Uma mentira dita mil vezes se torna verdade, como diz o ditado há séculos. Foi e é dito que mulheres só podem ocupar lugares muito específicos dentro do mercado audiovisual: geralmente, estão na cozinha, maquiagem, figurino e, vamos lá, tudo bem ocupar esses lugares porque são trabalhos honestos, como qualquer outro trabalho honesto. No entanto, um grupo de profissionais da Bahia se questionou: “e se a gente quiser mais? E se quisermos dirigir? Executar?”. Aí, perceberam que o buraco é mais embaixo. E decidiram agir.
Foi assim que nasceu a Mostra Lugar de Mulher é no Cinema. A ideia é usar do mesmo remédio do ditado, mas subvertendo: uma verdade dita mil vezes é uma verdade ainda mais forte. Pensando nisso, elas fomentam e disseminam obras dirigidas por mulheres e pessoas não binárias.
“Uma mentira repetida várias vezes se torna verdade e muitas mulheres não acreditam que podem ocupar alguns postos, trazemos produções dirigidas por mulheres, com elas de maioria no set, em cargos técnicos, a gente ajuda a mudar essa realidade, construindo uma outra realidade no imaginário das mulheres que, por outro lado, desejam ocupar esses postos, se esforçam estudando esses postos até ocupá-los”, explica Dayane Sena, produtora da Mostra, que chega, em 2023, à sua sexta edição.
As inscrições abriram na última terça-feira (18) e vão até o dia 20 de maio. Podem participar do evento curtas-metragens que contam com direção de mulheres e/ou pessoas não binárias, pertencentes a todos os estados brasileiros. Para preencher o formulário e mandar o filme desejado, basta acessar o site da Mostra no site www.mostramulhernocinema.com.br.
Por lá, estão disponíveis o regulamento e procedimentos necessários para a inscrição. O envio das produções é feito de maneira gratuita, sem taxas para integrar o processo de seleção. A divulgação do resultado acontece no dia 20 de junho, através do Instagram da Mostra: @mulhernocinema.
A edição homenageia a atriz Léa Garcia, mulher negra, nascida no Rio de Janeiro, que se tornou uma das artistas mais renomadas do teatro, da TV e do cinema brasileiro.
Responsável pela coordenação da Mostra, Hilda Lopes Pontes explica que Léa é um exemplo e se tornou atriz num período em que as portas eram ainda mais estreitas para mulheres negras.
Aos 90 anos de idade e mais de 70 de carreira, D. Léa Garcia acumula uma trajetória que incluem mais de 50 filmes, mais de 50 novelas e minisséries e mais de 30 peças. No teatro, atuou em peças como ‘Orfeu da Conceição’, ‘Casa Grande e Senzala’ e O Tesouro de Chica da Silva.
Ela ainda atuou na TV Globo, estreando em 1970 no elenco de ‘Assim na Terra como no Céu’.
“A Mostra ajuda a combater noções sobre o que é ser mulher, ressalta a importância de fortalecer o mercado feminino porque mulheres trabalham com cinema. A mostra lucida a existência dessas mulheres e pessoas não-binárias em diversas funções. Além disso, tem um papel de formação, discussão, debates, oficinas que buscam formar mulheres jovens e une as profissionais de cinema de Salvador, Bahia e Brasil em prol do entendimento de que temos um espaço para nossas produções”, disse Hilda.
A Mostra ocorre no mês de julho, na Sala Walter da Silveira e no Goethe Institut.