São Paulo — Investigado pela suspeita de usar assessores parlamentares em resgates de animais para se promover politicamente, o deputado federal Felipe Becari (União-SP) é cobrado na Justiça por um suposto calote em um abrigo para onde levava os cães resgatados por maus-tratos, em Cotia, na Grande São Paulo.

A ação de cobrança contra o parlamentar paulista foi ajuizada em abril deste ano pela empresa Chácara dos Cães Adote Ltda., que diz ter sido contratada por Becari em dezembro de 2020 para o “serviço de hospedagem temporária de animais resgatados” por ele, “com alimentação, abrigo e primeiros socorros”.

Becari tem 36 anos, é policial civil e se projetou nas redes sociais como protetor dos animais, publicando vídeos nos quais aparece resgatando cães vítimas de maus-tratos. Em 2020, foi eleito vereador pelo PSD e, no ano passado, elegeu-se deputado federal pela primeira vez. Nesse período, assumiu uma ONG ligada à causa animal, que hoje leva seu nome.

No processo, a empresa diz que o deputado começou a atrasar os pagamentos em 2021 e que, no ano passado, parou de quitar as mensalidades, acumulando uma dívida de R$ 20 mil. Apesar das reiteradas cobranças e das promessas de pagamento, Becari não teria quitado o valor.

Para provar o calote, a advogada da empresa anexou ao processo prints de mensagens de WhatsApp trocadas com uma assessora parlamentar de Becari que cuidava dos procedimentos e um áudio enviado pelo próprio deputado a uma das sócias da empresa no qual ele pede desculpa pelo atraso nos pagamentos e promete quitar a dívida em duas parcelas (ouça abaixo).

Investigação por peculatoA cobrança pelo calote ocorre em meio a um inquérito aberto em janeiro deste ano pela Polícia Civil paulista, a partir de uma denúncia anônima feita ao Ministério Público de São Paulo (MPSP), para investigar o deputado Felipe Becari por peculato e estelionato.

Na denúncia, obtida pelo Metrópoles, o parlamentar é acusado de usar a estrutura de gabinete para se promover com ações de resgate de animais, pedir doações por Pix para seu instituto sem prestar contas e promover sorteios de prèmios irregulares em troca de contribuições.

A manifestação que embasou a abertura do inquérito policial aponta ainda a suspeita de enriquecimento ilícito de Becari, cujo patrimônio declarado saltou de R$ 64 mil na eleição de 2020 para R$ 663,5 mil dois anos depois, quando ele se candidatou a deputado federal.

Registro em cartório de imóveis obtido pelo Metrópoles mostra que, em julho de 2021, Becari comprou uma casa por R$ 2,2 milhões em Interlagos, na zona sul de São Paulo. Ele teria pago cerca de R$ 500 mil de entrada e financiado R$ 1,7 milhão.

As suspeitas levantadas pelo denunciante envolvem ainda uma suposta “vida de luxo” que o deputado esbanjaria nas redes sociais ao lado da noiva, a atriz e ex-BBB Carla Diaz, como uma viagem para a Itália e uma aliança de noivado da marca Tiffany&Co, que teria custado R$ 38,4 mil.

“Notícias falsas”Após a investigação vir a público nesta semana, o casal se pronunciou pelas redes sociais afirmando que as denúncia anônima faz parte de campanha de mentiras e ameaças feita por “haters”.

Felipe Becari publicou uma nota dizendo que “tem sido alvo de notícias completamente falsas e de cunho categoricamente criminoso disseminadas nas redes sociais e que vêm sendo comunicadas às autoridades com o único objetivo de prejudicá-lo e atingir sua imagem”.

O deputado disse que “tem colaborado ativamente com as autoridades para o restabelecimento da verdade” e que “ajuizou queixa-crime” e “requereu abertura de uma investigação” para apurar a “prática do crime de perseguição” que diz estar sofrendo.

Ao Metrópoles, o advogado Carlos Bobadilla, que defende Becari, afirmou que a denúncia anônima é “mentirosa” e de “cunho categoricamente criminoso” e que não apresenta nenhuma prova contra o deputado. “Estamos trabalhando para conseguir o restabelecimento da verdade e, em breve, muito possivelmente, esse inquérito policial será arquivado”.

Questionado sobre a dívida cobrada na Justiça pelo abrigo de animais resgatados de maus-tratos, o deputado Felipe Becari não se manifestou. O espaço segue aberto para a manifestação.