É universal a receita dos que estão no poder, ameaçados de perdê-lo, e que dependem do voto para renovar seus mandatos. Em campanha, valem-se de todos os meios para vencer, regulares e irregulares. E no dia da eleição, dificultam o comparecimento às urnas dos que lhe negarem o voto.
Isso é claramente perceptível em países onde a democracia é só de fachada, para enganar os trouxas, como a Venezuela aqui do lado, e em outros onde imperam regimes autoritários que não se envergonham de sua própria natureza, como a Rússia, Hungria e Polônia.
As ditaduras que se assumem como tal não dão satisfação. Algumas usam a máscara de repúblicas populares; outras, de governos de partido único. A ditadura militar no Brasil chamou-se de revolução de 31 de março. Nasceu de um golpe consumado em 1º de abril, o Dia da Mentira.
Para se reeleger, Bolsonaro gastou todo o dinheiro que podia e que não podia gastar, e no dia do segundo turno, a Polícia Rodoviária Federal bloqueou estradas no Nordeste para impedir a passagem de eleitores de Lula. De nada adiantou. A não ser para que ele diga até hoje que perdeu de pouco.
As pesquisas mais recentes dão ao diplomata Edmundo González Urrutia, um sem carisma, candidato da oposição a presidente da Venezuela, uma larga vantagem sobre Nicolás Maduro, o ditador travestido de presidente. Mas nada garante de véspera que ele se elegerá no próximo domingo.
Maduro governa há 11 anos, conta com o apoio das Forças Armadas e controla com mão de ferro a Justiça e a mídia. Parte do seu eleitorado atua em forma de milícias e é pau para toda obra – inclusive a de baixar o cacete que dissemina o medo entre os adversários.
A Venezuela é um estado policial por excelência. Uma das estratégias oficiais do atual governo é desestimular a participação na eleição e conseguir vencer com os votos de sua base. Maduro agiu para que a comunidade internacional não enviasse observadores isentos.
A fraude é uma tentação irresistível para os déspotas, e tanto maior se praticada a salvo do olhar alheio. Da mesma maneira, a coação e a violência. Maduro disse que haverá um banho de sangue se ele for derrotado. No comício de encerramento de sua campanha, voltou a advertir:
“Os próximos 50 anos de paz para a Venezuela dependem do domingo”.
Só um desejo extraordinário de mudança será capaz de tirá-lo do poder. Então, Maduro terá perdido acima de tudo para si mesmo. Como Bolsonaro perdeu em 2022.