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Menos de 1% da rede: por que é tão difícil enterrar os fios em SP

São Paulo — A cidade de São Paulo já teve diversos planos de enterrar fios, metas que foram extintas após ação judicial e toda vez que uma tempestade deixa a população às escuras o tema volta à tona. Em meio às discussões, os projetos avançam lentamente e a capital paulista tem hoje menos de 1% dos fios enterrados em uma rede de cerca de 20 mil km.

Custo elevado para a implantação, transtornos durante a escavação de túneis e obras demoradas, sendo feitas aos poucos, são alguns dos entraves para a expansão das redes subterrâneas, de acordo com especialistas. Também apontam a dificuldade de integração dos vários responsáveis, como a Prefeitura e a Enel, concessionária responsável pelo fornecimento de energia na capital.

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Árvore derrubada pelo vento durante temporal na Vila Mariana, em São Paulo

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Chuvas causam problemas em São Paulo Bruno Ribeiro/Metrópoles

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Chuvas causaram estragos em posto de gasolina Reprodução

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Chuvas causam problemas em São Paulo Bruno Ribeiro/Metrópoles

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Raposo Tavares ficou travada após a queda de uma árvore CCR ViaOeste

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Árvore cai em cima de ônibus na Estrada do M’Boi Mirim Reprodução/Redes sociais

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Árvore caída na Anchieta Ecovias

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Temporal causou queda de árvores em diversos pontos da capital William Cardoso/Metrópoles

Entre os benefícios da rede subterrânea, os especialistas apontam o menor número de desligamentos, o fato de não colocar a população em risco de contato com cabos energizados e a necessidade apenas de manutenções pontuais, já que o circuito está bem abrigado, não sendo tão afetado pelas tempestades que provocam quedas de árvores.

Segundo a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), há em andamento atualmente o programa SP sem Fios, que prevê o enterramento de somente 65,2 km — desses, só 38,4 km estão em execução ou já foram entregues, de acordo com a administração municipal. Participam do programa a Enel, Ilumina SP, empresas de telecomunicação e a SPTrans, por causa dos trólebus.

Em 2017, o programa Cidade Linda Redes Aéreas, durante a gestão de João Doria (PSDB), previa o enterramento de 52 km de fios em 117 ruas da capital e também avançou muito pouco, tornando-se, por fim, um embrião do SP sem Fios, de Nunes.

Anteriormente, o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) já havia proposto uma meta anual de 250 km de redes enterradas à antiga concessionária AES Eletropaulo, mas a portaria caiu após decisão judicial. Não há no contrato de concessão, atualmente com a Enel, obrigação de que enterrem os fios. A empresa afirma que cada quilômetro de rede subterrânea custa de 8 a 10 vezes mais do que o da rede aérea.

Nesta terça-feira (7/11), o promotor Silvio Marques detalhou o próximo novo projeto, que deve ser apresentado em definitivo no dia 21/11. Estima-se entre R$ 100 bilhões e R$ 150 bilhões para enterrar todos os fios da capital paulista ao longo de aproximadamente 20 anos — e quem estiver interessado terá que desembolsar um terço do custo.

Engenheiro elétrico do Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), Edval Delbone afirma que a adoção da fiação subterrânea de uma só vez em cidades como São Paulo não é plausível. “O enterramento dos fios em larga escala não é viável. É muito demorado e caro. Tem que fazer um planejamento e ir aos poucos”, diz.

Segundo Delbone, uma meta razoável seria de 2% a 4% da rede sendo enterrada por ano na cidade de São Paulo. “Tenho a informação de que na Avenida Nove de Julho, 2,2 km [de fiação subterrânea] demoraram quase um ano para serem feitos. Não é rápido, a logística é complicada, tem que interditar parte da rua, fazer um túnel”, diz.

Já o professor José Aquiles Baesso Grimoni, da Escola Politécnica da USP, também diz que não seria possível realizar o enterramento em um prazo razoável e cita outro problema. “Levaria anos para fazer e a indústria de equipamentos e materiais não estaria preparada para fazer em prazo curto”, afirma.

Para Grimoni, a melhor estratégia seria definir prioridades na implementação. “Deveria ser feito um planejamento de longo prazo, priorizando regiões mais sensíveis, com em volta de hospitais”, afirma.

O professor da Poli também diz que não parece razoável, do ponto de vista de política pública, a proposta de que os interessados em ter a rede subterrânea paguem um terço do custo de implantação. “Seria injusto para quem não pode arcar com a conta. Teríamos assim redes enterradas só nas regiões nobres da cidade e em bairros ricos”, diz Grimoni.

Para Delbone, em um futuro próximo, o enterramento pode ser mais fácil, rápido e barato do que é hoje. O representante do Instituto Mauá diz que estão sendo desenvolvidas tecnologias para diminuir custos. “Há estudos para não ser necessário fazer o túnel, só enterrar os cabos. São cabos especiais”, afirma.

E agora? Enquanto a rede subterrânea não vira uma realidade em grande parte da capital paulista, um paliativo pode ser uma rede aérea [fios em postes] mais moderna, segundo Delbone.

“A rede compacta tem quase o mesmo preço e tem um isolamento que minimiza o risco de curto-circuito. Não é definitiva, mas pode minimizar os desligamentos. É pensar nas redes compactas em curto prazo e a rede subterrânea em longo prazo”, afirma.

Diante do caos instalado desde a última sexta e da falta de coordenação no restabelecimento da rede, autoridades e Enel terão que mudar a abordagem em futuras situações de emergência, segundo o professor Grimoni. “As redes de manutenção e suporte de serviços na cidade deverão ser reforçadas e regionalizadas. O uso de monitoramento inteligente da cidade e do clima deve ser implementado e utilizado”, afirma.

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