InícioEntretenimentoCelebridadeAcelera Iaô: ‘Todos os empreendedores que passam pelo processo saem melhores’

Acelera Iaô: ‘Todos os empreendedores que passam pelo processo saem melhores’

Quando alguém pensa em empreender precisa aprender a lidar com uma série de desafios, relacionados à conquista de mercados, burocracia, tributação, etc. Mas, a depender da cor da pele e do gênero, existem algumas questões adicionais que precisam ser enfrentadas. O conceito de afroempreendedorismo surge para fomentar a inserção de pessoas pretas no mundo empresarial. Patrícia Teles, coordenadora de projetos do Acelera Iaô, explica que um dos principais desafios passar por fazer as pessoas se enxergarem como empreendedoras. Nesta entrevista, ela fala ainda sobre os projetos do Acelera Iaô, da Fábrica Cultural, que inscrevem até esta segunda-feira interessados em uma das 285 vagas de qualificação abertas pela organização social. As inscrições podem ser feitas através do site:

Com 135 vagas, o programa Acelera Com Elas, patrocinado pelo Instituto Nu (Nubank), é aberto apenas para participação de empreendedoras negras. Já o Acelera Iaô, patrocinado pelo Grupo Carrefour, oferece 150 vagas para afro-empreendedores homens e mulheres. Em ambos os programas, só poderão se inscrever maiores de 18 anos, com disponibilidade para frequentar aulas presenciais na Fábrica Cultural, na Ribeira. Após as duas etapas de qualificação oferecidas durante o curso pelos programas Acelera Iaô Com Elas e Acelera Iaô, os empreendimentos desenvolverão seus respectivos planos de negócio e apresentarão para uma banca com três especialistas. No final deste ciclo, as 45 iniciativas com maior potencial de crescimento, participarão do processo de aceleração dos programas e 10 serão beneficiadas com investimento semente de R$ 10.000 (dez mil reais) cada. 

Quem é 

Mulher negra, mãe, Patrícia tem 47 anos, nasceu no bairro do Curuzu, região da Liberdade, em Salvador. É formada em Administração de Empresas, já atuou na Secretaria de Políticas para as Mulheres – SPM (Estado), sendo formadora nas questões de autônimo e violência contra as mulheres, executou formação em 37 municípios. 

O que é o afroempreendedorismo? 
Esta é uma questão muito importante porque o afroempreendedorismo nasceu pela necessidade que nós negros, principalmente nós mulheres negras, chefes de família, temos de sustentar as nossas casas a partir de alguma fonte de renda. O afroempreendedorismo nasce para organizar a rede de empreendedores em relação a algo que já é feito no dia a dia. Quando você vê uma mulher com a responsabilidade de sustentar uma família, tem sempre algum negócio, algo que ela sabe fazer, que poderia render um recurso para a sua família, mas ela não sabe como fazer. Este conceito veio para ajudar este público tão carente de informação. Nesta pandemia, este problema que já existia antes aflorou com muito mais força. A gente precisa conquistar espaços, mas normalmente não sabemos como começar a fazer.  

É muito comum as pessoas começarem do jeito que dá, não é? 
Sim, muita gente que perdeu o emprego acabou pegando a rescisão contratual, vendendo o automóvel, para empreender em algo e ganhar dinheiro. E por outro lado o mundo virtual criou uma série de oportunidades, a própria pandemia trouxe novas demandas, relacionadas à entrega em domicílio. São oportunidades que muitas vezes não são percebidas por falta de informação.  

O povo negro sempre foi empreendedor, por que você acha que apenas agora está se conseguindo colocar um holofote nisto? 
Tem muita gente em nossa vizinhança que sempre foi empreendedor, mas nunca foram chamados assim e muitas vezes nem mesmo eles conseguem se enxergar desta maneira. Essa nomenclatura surge para qualificar o trabalho que sempre foi feito, da pessoa que vende o geladinho, que faz o salgado, que utiliza um espaço dentro de sua própria casa. O MEI (programa do Microempreendedor Individual) surge para dar visibilidade a estas pessoas, porque nomeia este público como empreendedor individual, dentro de uma série de categorias. Mas mesmo assim ainda tem muita gente que empreende e não sabe que é empreendedor e que estão fazendo isso de maneira errônea. Sem essa visão, as pessoas não pensam em crescer e ampliar negócios que podem transformar a vida delas. A gente escuta muito o seguinte, ‘eu faço assim porque era assim que o meu pai fazia, minha mãe, minha avó’. A inserção no mercado é muito complicada. Quando a gente tem projetos como a Fábrica Cultural, que ajuda a trazer uma inovação para o negócio, uma marca, melhoria para o produto oferecido e, uma coisa muito importante, ensinar a vender os produtos.  

Quais são as maiores dificuldades neste sentido? 
Vender e escoar a produção são etapas que nós normalmente trabalhamos bastante. Tem gente que tem um produto com muita qualidade, mas não sabe como aumentar a sua produção, mantendo essa qualidade e aí aparecem oportunidades e as pessoas deixam passar porque têm medo. Este processo de comercializar ainda precisa ser muito melhor trabalhado. Você não encontra redes de empreendedores fornecendo para supermercados ou para o Poder Público. Eu já trabalhei no estado e a gente criou um programa dentro da Secretaria de Políticas para Mulheres para aquelas que tinham sido vítimas de violência. Só que o governo não conseguia comprar delas porque tinha a questão da formalização e acabavam desistindo porque achavam muito difícil. 

Isso passa muito pela maneira como a pessoa se vê, não é? Essa é uma diferença entre o afroempreendedorismo e o empreendedorismo tradicional? 
Sem dúvida. Uma vez fui fazer uma palestra sobre empreendedorismo e notei que a plateia era formada por uma imensa maioria de pessoas brancas e as poucas negras presentes se sentavam no fundo, quase escondidas. Eu mudei a dinâmica que estava prevista e chamei aquelas pessoas para frente, junto com as outras. O que eu disse para eles naquele dia foi que eu sou uma empreendedora, sou uma mulher preta, nascida no Curuzu. Minha mãe, que também é empreendedora, nos ensinou desde cedo que a gente precisava ter o que era nosso e eu estudei e hoje estou aqui, com uma empresa de confeitaria que é uma das mais bem cotadas no mundo. Eu contei pra eles que tudo começou porque vi que todo mundo precisa comer e todos gostam de fazer festa, mesmo que seja uma festinha pequenininha. O ramo da confeitaria é super competitivo, mas eu sempre disse uma coisa: eu faço a melhor torta do mundo. Aí, as pessoas perguntam como eu sei que é a melhor. Se eu não acreditar no meu produto, ninguém vai acreditar. Eu preciso criar autoestima para o meu empreendimento e para mim. Numa palestra dessas, a primeira coisa que eu faço é sentar na frente. Já cheguei em eventos em que o dono da festa vinha me perguntar quem era a dona do buffet, falando comigo.  Tem empreendedores que fazem um perfil no Instagram, postam os produtos, mas não colocam o rosto, porque sabem que vão sofrer preconceito se fizerem isso.  

Qual é a melhor maneira de lidar com isso? 
A história do empreendedor é a história da empresa. Aquele produto nasceu da vivência daquela pessoa, aquela história precisa ser contada. Ninguém inventa por inventar.  

Você está numa posição que lhe permite apoiar outros empreendedores, mas conhece as dores de tocar um negócio. Qual foi a sua maior dificuldade? 
O maior gargalo era fazer o meu trabalho ser reconhecido. Quem vende bolo está vendendo uma expectativa. Além de dizer ao cliente que faz um trabalho muito bom, com especialidade e com amor, é preciso conquistar o cliente. Eu estou num bairro periférico, tenho um público específico, que requer cuidados em relação a preços, oratória e gostos. Minha rede de clientes só aumentou quando eu identifiquei o meu público. Às vezes a cliente liga e pede um bolo para o aniversário do marido. Você pergunta como seria e ela responde que não sabe. Isso é horrível porque a gente é especialista em sabor. Aí, o jeito é conversar e conhecer a pessoa. Eu pergunto muito sobre o time de futebol, sobre cores, filme e aí vai fluindo. Outra coisa fundamental é sempre buscar um feedback. Meu produto hoje se vende sozinho, mas para chegar a este patamar, passei por muitas adversidades.  

Você teve acesso a algum serviço de apoio ou algum tipo de consultoria? 
Eu não tive nenhum tipo de mentoria direta, mas em todos os lugares por onde passei, trabalhando em organizações sociais, fazendo palestras ou em qualquer ocasiões em que encontrasse pessoas, tive oportunidade de aprender com essas lideranças, foram pessoas que alavancavam minha autoestima e me traziam para uma realidade. Em todos os lugares em que eu passei, eu levava os meus produtos para comercializar, então, fazia com que todo mundo experimentasse. Aí um me dava um conselho, outro dizia outra coisa e eu fui melhorando. Uma coisa que eu destaco muito é a questão da autoestima, muitas vezes a família desacredita, a pessoa tem medo de cobrar o valor que o produto vale, já vi casos em que o marido trabalhava fora e não queria que a mulher empreendesse para não deixar a casa sozinha. Hoje nós oferecemos no Iaô Labs mentoria, inclusive de forma virtual e que tem apenas um momento híbrido, que é o do pitch (apresentação do negócio para interessados em investir). No final deste processo, os melhores negócios vão receber R$ 10 mil para investir, cada um. Tem muito empreendedor em Salvador que não sabe disso. 

O que o Acelera Iaô está oferecendo neste processo seletivo? 
A gente abriu as inscrições no último dia 22 de janeiro para dois programas, o Acelera Iaô, financiado pelo Instituto Carrefour, e o Acelera com Elas, financiado pelo Instituto NuBank. Um programa é âncora do outro, mas em segmentos diferenciados. No Acelera Iaô,  estamos oferecendo capacitação, implantação, informação e formalização dos negócios nas áreas de gastronomia, serviços especializados de gastronomia, moda, música e artesanato. No Acelera com Elas, temos a arte de gastronomia, digital influencers e um segmento para bares e restaurantes. Aqui na Ribeira, onde está, por exemplo, existe uma carência enorme de restaurantes com qualidade. Agora, o mais importante é que no programa de aceleração tem os projetos que conseguem os recursos para investimentos, mas a maioria, não. É importante entender que mesmo assim, todos os empreendedores que passam pelo processo saem melhores porque durante este período terão acesso a profissionais de diversas áreas que vão ajuda-lo a planejar melhor o empreendimento, vai formar as pessoas e ajudar na comercialização. Quando a gente faz o Mercado Iaô, colocamos todos eles nos holofotes e não apenas os acelerados.  

O que vocês exigem para a participação? 
É preciso ter o negócio há pelo menos seis meses. A gente não exige formalização, mas no processo de formação, orientamos sobre a importância de formalizar, porque isso abre portas para negociações, pode fazer parcerias para o fornecimento de produtos. Para isso é importante formalizar, mas pode se inscrever mesmo sem a formalização.  

Vocês tem um programa para afroempreendedores em geral e outro voltado para mulheres. Qual é a importância deste espaço exclusivo para elas? 
O cenário para as mulheres negras é ainda mais complicado do que é para os homens, porque a gente tem paradigmais sociais que colocam a mulher como alguém sem potencial e que não pode estar onde o homem está. Tem muita coisa que as pessoas dizem que a gente não pode fazer e nós nos cansamos disso. Temos potencial e só precisamos da oportunidade para fazer acontecer.  

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