão, se tornando sócio nessa derrota, e seus adversários tentam se aproveitar disso.
Governo federal aguarda Sem maioria na Câmara, o PT de Lula não tem condições de disputar o comando da Casa e deve apoiar um aliado do Centrão. No governo, porém, o nome do candidato favorito de Lira não é bem aceito e outros parlamentares têm articulado o futuro apoio de Lula, que ainda resiste a entrar diretamente na disputa. Entre os “pré-candiatos” estão os deputados Antônio Brito (PSD-BA), Isnaldo Bulhões (MDB-AL) e Marcos Pereira (Republicanos-SP).
Mostrando como os ânimos estão exaltados, a subida de tom do presidente da Câmara gerou rápida repercussão entre os ministros da gestão Lula e também de aliados do petista no Congresso Nacional, como o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (sem partido-AP).
“Tenho muito orgulho de ser liderado pelo ministro Padilha na coordenação política do governo, que tem obtido tantas vitórias importantes nas batalhas diárias de reconstrução do Brasil”, escreveu Randolfe na rede social X, antigo Twitter.
A eleição para presidência da Câmara é realizada por voto secreto a cada dois anos. Arthur Lira foi eleito pela primeira vez em 2021 e reeleito em 2023, mas agora está em busca de um sucessor para o seu grupo político manter o controle da agenda legislativa.