InícioNotíciasPolítica“Vamos usar como escada”, diz Caio Bonfim sobre medalha olímpica

“Vamos usar como escada”, diz Caio Bonfim sobre medalha olímpica

Cria do Distrito Federal, Caio Bonfim cravou seu nome na história do esporte brasileiro e mundial ao conquistar a medalha de prata na marcha atlética nas Olimpíadas de Paris 2024. Natural de sobradinho, ele conversou com exclusividade com o Metrópoles e contou um pouco sobre os desafios do último ciclo olímpico, sobre a importância de sua conquista e sobre os desafios que a modalidade ainda enfrenta.

Antes da inédita medalha de prata, Caio viveu momentos de altos e baixos. Nos jogos do Rio 2016, beliscou o pódio e encerrou a prova na 4ª colocação. Em Tóquio 2020, edição que precisou ser adiada por conta da pandemia de Covid-19, o marchador acabou ficando apenas em 19º. Apesar da queda, Caio não se rendeu e persistiu até o resultado em Paris. Ele contou o que o manteve firme no objetivo.

“Ano a ano, é assim que o atleta trabalha. Após o Rio, tivemos um ciclo de diferente, de cinco anos para Tóquio. Não conseguimos fazer um grande resultado, mas fomos medalhistas no Pan-Americano em 2019. Bati recorde Sul-Americano, Brasileiro em 2021. Fiz uma grande temporada no Circuito Mundial. Fomos para o Campeonato Mundial com o sexto, então estava entre os melhores do mundo em muitos anos. Isso é importante e legal. E aí em 2023, conseguimos ir ainda melhor no circuito mundial, com o campeão do Circuito Mundial campeão e fomos medalhistas no campeonato Mundial. O terceiro colocado tá entre os melhores. Bati o recorde brasileiro com a marca espetacular medalha nos Jogos Pan-Americanos. E você fala cara, como é que eu faço para ter tudo? Como é que vai ser em 2024? A gente sabe chegar entre os melhores é difícil vai se manter entre os melhores é ainda muito mais difícil. A gente tem conseguido ter essa regularidade que foi nos dando confiança. Fui vendo, subindo cada degrau desse. Para chegar neste ano olímpico, conseguimos bons resultados nesse circuito mundial e tentando estar nesse nível de 2023, fizemos uma preparação maravilhosa para esses jogos. Então, graças a Deus foi o suficiente. Então foi esse trabalho de ano a ano, crescimento, sempre com muita esperança foi que nos levou até aqui em Paris.”

Assista à íntegra da entrevista com Caio Bonfim:

Legado

Com a conquista, Caio jogou luz em uma modalidade do atletismo que não possui a mesma visibilidade que as demais. Ele contou sobre a importância da medalha para a marcha atlética e sobre o legado que deseja que sua vitória signifique para a categoria.

“A gente construiu muitas coisas através da marcha atlética, mesmo num país que não tinha tanta tradição. E nós estamos aqui com três representantes de Sobradinho na marcha atlética. Você sabe que chegar nos Jogos Olímpicos já é algo muito grandioso. E então nós vamos usar isso como uma escada para que mais pessoas consigam subir, melhorar não só a marcha atlética, mas o atletismo e o esporte no Distrito Federal”

“Ele não vai andar”

Durante sua infância, Caio Bonfim precisou superar uma série de  problemas de saúde que quase comprometeram o seu futuro como atleta. Com apenas sete meses de vida, ele enfrentou uma meningite e duas pneumonias graves. Depois, aos dois anos, desenvolveu uma deficiência de cálcio devido à intolerância à lactose, que o impedia de consumir leite.

A condição culminou em uma fragilidade óssea, que causou deformações brutais nas pernas de Caio. Os médicos chegaram a duvidar que o garoto fosse capaz de voltar a andar normalmente. No entanto, uma cirurgia corrigiu as falhas. Ele comentou sobre o que esse momento de sua vida abrilhantou ainda mais sua conquista nos jogos de Paris 2024.

“Ah, eu era bem novinho, né? Mas mais essa superação eu acho que o legal dessa história é poder inspirar outras pessoas, né? Porque às vezes a gente vê um problema na nossa frente e a gente não tem esperança, Traz muita ansiedade, angústia e é a nossa história pode ser construída através disso, um problema nas pernas que talvez poderia me impedir de ser um atleta”

Logo após a conquista da medalha de prata, Caio Bonfim fez questão de destacar a falta de apoio que marcou a sua trajetória, situação que é realidade para diversos atletas de diferentes modalidades. O marchador comentou também sobre o estádio de Sobradinho, onde treina e que está em condições longe das ideias para a prática da modalidade.

“O atletismo é um esporte barato para o praticante, mas para a construção de uma pista é muito caro. Então não é uma coisa fácil. Eu tenho. Eu sou de Brasília, represento Brasília, moro em Brasília. Eu só consegui treinar graças ao apoio que a Secretaria de Esporte me deu. (..) Talvez o governo fique sobrecarregado. Brasília não tem iniciativa privada nenhuma. Eu não tenho patrocínio privado. Meus patrocinadores é a Bolsa Atleta de Brasília e a secretaria e os profissionais que me ajudam, fisioterapeutas, nutricionista, médicos são aqueles parceiros que eu não preciso dar para ter o atendimento, que para mim é o patrocínio. Então é muito difícil essa parte por causa disso”, apontou.

Antes de chegar aos jogos de Paris 2024, o marchador de 33 anos conquistou marcas importantes como a prata nos jogos Pan-Americanos de Santiago e bronze no Mundial de Budapeste, ambos em 2023.

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