Histórias e música. Ou uma trajetória restaurada a partir de marcos sonoros – do tempo do vinil à era do podcast. Assim foi o show acústico “Existe amor em SP”, na terça-feira (17), na Sala do Coro do TCA: vida e arte de Sylvia Patrícia, mesclando relatos (hilários) e canções. E que canções! Da consagrada “Marca de amor não sai” à inédita, belíssima, “Toque me”, fruto de parceria com Thathy e Edu Casanova.
Sylvia abriu a noite com os versos bandidos de “Saia da minha vida” (“por mais que eu lhe ame/ você não faz/ parte da minha gangue”), seu primeiro registro fonográfico, há 40 anos. Plena, descontraída, arrancou risos da plateia com depoimentos ora rascantes, ora singelos, que expõem vivências de uma – sua – geração. E revelam uma Sylvia a um só tempo selvagem e doce, como bem definiu Edu Casanova.
Histórias como a das ainda meninas Sylvia Patrícia e Jussara Silveira que, ao avistarem um ídolo (Gal Costa) passeando de conversível pela orla marítima de Salvador, tentam alcançá-lo pedalando suas bicicletas; ou do show numa boate, que ela não consegue encerrar, porque o grand finale fica por conta de uma travesti, que tira a roupa em cena enquanto dubla “Cenas de violência e tensão”.
Isso tudo temperado pela guitarra híbrida de Alex Mesquita, a percussão suave de Fernando Makuna, a luz (inconfundível) de Irma Vidal. E, claro, o canto e os acordes de uma artista completa, plural e antenada com o seu tempo, que lamenta, em “País, que país?”, a “justiça que se afoga/ nos seus próprios pratos”, e “tapa os olhos pra não ver/ cidades de mendigos e ratos”.
*Suzana Varjão é jornalista e escritora