Os stylists são profissionais que ajudam fashionistas, principalmente celebridades, a escolherem visuais para ocasiões especiais e até a construir um estilo marcante. O carioca Lucas Aragão tem contato direto com clientes do meio artístico. Em entrevista à coluna, ele fala sobre a própria trajetória na moda e as experiências da carreira.
Vem conferir!
A relação de Lucas Aragão com a moda é antiga. Desde criança, era fascinado pelo ramo do entretenimento. A forte tendência a buscar estilos diferentes o levou a desenvolver facilidade na hora de pesquisar. Na adolescência, porém, ele deu o primeiro passo no que viria a se tornar sua carreira: passou a trabalhar em uma loja multimarcas de tios.
Foi quando começou a ganhar o próprio dinheiro e a entender melhor o mercado. “Eu não entendia absolutamente nada de moda, mas me deparava todos os dias com muitas roupas e clientes que exigiam conversar sobre moda”, lembra.
“Lembro que tinha um espaço aos fundos da loja, onde as clientes VIPS se reuniam pra tomar café e conversar sobre moda. Havia uma TV enorme que passavam DVDs com diversos desfiles que as marcas enviavam para passar nas lojas, e as clientes faziam questão de assistir, e assim eu embarcava junto com elas”, conta.
O primeiro grande choque com a moda foi ao assistir a um vídeo de um desfile de alta-costura da Chanel. “Tinha um gigantesco e majestoso leão no centro do Grand Palais. Meu tio, Julio, pediu para eu baixar. Ele iria exibi-lo em uma tarde com algumas clientes. Aquilo me fez procurar saber quem era o responsável pela obra, e foi assim que comecei a pesquisar sobre moda”, recorda Lucas Aragão.
A partir disso, ele entendeu que queria seguir carreira no meio fashion e passou a buscar oportunidades na indústria nacional. Aos 16 anos, começou a frequentar o São Paulo Fashion Week, onde teve a chance de sentar, logo de início, na primeira fila de muitos desfiles. E não parou aí. “Lembro que minha família ficava muito em cima, preocupada com esse espirito independente que me fazia viajar para o país inteiro, muitas vezes sozinho”, recorda.
Foi na pandemia que Lucas Aragão, formado em design industrial, viu no styling uma profissão. Começou a atuar no segmento no segundo semestre de 2020. Desde então, fechou contratos com agências de música, marcas e artistas. Entre os clientes, estão os cantores Thiago Pantaleão, Jade Baraldo e Marvvilla; as atrizes Isabella Santoni, Polliana Aleixo, Ricky Tavares e Isadora Cruz; e a influencer Giullia Buscacio.
Em geral, gravações, premiações, festas e campanhas estão no repertório. No clipe da música Sei Lá, por exemplo, Jade Baraldo usa apenas peças garimpadas em brechós por Lucas Aragão. O stylist também chegou a montar looks para Marvilla usar no BBB23.
Lucas Aragão, de 28 anos, nasceu e mora no Rio de JaneiroÉ stylist de personalidades do meio artístico, como a cantora Marvvila, participante do BBB23Para clipe de Jade Baraldo, o stylist garimpou itens em brechósConfira a entrevista:
Como você se tornou stylist?
Lucas Aragão: Os dias de reclusão dentro de casa [na pandemia] me fizeram refletir sobre diversas questões, e a oportunidade surgiu por meio de uma amiga que trabalhava dentro de uma importante gravadora. Ela entrou em contato perguntando se eu tinha interesse em trabalhar na construção de uma linha de estilo em um álbum com duas artistas que estavam fazendo muito sucesso.
No período de pandemia, o consumo por música aumentou e a indústria viu uma grande oportunidade de investimento. Confesso que fiquei um pouco nervoso na época com aquela oportunidade, pois teria que ficar por um tempo na ponte aérea Rio-São Paulo, mas com o suporte dos meus amigos, que foram meus maiores incentivadores, encarei o desafio.
O resultado foi interessante o suficiente para me certificar de que era isso que queria fazer da minha vida. Acredito que os anos em que trabalhei como buyer e a agenda de contatos que coletei nesse período foram essenciais nessa transição profissional.
A moda possui diversas áreas, e a pessoa não deve se concentrar em fazer uma coisa só. Acredito que circular pela indústria faz você enxergar setores das quais você nem imagina que existiam. Hoje, atuo com direção criativa e styling, futuramente posso querer explorar algum outro caminho da indústria, quem sabe? Me permito explorar.
Quais são as dificuldades e as vantagens que um stylist enfrenta diariamente?
Acredito que antes de começar a trabalhar dentro de uma linha de estilo, é preciso ter uma comunicação de fácil entendimento, e muito bem esclarecida. Para isso, o ideal é saber ter ferramentas estratégicas.
É muito comum receber demanda pronta de um contratante, que geralmente é uma empresa que faz a gestão de carreira de determinado artista, explicando o que deseja atingir com aquele projeto; só que, muitas das vezes, o artista não compreende ou tem uma visão diferente da sua carreira.
Vejo a minha profissão como figura estratégica na intermediação de situações como essa e, dependendo da situação, pode levar tempo, e os prazos de entrega precisam ser cumpridos.
Por se tratar de uma profissão em que a maioria é autônoma, se faz necessário ter uma boa gestão do tempo e excelente organização financeira. A maioria dos trabalhos ocorre nas grandes capitais, como Rio e São Paulo, e se manter nesses lugares possui um custo relativamente alto. No desespero em busca de pagar contas, alguns profissionais acabam se sujeitando a diversos tipos de exploração.
Para que isso não ocorra, é muito importante ter uma organização financeira, reconhecer seus direitos e, o mais importante, ser transparente em todo o processo de trabalho. É preciso respeitar todo o ciclo da profissão, principalmente seus fornecedores, para que construa relações saudáveis e duradouras. A indústria se comunica internamente, sendo um erro achar que ninguém vai saber o que acontece.
Lucas Aragão monta looks para eventos especiais, como este de Isabella SantoniO stylist constrói os visuais a partir de um processo de troca e comunicaçãoEle colabora para a imagem que um artista quer passarVocê tem clientes do meio artístico. Como o estilo musical e pessoal de cada um é passado para os looks?
Antes de pegar qualquer projeto, sempre faço uma pesquisa prévia de todo o cenário, mesmo que com pouco tempo disponível de trabalho. Para quem se interessar pela profissão, é necessário ter o mínimo de conhecimento de coolhunting, uma área que trata do levantamento e avaliação de tendências, ou seja, de fenômenos sociais e culturais.
Coletar referências é importantíssimo na construção do painel semântico, uma ferramenta colaborativa indispensável e que facilita o entendimento de todos os profissionais envolvidos no projeto. Quando se contrata um profissional para ficar responsável por seu estilo, é muito importante fazer parte de todo o processo e fazer valer o investimento.
Já imaginou estar em um tapete vermelho, e ao ser abordado por algum jornalista, não saber responder sobre algum detalhe daquela arte que você está representando? Fica feio pra imagem daquele artista. Moda não é apenas sobre beleza, é sobre mensagem. É preciso entender, para a partir disso se expressar da melhor maneira possível.
Como é a sua relação com os seus clientes atualmente?
A grande maioria dos meus clientes se tornaram grandes amigos. Tenho antigos clientes que atualmente fazem trabalho com outros profissionais, mas que não deixam de me consultar no estilo e em campanhas, por exemplo.
Procuro sempre contribuir com aqueles que respeitam a moda e fazem questão do meu saber. Mesmo com a correria diária, busco sempre reservar um tempo no meu dia para compartilhar algo que seja interessante para alguém: uma reportagem, mostrar algum desfile, coleção, ou até mesmo algum produto. Ninguém é obrigado a saber tudo, mas se construo tal saber, me sinto feliz em compartilhar.
O stylist precisa ter um olhar amplo de modaLucas Aragão trabalha com personalidades do entretenimento, de diferentes áreas, como a atriz Isadora CruzO profissional reúne tendências com as vontades pessoais em cada atendimentoLucas Aragão tem referências amplas no mundo da moda. “Comecei tendo Karl Lagerfeld, John Galliano e Alexander McQueen como grandes inspirações, logo fui fascinado pelos trabalhos de Franca Sozzani que fazia um trabalho magistral na Vogue Itália. Ao longo dos anos, o meu olhar vibra por nomes como Raf Simons, Nicolas Ghesquière, Junya Watanabe, Eli Russell Linnetz, Hedi Slimane, Kim Jones, Jonathan Anderson, entre outros”, aponta.