O trágico acidente que causou a morte precoce do jovem piloto holandês Dilano Van’t Hoff, de apenas 18 anos, abriu espaço para o debate sobre a segurança de um dos mais tradicionais circuitos da Fórmula 1: Spa-Francorchamps, na Bélgica.
Palco de grandes disputas, o circuito é um dos queridinhos dos pilotos da maior categoria do automobilismo mundial. Com curvas que podem ser feitas em altíssima velocidade, Spa-Francorchamps está entre os circuitos mais velozes da Fórmula 1.
Nas curvas 3, 4 e 5 – trecho conhecido como Eau Rouge -, por exemplo, os pilotos podem chegar a 300 quilômetros por hora. A curva, claro, empolga os amantes do esporte e os pilotos que precisam ter uma certa dose de coragem para encarar o desafio.
Os seus 7 km de extensão fazem do circuito o mais longo do calendário, e entrega aos pilotos longas retas, curvas que demandam extrema habilidade em alta velocidade, é claro, entrega muito entretenimento há quem assiste, com diversos pontos de ultrapassagem.
A união destes fatores fazem de Spa-Francorchamps o circuito preferido de muitos dos amantes da Fórmula 1. Mas a beleza e complexidade da pista é proporcional ao risco que ela transmite àqueles que pilotam os impressionantes carros de Fórmula 1.
Eau Rouge, as curvas mais temidas da Fórmula 1
A Eau Rouge, na verdade, é o nome de apenas uma parte do conjunto de três curvas, mas com a sua fama ela acabou nomeando todo o trecho. Ela tem esse nome em homenagem a um riacho de água avermelhada que passa próximo do circuito. A tradução livre do nome da curva, inclusive, significa “água vermelha”.
Embora seja, talvez, a curva mais amada é, também, a mais perigosa. E muitos podem ser os fatores que contribuem para isso.
A primeira delas é a inclinação da pista neste trecho. Do ponto mais baixo ao ponto mais alto, os carros sobem cerca de 41 metros, isso faz com que os pilotos precisem subir com o pé lá embaixo para garantir o melhor desempenho.
Outro fato que aumenta o perigo da curva é o “downforce” dos carros de Fórmula 1. O downforce nada mais é do que a força aerodinâmica vertical exercida pelo ar e empurra o carro para baixo, gerado pela construção da carroceria dos carros.
O downforce faz com que os carros ganhem mais aderência com a pista, facilitando o contato dos pneus com o solo, possibilitando os carros atingirem velocidade cada vez maiores.
Para a curva em questão, esse é um ponto que pode ser considerado, ao mesmo tempo, positivo e negativo.
Positivo porque permite que quanto mais pressão aerodinâmica empurrando os carros para baixo, menos eles “descolam” do chão enquanto precisam percorrer os mais de 40 metros morro acima. A parte negativa dessa maior segurança aerodinâmica é que os pilotos podem acelerar cada vez enquanto sobem, o que pode aumentar o número de acidentes no setor.
Acidentes na Eau Rouge podem ser fatais
O trágico acidente deste sábado (1) é mais um exemplo negativo do poder destruidor que um único erro pode ter nesta curva. Ao longo dos anos, muitos pilotos se acidentaram gravemente na Eau Rouge, e em alguns casos foram fatais.
Além do acidente deste sábado (1), em 2019 o piloto francês Anthoine Hubert, de 22 anos, morreu após chocar com outro carro no fim da curva 5 do circuito. Ainda na segunda volta da corrida da F2, Hubert rodou e foi atingido por Juan Manuel Corre, que vinha em alta velocidade logo atrás, pico de força de 81,8g (81,8 vezes a força da gravidade).
Brasileiro Pietro Fittipaldi também se acidentou na Eau Rouge
O brasileiro Pietro Fittipaldi também já foi vítima da temida curva. Em 2018, no treino classificatório de uma das etapas de circuitos do Mundial de Endurance (WEC), ele atingiu com tudo a parede de pneus que faz a proteção dos pilotos.
Desta vez, o acidente foi causado por uma pane elétrica no carro, que fez o brasileiro perder o controle do carro. O neto do bicampeão de Fórmula 1, Emerson Fittipaldi, fraturou as duas pernas.
O acidente de Lando Norris que cancelou uma corrida
Em 2021, o piloto britânico Lando Norris bateu em cheio no fim da temida curva na última parte do treino classificatório do GP da Bélgica, depois de perder o controle da traseira do carro. No dia a pista estava escorregadia e alguns pilotos haviam pedido para que a sessão fosse interrompida.
O piloto, por sorte, não se feriu gravemente. Mas o seu acidente foi, talvez, o principal motivo para o cancelamento da corrida do dia seguinte. A chuva não parava no circuito quando os carros saíram para a volta de apresentação.
Ainda na volta de apresentação, o piloto da Red Bull, Sergio Perez, bateu no trecho entre as curvas 7 e 9, conhecido como La Combe. Após duas largadas e apenas uma volta válida completada, todos os pilotos retornaram aos boxes, onde permaneceram por três horas, até o cancelamento da corrida.
Outros acidentes marcantes na Eau Rouge, em Spa-Francorchamps
O mesmo setor que vitimou Hubert e Hoff já foi palco de outros acidentes impressionantes que, por pouco, não terminaram da pior maneira. Em 2016, Kevin Magnussen, piloto da Haas e à época na Renault, perdeu o controle do carro na saída da curva e acertou em cheio a barreira de proteção. Felizmente o piloto não sofreu ferimentos graves, apenas um corte no tornozelo.
Outros acidentes na Eau Rouge:
1987 – Philippe Streiff e Jonathan Palmer
1990 – Paolo Barilla
1992 – Gerhard Berger
1993 – Alex Zanardi
1998 – Jacques Villeneuve
1999 – Jacques Villeneuve e Ricardo Zonta
2004 – Ryan Briscoe
2004 – Christian Klien e Takuma Sato