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Denúncias de sobrecarga de trabalho entre enfermeiros crescem mais 80% em um ano na BA

Ao longo do ano de 2022, 36 profissionais de enfermagem que atuam no setor privado procuraram os canais de comunicação do Sindicato dos Enfermeiros do Estado da Bahia (Seeb) para reportarem que estavam se sentindo sobrecarregados em seus postos de trabalho. O número de denunciantes é 89.47% superior a 2021, quando 19 trabalhadores disseram que não estavam mais suportando a alta demanda em suas rotinas profissionais. O que o Seeb diz é que parte das denúncias que chegam são de enfermeiros que relatam assumir obrigações que competem a outros profissionais, como prestar apoio psicológico aos pacientes, fazer o papel de um assistente social e até de um nutricionista. O número de casos de assédio moral também aumentou durante esse mesmo período. Em 2021, foram 11, mas, no ano seguinte, 18, o que representa um aumento de 63.63%. “Temos, cada vez mais, precarizado as condições de trabalho e os processos de trabalho dos profissionais de enfermagem. A desvalorização não está apenas refletida na aprovação de um piso, nas proporções que foi aprovado, mas também nas baixas condições de trabalho que é fornecida a esses trabalhadores. É uma categoria que precisa urgentemente ser compreendida como uma categoria que sofre um processo histórico de desvalorização, que acontece ao longo dos anos e que favorece o adoecimento”, disse Ana Carina Dunham Monteiro, vice-presidente do Seeb. Segundo dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), de 2012 a 2022, foram concedidos na Bahia 344 afastamentos para enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem por questões mentais, comportamentais e nervosas desenvolvidas no ambiente de trabalho. No decorrer da pandemia da Covid-19, os afastamentos pelos mesmos tipos de problemas de saúde se elevaram. Se entre 2019 e 2020, foram 65, entre 2020 e 2021, esse tipo de benefício concedido aos trabalhadores da área subiu para 90, um aumento de 38.46%. Entre 2021 e 2022, foram 98. Clara Almeida*, 39 anos, largou a profissão de técnica de enfermagem logo após enfrentar o pior momento da pandemia, quando os hospitais públicos e privados estavam superlotados e a vacina contra o vírus ainda não tinha chegado para sequer metade da população brasileira. Morando em Feira de Santana, no centro-norte do estado, hoje, ela se dedica exclusivamente à casa e à filha de dois anos e, por ora, não pretende voltar à rotina em hospitais. “Tive um esgotamento mental e, hoje, estou em tratamento contra uma depressão. Eu já tinha as minhas questões pessoais, estava insatisfeita com a profissão, sobretudo com a remuneração, mas tudo piorou durante a pandemia. Não digo que nunca mais voltarei a trabalhar com isso, mas, no momento, minha prioridade é minha filha e minha saúde mental”, contou a mulher que preferiu que o seu nome fosse alterado. Soma-se aos casos de sobrecarga de trabalho e as doenças mentais, a violência no ambiente de trabalho. Uma pesquisa mais recente da Confederação Brasileira de Enfermagem (Cofen) feita com 27.489 enfermeiros que trabalham na Bahia revelou que 39% dos profissionais não se sentem protegidos contra a violência nos locais onde exercem suas funções. Outros 23,1% afirmam que se sentem seguros apenas às vezes. 27,4% acreditam estar protegidos e 9,6% não responderam ao questionamento. Quando os mesmos trabalhadores foram questionados sobre se existia violência no ambiente de trabalho, 19,8% (5.447) disseram que sim e 8,1% (2.240) afirmaram que às vezes. Ao serem questionados sobre o tipo de violência, 6.261 trabalhadores citaram a psicológica (65,4%) e 2.443 a institucional (25,5%). 865 mencionaram a física (9%) e ninguém a sexual. Na noite do último dia 1º de julho, uma equipe de paramédicos do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) foram acionados para socorrer um homem vítima de disparos de arma de fogo durante um confronto com policiais militares, no bairro de Santa Cruz. Os profissionais realizaram os primeiros socorros e imobilizaram o paciente antes de colocá-lo dentro da ambulância. Ao passar pela Avenida ACM, uma das mais movimentadas da capital baiana, nas proximidades de um hospital, o veículo foi interceptado por homens armados que estavam a bordo de uma motocicleta. Os suspeitos exigiram que o ferido fosse colocado para fora do veículo. A vítima foi baleada novamente, mas, dessa vez, na frente dos profissionais de saúde. Ele não resistiu à segunda ocorrência e morreu. “Enquanto profissionais da saúde estamos expostos a riscos químicos, físicos e de acidente, já que tripulamos uma unidade móvel em alta velocidade. Há inclusive risco de capotamento, como já aconteceu em outra oportunidade. Também estamos expostos cada vez mais à violência urbana, inclusive há execuções de pacientes no interior da unidade móvel, algo que não víamos, mas, cada vez mais, tem se tornado frequente. Por vezes, a população agride verbalmente e ameaça os profissionais de morte. Vamos trabalhar sem a certeza se retornaremos”, desabafou a enfermeira. Em meio aos dramas vivenciados pelos profissionais da enfermagem, a área continua sendo uma das procuradas por pessoas que buscam uma formação superior na Bahia. Entre 2019 e 2020, na rede privada de ensino, 13.948 pessoas se matricularam em cursos de formação de enfermeiros, de acordo com dados da Secretaria de Modalidades Especializadas de Educação (Semesp). A formação foi a segunda mais procurada, perdendo apenas para o Direito, que teve 33.081 matrículas. De acordo com o Conselho Regional de Enfermagem da Bahia (Coren-BA), há atualmente no estado 162.823 profissionais ativos. Desse total, 104.265 são técnicos, 46.214 enfermeiros, 2.338 auxiliares e 6 obstetrizes. Nos últimos seis meses deste ano, 3.674 trabalhadores fizeram o seu registro profissional. Chegará nos próximos meses em solo brasileiro uma startup portuguesa que promete facilitar a contratação de profissionais da enfermagem para preencher escaladas e realizar plantões em hospitais, clínicas, laboratórios e residencial senior. A MyCareforce promete dar liberdade para que os profissionais possam escolher o melhor horário para realizarem suas atividades. Em Portugal, a plataforma já conta com o cadastro de 12,5 mil enfermeiros, 1 mil técnicos auxiliares de saúde e mais de 150 empresas clientes. Por lá, o faturamento da empresa foi 930 mil euros em 2022, um ano após sua criação. Os responsáveis pela startup acreditam que, no Brasil, em cinco anos, o faturamento deva representar 80% de toda a receita da empresa, que atravessa o oceano após levantar mais de 1 milhão de euros em uma rodada de investimento. Por ora, a plataforma funcionará apenas em São Paulo, mas a intenção é que ela também se espalhe para outros estados, inclusive para a Bahia. “Entendemos a oportunidade de mercado quando analisamos os plantões excessivos e a burocracia, e no Brasil não se difere. Nossa maior missão é trazer acessibilidade, flexibilidade e praticidade para todos”, explica João Hugo Silva, cofundador e coCEO. O pagamento para os profissionais será feito em de 15 dias após a prestação de serviço, mas pode ser reduzido para apenas três, com o pagamento de uma taxa fixa à plataforma. “Quando falamos sobre o sistema tradicional de contratação de profissionais da área, o retorno salarial é em torno de 30 dias, queremos mudar isso. Além do que, com a nossa tecnologia, somos capazes de criar algoritmos de match e pesquisa de turnos, tornando ainda mais efetivo nossa solução”, afirma Pedro Cruz Morais, cofundador e coCEO da startup.

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