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“Magnata do café”: como golpista tomou dinheiro de juízes e promotores

São Paulo — Assessoria no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), festa em mansão no Lago Sul, em Brasília, com advogada do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), uso de carrão em nome de empresário bolsonarista e longas estadias em um hotel vizinho do Palácio do Alvorada.

A vida de luxo foi também cenário para o personagem criado por Rodrigo Bonametti de Miranda, o homem que se passou por “magnata do café”, para enganar juízes, promotores e desembargadores, com o objetivo de lhes arrancar dinheiro. Ele foi preso no dia 27 de julho, na capital paulista.

Documentos obtidos com exclusividade pelo Metrópoles mostram como magistrados e membros do Ministério Público paulista (MPSP) confiaram na promessa de até 100% de lucro, em negócios que não existiam nem mesmo no papel.

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Rodrigo Bonametti

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Carro apreendido pela PCDF

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Passaportes encontrados com o suspeito

EM DEPOIMENTO IRMÃO DO MAGNATA DO CAFÉ NEGA PRODUÇÃO DE CAFÉ E DIZ QUE PAI VIVE EM PIRAJU COM SALÁRIO MÍNIMO

Em depoimento, irmão do “magnata do café” afirma que não existe produção cafeeira em Piraju, onde pai vive com um salário mínimo de renda

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Rodrigo Bonametti

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Rodrigo Bonametti

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Rodrigo Bonametti

EM DEPOIMENTO, JUÍZA AFIRMA QUE CONHECEU MAGNATA DO CAFÉ NA CASA DE KARINA KUFA

Em depoimento, juíza afirma ter conhecido o “magnata do café” na casa da advogada bolsonarista Karina Kufa Reprodução

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Rodrigo Bonametti

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Rodrigo Bonametti

Brasília (Df) 08/11/22 – Aniversário Rodrigo Bonametti.Fotos: Deiviane Linhares/ Metrópoles

Rodrigo Bonametti Deiviane Linhares/Metrópoles

Advogado, Bonametti era, até poucos anos atrás, assessor de desembargador do TJSP, onde fez algumas amizades. Uma delas foi com o juiz Rodrigo Capez, irmão do ex-deputado Fernando Capez e assessor do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) por quase uma década.

Amigos desde 2015, Bonametti convenceu Capez a comprar cotas de produção de café em Piraju, no interior de São Paulo, onde, segundo ele, nunca havia geada e nada se perdia em nenhuma estação do ano. Com algum atraso, o investimento de R$ 44 mil do magistrado transubstanciou-se em R$ 77 mil. Um lucro de R$ 33 mil.

À polícia, o juiz relatou que nunca teve problemas em receber de Bonametti. Fez até um segundo aporte e apresentou um irmão a ele, o promotor de Justiça Flávio Capez. Mas o irmão já não teve a mesma sorte.

Flávio deu R$ 50 mil ao advogado, na expectativa de receber R$ 101 mil. O comprovante apresentado por Bonametti dizia que se tratava de um “contrato verbal de empreitada de cunho eminentemente familiar”. Flávio não obteve, porém, nenhum centavo de volta e resolveu denunciá-lo. Ele disse à polícia ter ouvido de Bonametti a desculpa de que estava em um tratamento de câncer e que não poderia usar “recursos pessoais” para pagá-lo.

Os irmãos Capez acabaram descobrindo que o “magnata do café” tinha pelo menos 15 credores e R$ 1 milhão em cobranças na Justiça. Esse foi o primeiro indício de que o tal investimento em café poderia ser um esquema de pirâmide financeira — que até remunera parte dos investidores, mas deixa inúmeros outros a ver navios.

É o caso do promotor Washington Gonçalves Vilela Junior, que também denunciou Bonametti à polícia, depois de ver R$ 125 mil sumirem, e o do desembargador Edison Aparecido Brandão, que move uma ação de cobrança de R$ 80 mil contra o acusado.

Se, em São Paulo, o vínculo com a Justiça lhe deu aparência de credibilidade, a ostentação em Brasília reforçou a imagem de que o “magnata do café” proporcionaria lucros milionários às suas vítimas.

A juíza de Goiás Claudia Silva de Andrade, que trabalhou no gabinete do ministro João Otávio de Noronha, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), e buscou uma vaga no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), afirmou à polícia ter conhecido Bonametti em uma festa na casa da advogada bolsonarista Karina Kufa, que defendia o clã presidencial.

A juíza Claudia era namorada de Juscelino Sarkis, homem que vendeu a mansão de R$ 6 milhões ao senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) em Brasília. Ela disse que, na festa, Bonametti se apresentou como amigo e advogado pessoal do juiz Rodrigo Capez. Conversa vai, conversa vem, a juíza Claudia deu R$ 60 mil ao advogado — e também ficou sem nada.

A magistrada fez uma pequena investigação sobre os luxos de Bonametti e afirmou à polícia que o Mercedes Benz que ele pilotava em Brasília havia sido transferid0 para o nome do empresário bolsonarista Otávio Fakhoury, que teve de se explicar sobre o carro.

Fakhoury disse aos investigadores que comprou o carro de Bonametti por R$ 400 mil, mas que o deixava usar temporariamente por “gentileza”, já que ele atuava como seu advogado e se encontrava em estado “fragilizado de saúde”. Foi no hotel Golden Tulip, que fica ao lado da entrada do Palácio do Alvorada, que a Polícia Civil apreendeu o veículo e o celular de Bonametti.

Tudo era fumaça. Testemunhos de familiares de Bonametti complicaram ainda mais a situação do advogado. O seu irmão, Bruno, que também era assessor da Justiça, afirmou à polícia ter sido dispensado do TJSP em março deste ano, ao ser comunicado da investigação sobre o irmão. Eles não se falam mais.

Bruno disse ter brigado com Bonametti porque ele pedia dinheiro emprestado à mãe e queria que a senhora fizesse um empréstimo bancário em seu benefício. O irmão afirmou aos investigadores que a família até herdou alguma terra em Piraju, no interior de São Paulo, mas que nunca houve qualquer produção de café por lá.

Servidora da Justiça do Trabalho, Mariana Previdelli afirmou à polícia ter tido um relacionamento amoroso com Bonametti por 16 anos. Ela disse ter feito com ele viagens ao exterior e que ambos rachavam as contas desses passeios. Como o namorado morava com a mãe, ele ficava a maior parte do tempo na casa de Mariana.

Mesmo sem teto próprio, Bonametti sempre gostou de uma vida “confortável”, com “roupas de marca”, afirmou a servidora. Ela própria e o seu pai chegaram a acreditar no empreendimento do café e investiram, juntos, R$ 100 mil, com expectativa de receberem o dobro como retorno. Ela contou à polícia que Bonametti dizia estar apertado para ajudá-la a pagar as contas domésticas, mas, ao mesmo tempo, tinha gastos exorbitantes, acumulando dívidas de R$ 400 mil em seu cartão de crédito.

Mariana relatou que Bonametti não tinha sequer estrutura própria para trabalhar como advogado e que ficava no escritório do advogado de Otávio Fakhoury, o dono da Mercedes Benz. Segundo a servidora, Bonametti afirmou a ela que o carro repassado ao empresário bolsonarista era produto de um contrato de honorários. Mariana afirmou ainda ter emprestado dinheiro ao ex-namorado, para que ele abrisse um pequeno comércio. Terminado o namoro, ela contabilizou um tombo de R$ 658 mil do “magnata do café”.

Nesse sábado (12/8), Bonametti foi solto por decisão do desembargador Marcelo Semer, do TJSP. “Deve se ter em conta que o paciente é primário, acusado da prática de crime de natureza não violenta, considerando-se, ainda, seu estado de saúde”, escreveu Semer. O desembargador impôs a Bonametti o comparecimento mensal ao juízo, apreensão do passaporte, recolhimento domiciliar noturno e proibição de aproximação com vítimas e familiares.

O advogado Antonio Belarmino Junior, que defende Bonametti, afirmou que ele foi “denunciado por três crimes de estelionato, sendo que elementos de cunho afetivo e familiar não possuem respaldo processual e nem elementos de cunho probatório e jamais deveriam ser utilizados em contexto acusatório”.

“Referente ao mérito das três representações, a defesa se manifestará no prazo legal (e) ressalta ainda que Rodrigo Bonametti de Miranda sempre colaborou com o bom andamento das investigações, inclusive fornecendo as senhas de seus aparelhos celulares nas duas oportunidades em que foram apreendidos, (e que) em momento algum se recusou a prestar esclarecimentos, (mas) devido a uma internação comprovada nos autos documentalmente não pode comparecer”, disse o advogado ao Metrópoles.

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