InícioNotíciasPolíticaConheça enfermeira e escritora que une paixões ao cuidar de idosos

Conheça enfermeira e escritora que une paixões ao cuidar de idosos

A casa da avó Maria era o lugar preferido de Adriana Freitas, hoje com 50 anos, durante a infância. Era por lá que a menina – filha de uma professora e um representante comercial – passava boa parte dos dias, enquanto seus pais trabalhavam. Maria penteava os cabelos da neta, se rendia às brincadeiras e contava muitas histórias. Mesmo voltando para casa, ao final do dia Adriana corria de volta para os braços da avó só para que as duas pudessem dormir juntas. Foi com Maria que Adriana aprendeu a ser cuidada e a querer cuidar. A relação das duas reflete a trajetória construída. A menina de Feira de Santana que adorava estar com a avó, mergulhar em livros e escrever poemas, virou enfermeira e escritora. Agora, fez suas duas paixões se unirem através da biblioterapia, que utiliza a leitura como ferramenta de cuidado. O que ela lê para os idosos é ela mesma quem escreve. O contato com a literatura – adormecido na vida de Adriana devido às leituras acadêmicas do mestrado, doutorado e seguidas especializações – foi resgatado por suas duas filhas. Quando as meninas começaram a ler, Adriana se viu entristecida com a forma através da qual os livros retratavam os idosos. Seguindo estereótipos, eles eram recheados de senhoras de cabelos brancos presos em coques sentadas em cadeiras de balanço. Isso sem contar a infinidade de diminutivos. Foi então que, em 2016, a enfermeira decidiu escrever seus próprios livros. Eles são hoje seu mais poderoso recurso, utilizado em rodas de leitura que Adriana promove, voluntariamente, em uma instituição de longa permanência. Com desenvoltura e habilidade, a enfermeira faz com que os idosos interajam, abram seus corações e criem laços afetivos com aqueles que, apesar de conviverem todos os dias, muitas vezes nunca tiveram uma conversa. Engana-se quem duvida da capacidade curativa da leitura. Adriana também lê para hospitalizados, contando com a ajuda dos chamados ‘prontuários afetivos’. “Eu e mais cinco alunos fomos cuidar de uma idosa e o prontuário afetivo dela indicava sua música preferida. Nós fizemos uma leitura e colocamos a música para ela ouvir. Na letra tinha a palavra ‘barco’ e isso fez ela contar diversas histórias da época em que passeava. Ela se emocionou muito e no final fizemos juntos um barquinho de papel”, lembra a enfermeira. Mesmo na posição de quem tem a oferecer, Adriana não escapa do clichê de que “quem doa também recebe em troca”. As histórias por ela contadas ativam nos idosos memórias da juventude e os fazem compartilhar suas próprias histórias de vida.  Apesar de cuidar de tantos idosos, Adriana não teve a chance de estar grudada com a avó já durante a velhice como esteve décadas atrás, mesmo que as duas tenham por muito tempo morado juntas em Salvador. A enfermeira se mudou para a capital baiana – para onde sua avó Maria já havia migrado pouco tempo antes – quando encontrou sua primeira oportunidade de trabalho: uma vaga como professora substituta na Ufba. A rotina diária foi cruel com Adriana. Sua profissão exigia plantões. Aliadas a isto estavam as aulas que ministrava. Não havia tempo para estar ao lado da avó como gostaria. Nos instantes que tinha, gostava de acompanhar as leituras da Bíblia que Maria fazia. “Era o livro que ela gostava de ler”, lembra a neta. Hoje, escritora e especialista em biblioterapia, Adriana lamenta não poder ler para a própria avó, já falecida, mas a conforta a possibilidade de ler para as avós de outras pessoas, retribuindo de certa forma o cuidado que recebeu de Maria na infância.

  • Minha avó tecia o mundo (2020 – Physalis Editora) – Pablo Morenno (autor) / Carla Furlanetto e Maria Helena (ilustradoras)

Livro história-poema ilustrado com bordados e tecidos sobre fases da vida, cidadania e família

  • Cachinhos de Prata (2017 – Paulinas) – Leo Cunha (autor) / Rui de Oliveira (ilustrador)

Com um texto poético e repleto de afeto, Leo Cunha fala sobre a perda de memória, o envelhecimento, a relação avó e netos, e como o amor pode nos ensinar a lidar com os limites impostos pelo esquecimento

  • Tempo de Voo (2020 – Global Editora) – Bartolomeu Campos de Queiroz (autor) / Alfonso Ruano (ilustrador)

O que é o tempo, afinal? As marcas físicas do envelhecimento do narrador são o mote para o diálogo entre um adulto e uma criança sobre a passagem do tempo e a percepção que as pessoas têm da memória e das etapas da vida

  • A menina que queria ser… (2018 – Editora Albatroz) – Adriana Freitas (autora) / Thassiel Melo (ilustrador)

Este livro conta a história de Lulu, uma menina alegre e muito esperta. Ao ser questionada na escola sobre o que ela quer ser quando crescer, responde de maneira inusitada: quero ser velha! Para Lulu, ser velha está longe do que a maioria das pessoas pensam, ou seja, não é algo indesejado, muito menos desagradável. Venha descobrir como Lulu defende sua vontade, através das rimas desta história

  • Crônicas no asilo (2016 – Editora Albatroz) – Adriana Freitas (autora) / Ingo Bertelli (ilustrador)

Neste livro, a autora conta suas vivências como frequentadora de asilos e de pessoa que assume, nesses locais, o papel de apresentar aos mais jovens, seus alunos, o que se esconde por trás dos muros das instituições de longa permanência para idosos

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