São Paulo – O acesso recente ao saneamento básico, uma conquista histórica para quem viveu anos dependendo de ligações clandestinas de água e esgoto, seria motivo de festa para os moradores do Jardim Pantanal, bairro da zona leste da cidade, não fosse um problema para lá de incômodo.
Desde que a Sabesp instalou as ligações de esgoto na região, parte da população tem convivido com água suja dentro de suas residências. É que, ao invés de descer para as tubulações, o esgoto tem retornado pelos ralos, segundo os moradores.
Foi o que aconteceu na casa de Nanci Lima, 64, que vive na Rua Verde. “Já tem uns 20 dias que eu estou nessa situação”, afirma ela.
Na tentativa de driblar o problema, Nanci cobriu os ralos de casa com panos e colocou dois blocos de tijolos no corredor para passar sem molhar os pés nos dias em que o esgoto invade a entrada.
“Hoje [quinta-feira] é o primeiro dia que eu consigo lavar alguma roupa”, disse ela à reportagem do Metrópoles, enquanto explicava que a “conquista” só foi possível porque um funcionário da Sabesp tinha desentupido um reservatório próximo à sua casa.
No dia seguinte, no entanto, ela encaminhou um vídeo ao Metrópoles com a água retornando na privada. “Eu já não sei mais o que fazer com isso”. Veja a imagem:
A poucos passos dali, a moradia do gari José Pedro da Silva, 62, é outra que tem sofrido com o líquido saindo dos ralos. “Nós precisamos sair para trabalhar e pisamos em ‘água de bosta’. É muita covardia isso”, afirma ele, revoltado.
Na entrada da casa de José, ainda é possível ver a água suja acumulada, extravasando dos reservatórios.
O problema também reverbera nas próprias ruas do bairro. Na Rua Freguesia São Romão, a água esverdeada ocupava metade da via na quinta-feira, próximo ao cruzamento com a Rua Serra do Apodi. O cheiro forte de esgoto era comentado por quem passava no local.
“A gente paga água, paga esgoto. Mas liga liga liga para a Sabesp e ninguém vem aqui resolver”, comentou o dono de um comércio.
Na Rua Tietê, um líquido escuro acumulado ao lado de uma tampa da Sabesp dava pistas de que o problema também se repetia naquele endereço, como confirmou a comerciante Bianca Aredes.
“Ali na esquina tem uma boca de lobo. Ela entope e retorna toda a água. Acontece todos os dias”, afirmou a mulher.
Bianca disse que a situação piora nos dias de chuva, quando o volume de água se soma ao esgoto produzido no bairro.
“Quando chove, a água suja fica empoçada nas ruas porque os bueiros estão todos entupidos e aí não tem pra onde escoar”, afirma. A empreendedora diz que chegou a ligar na Sabesp para se recusar a pagar a taxa de esgoto por causa do problema. Como resposta, ouviu da atendente que não era possível pagar apenas pela água, mas que eles enviariam um funcionário para verificar o retorno do esgoto.
“Eles falaram que viriam para desentupir. Até agora nada. Me atrapalha muito, porque a água suja fica aqui na frente da padaria”, diz ela.
O Metrópoles entrou em contato com a Sabesp. Em nota, a companhia disse que enviou uma equipe para nas ruas citadas pela reportagem e que não encontrou nenhum problema com o esgoto.
“A Sabesp informa que, após vistoria técnica realizada na manhã desta sexta-feira (1/11) nas ruas Freguesia São Romão, Tietê e Verde, no Jardim Pantanal, foi verificado que o sistema de esgotamento sanitário está operando normalmente, sem obstruções ou extravasamentos das redes que resultem em retorno de esgoto nos imóveis”.
Segundo a Sabesp, durante a vistoria, os técnicos constataram um vazamento de água, “sem relação com os questionamentos do site”, e realizaram o reparo.