Após o Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) apontar possíveis irregularidades no acesso a creches e pré-escolas para crianças de até 3 anos, mães da capital federal que aguardam há meses na fila de espera por uma vaga reclamam da situação.
De acordo com o TCDF, quase 5 mil alunos matriculados tiveram pontuação “possivelmente maior” do que a devida e passaram na frente de outras crianças na fila de espera. Desses, 793 eram filhos de servidores distritais.
Após detecção de irregularidades, TCDF cobra ampliação de vagas em creches
Na fila de espera, também foram identificadas 954 crianças com pontuação majorada — 157 das quais são filhas de funcionários públicos do DF.
Fabiana Almeida Dantas, 35 anos, é vendedora ambulante e autônoma. Há nove meses, ela tenta uma vaga para filha mais nova, de 1 ano, em alguma creche do DF.
“Um dia ela está na 10ª posição e depois na 30ª. Ela desce na lista ao invés de subir, sendo que a pontuação continua a mesma”, reclama. Moradora do Recanto das Emas, ela tem quatro filhos e afirma que nunca conseguiu colocá-los em creches. “Nunca tive esse privilégio”.
“Sou mãe solo e fica muito difícil conciliar casa, trabalho e filhos ao mesmo tempo. Não posso trabalhar de carteira assinada porque não tenho com quem deixar minha filha. Ela vai para o trabalho na rua comigo, pega sol e corre riscos. É cansativo para mim e não é bom para ela”, completa.
Fabiana afirma que a sensação é de abandono. “Estamos abandonados. É isso que eu sinto.”
Da 5ª para a 27ª posiçãoRaquel Alves, 34, é manicure e tem quatro filhos. O mais novo, também de 1 ano, está na fila de espera por uma vaga há cinco meses. Raquel comenta que está desempregada há dois anos porque precisa ficar em casa para cuidar do filho.
“Quando fizemos a inscrição, meu filho tinha 65 pontos e estava na quinta posição. Agora está na 27ª. Não vai ser chamado tão cedo”, reclama.
“Não estou conseguindo trabalhar porque tenho que olhar meu filho e pagar alguém para olhar é um absurdo. Hoje em dia está em torno de R$ 500 ou R$ 600. E é um dinheiro que faz falta, então tenho que ficar em casa”, explica Raquel.
A manicure reclama da situação e diz que se sente desrespeitada. “É um absurdo, a gente que precisa e não tem os direitos atendidos”.
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Fabiana tenta uma vaga na creche para a filha há nove mesesBreno Esaki/Metrópoles
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Sem creche, ela leva a menina para o trabalho que faz nas ruas do DFBreno Esaki/Metrópoles
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Fabiana mora no Recanto das Emas e nunca conseguiu colocar um dos quatro filhos em creches públicasBreno Esaki/Metrópoles
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Famílias do assentamento Monjolo, no Recanto das Emas, tentam vagas em creches e denunciam fura filas em sistema de espera. Breno Esaki/Metrópoles
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A mulher reclama da denúncia de fura-filaBreno Esaki/Metrópoles
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Raquel tenta vaga para o filho de 1 anoBreno Esaki/Metrópoles
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Como não consegue, ela fica em casa para cuidar do meninoBreno Esaki/Metrópoles
O que diz o GDFQuestionada, a Secretaria de Educação do Distrito Federal informou que segue critérios na fila de vagas para creches disponíveis da rede pública de ensino.
Segundo a pasta, a lista é dinâmica e a inscrição fica aberta ao longo do ano.
“A lista de espera é construída a partir das inscrições das crianças e atualizada diariamente, de modo que crianças com pontuações mais altas (a partir da documentação apresentada) serão inseridas na devida posição, independente da época de inscrição”, completa a pasta.