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Gastos de baianos com água, energia e gás de cozinha aumentam na pandemia

O distanciamento social, adotado como medida para conter a disseminação do novo coronavírus (covid-19), tende a aumentar o consumo residencial de água, gás de cozinha e energia elétrica. Isso já é observado pelos baianos que estão passando mais tempo em sua casa e, consequentemente, necessitam desses recursos que, quanto mais utilizados, pesam no bolso do consumidor.

Em março, por exemplo, o primeiro mês do distanciamento social, o aumento no consumo de gás de cozinha foi de 6,16% na Bahia. Isso equivale a um salto de 15% em relação ao mesmo mês do ano passado. Os baianos, por estarem mais em casa, estão cozinhando e demandando mais esse combustível fóssil, o único que apresentou aumento no consumo.

“Isso está acontecendo com a minha família. Antes, a gente costumava fazer o almoço duas ou três vezes na semana, no máximo. Tinha época que eu cozinhava no sábado, de uma vez só, o que íamos comer na semana inteira. Agora, eu estou todos os dias na cozinha”, confessou a professora municipal de Salvador, Niclécia Gama.

Junta com o seu esposo e os dois filhos, ela está em distanciamento social em sua residência no bairro da Baixa de Quintas e só saem em situações imprescindíveis. “Por termos mais tempo em casa, a gente se dedica a fazer um almoço bem elaborado, uma sobremesa, um bolo. E isso tudo aumenta o consumo”, disse Niclecia, que informou que, antes, o botijão do gás de cozinha era trocado em cerca de 45 dias. Agora é mensalmente.

“O distanciamento social tem me deixado um pouco angustiada porque gosto de receber amigos e fazer umas comidinhas para celebrar o simples fato de estarmos vivos”, disse Niclecia (Foto: Arquivo pessoal)
O CORREIO procurou algumas distribuidoras que constataram que houve, de fato, um aumento do consumo no início da pandemia, mas que isso já está se normalizando. “Sem emprego, as pessoas querem comprar o gás fiado. Estamos até diminuindo o valor para não prejudicar os clientes”, disse Maria Azevedo, que trabalha na revendedora Disk Gás, no bairro do São Gonçalo. “Até por R$ 55 eu faço. Antes, era R$ 70.”, completou.

Outra distribuidora que também já reduziu o valor é a Rai Gás, localizada no Cabula. Durante a pandemia, o preço do botijão caiu de R$ 70 para R$ 65. “Os restaurantes passaram a comprar menos. Em compensação, o consumidor final tá adquirindo, pois é um produto essencial”, disse Maisa Lima, funcionária da loja.

A dona do Bagacinho Boteco (@bagacinhoboteco), Karla Baqueiro, que agora só atende por delivery e mais em finais de semana, confirmou a redução no consumo do gás. “Antes, cada botijão durava de oito a 10 dias. Agora, ele dura a até 20 dias. Mesmo com as entregas, o consumo de gás equivale ao que seria se o boteco tivesse aberto”, explicou. Karla está com o restaurante aberto só para delivery desde o dia 19 de março, antes mesmo do decreto municipal que estabelece o fechamento de bares e restaurantes.

Água e energia

Apesar de, até o momento, não haver números oficiais em âmbito nacional sobre o impacto da doença nas contas pagas para os serviços de água e energia, especialistas estimam que, a depender do comportamento dos consumidores, o valor a ser pago poderá aumentar, em média, entre 10% e 20%..

A enfermeira Tereza Cristina, que mora somente com a esposa, no Rio Vermelho, já percebeu esse aumento. “Com a gente o tempo inteiro em casa, aumentaram os gastos principalmente com energia. O computador fica ligado o dia inteiro, a gente usa mais televisão, tem mais luzes acesas. Costumava pagar cerca de R$ 200 por mês, em abril paguei mais de R$ 300”, disse.

Outra pessoa que verificou um aumento no consumo foi a servidora municipal Karla Izabelle, que mora com a filha única, no Garcia. No mês de março, o valor pago foi R$ 173. Antes era em torno dos R$ 100. “Isso não é só comigo, mas tenho recebido queixas de vários amigos relatando que estão consumindo mais energia e água em casa”, relatou.

Izabelle ainda não sabe qual vai ser o valor de água pago referente ao mês de março, pois a conta ainda não chegou a sua residência, mas ela já está preparada para um aumento significativo.

“Sempre que eu saio para rua e volto, por um motivo essencial, tenho que lavar o cabelo e as roupas. Estou consumindo mais água para cozinhar, limpar. Tudo isso pesa na conta”, explicou.

A estudante Cleice Lins, moradora de um bairro popular de Salvador, já verificou esse aumento. “A quantidade de metros cúbicos consumidos aumentou 25%. Eu moro com meus pais e dois irmãos. Antes, só quem ficava mais em casa era minha mãe e minha irmã. Agora, tá todo mundo aqui”, dosse. Cleice destacou ainda o consumo de água pela máquina de lavar. “A limpeza de roupas aumentou nesse período”, finalizou. .

Procurada, a assessoria da Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) disse que não tem um valor exato de quanto foi o consumo residencial de água em Salvador. No entanto, o órgão já constatou o aumento no consumo de bairros residenciais enquanto houve diminuição nos comerciais. Já a Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba) não retornou até o fechamento dessa reportagem.

Consumo consciente

A expectativa é de que, diante da nova situação, haja também uma mudança nos hábitos dos consumidores residenciais, na direção de um consumo mais racional, consciente e econômico dos recursos naturais, o que possibilita a redução dos valores pagos.

“Acreditamos que esse momento será de grande aprendizado para quando tudo passar e que uma nova consciência de consumo e de comportamento permanecerá”, disse Octávio Brasil, da CAS Tecnologia, empresa que atua no desenvolvimento de soluções para redes de água e energia.

O especialista sugere, no caso da conta de energia, medidas que vão além do uso consciente, para evitar o desperdício. “É possível, ao consumidor, avaliar se é vantagem aderir à Tarifa Branca, pois o custo da energia é mais barato nos horários fora de ponta”, referindo-se a essa modalidade vantajosa para aqueles que possam deslocar parte considerável do seu consumo de energia nesses períodos.

“Com a adoção [da Tarifa Branca], é possível ter uma economia na conta de energia de até 17%”, acrescenta. Criada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), a Tarifa Branca começou a vigorar em janeiro de 2020 para todos consumidores de baixa tensão (em geral, residências e pequenos comércios).

Nela, o valor da tarifa de energia varia de acordo com o horário do seu consumo. Nos dias úteis, o preço pago pela energia é dividido em três faixas horárias de consumo. No horário de ponta (17h30 às 20h30), a tarifa fica mais cara que a tarifa convencional. Na faixa intermediária (16h30 às 17h30, retornando das 20h30 às 21h30), o custo também é maior.

Já no horário fora de ponta (das 21h30 às 16h30 do dia seguinte), a tarifa para o consumidor é mais barata se comparada à cobrada no modelo tradicional. Sábados, domingos e feriados contam como tarifa fora de ponta nas 24 horas do dia.

Consumidores interessados em aderir a essa modalidade de tarifa precisam entrar em contato com a concessionária de energia de sua região. De acordo com a CAS Tecnologia, em um prazo de 30 dias será instalado um novo medidor na unidade consumidora. A empresa, no entanto, alerta que é preciso atenção. “Se a energia for utilizada durante o horário de ponta, a tarifa pode ficar até 83% mais cara”.

Já no caso da conta de água, especialmente nos condomínios, Octávio Brasil sugere a adoção de um sistema de medição individualizada, por ser mais justo porque o valor pago é correspondente ao consumo de cada residência, de forma a evitar que o custo do consumo excessivo de uma unidade acabe sendo arcado pelos demais condôminos.

“Como a conta de água é dividida entre todos os apartamentos, é muito mais difícil combater o desperdício, já que o morador não sente no bolso a diferença entre gastar e poupar”, acrescenta o especialista em medição individualizada da CAS, Marco Aurélio Teixeira.

Fonte | Correio24horas

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