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Mais uma nação dividida no leste europeu

Quando pensamos na antiga União Soviética, sempre nos vêm à cabeça nações como a poderosa Rússia, ou a resiliente Ucrânia, mas o país que rivalizou por 50 anos com os Estados Unidos se desmanchou em 1991 em 15 novos estados independentes. A história, a política e o caminho escolhido por cada um deles após a transição é uma área de estudo extremamente fascinante, mas hoje vale contar um pouco mais sobre a pequena república da Moldávia, uma nação que nasceu dividida desde o princípio.

A Moldávia é um pequeno país no leste europeu entre a Romênia e a Ucrânia e com uma população singela de menos de 3 milhões de habitantes, tem a língua moldava (que é a mesma que a língua romena) como sua língua oficial, mas que recebe forte influência russa há mais de 200 anos. Historicamente a região da atual Moldávia, também chamada de Bessarábia, foi um Estado vassalo do Império Turco otomano, até que após a Guerra Russo-Turca entre 1806 e 1812 foi cedida ao Império Russo e passou por mais de 100 anos de intensa introdução aos costumes e língua russas.

Apesar de ter integrado o Reino da Romênia no período entre guerras, na década de 1940 foi novamente anexada pelos russos, agora como uma república socialista soviética, dentro da União Soviética. Com esse resumo extremamente rápido da história recente dos moldavos, conseguimos já observar que independência foi algo raro em seus tempos passados.

Com a dissolução da URSS e a formação de múltiplos estados independentes, a Moldávia se torna dona de seu próprio destino oficialmente em 1991, mas em 1990 já convive com uma guerra de secessão em seu território que deu origem a Transnístria, uma faixa de terra pequena e pró-russa, que declarou sua independência unilateralmente sem ter sido assim reconhecida por nenhum estado soberano no mundo.

O temor do povo da Transnístria e que hoje também ecoa na mente de alguns moldavos é que o governo central em Chisinau, possa um dia buscar uma união formal e territorial com a Romênia, afinal são etnicamente e linguisticamente, na visão de muitos, o mesmo povo, fazendo assim com que a minoria expressiva de russos, ucranianos, e gagauzes ficassem à deriva. Por ter uma economia singela, uma população pouco numerosa e tensões étnico-políticas em seu território, a Moldávia optou então por um caminho de neutralidade, acenando de maneira amigável à Bruxelas ao mesmo tempo que sorria e mantinha-se próxima à Moscou. 

Como quase tudo no leste europeu, a invasão total da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022, fez com que muitas questões deixadas de lado por décadas, pudessem novamente tomar conta do debate interno de cada um dos países, muitos deles temendo estarem nos planos do Kremlin para uma próxima invasão. Desde 2020 o país é liderado por uma presidente centrista, Maia Sandu, que cada vez mais tem buscado a integração moldava com a Romênia nos aspectos culturais e econômicos, enquanto se torna uma importante advogada para que a pequena república se torne um membro da União Europeia.

Os argumentos da presidente Sandu são muito convincentes para muitas pessoas, dizendo que maior integração econômica com o resto do continente iria melhorar a infraestrutura do país, principalmente as deficitárias estradas e ferrovias, além de promover maiores oportunidades de emprego com o investimento mais rápido de capital estrangeiro. Exemplos de sucesso no centro leste europeu, como a Polônia, Tchéquia e Hungria, reafirmam a visão da presidente que países da antiga Cortina de Ferro, conseguiram progredir social e economicamente com a União Europeia.

Contudo, para uma ex-república soviética o caminho é sempre mais arriscado, e a guerra em curso na Ucrânia há mais de dois anos, está logo do outro lado da fronteira para provar exatamente isso. Além dos três irmãos Bálticos, Estônia, Letônia e Lituânia, nenhuma ex-república soviética conseguiu verdadeiramente se desvencilhar de Moscou em quase 34 anos e quanto menor a nação, mas difícil é pensar em um futuro diferente do que foram os últimos 200 anos.

Nesse último final de semana aconteceram as eleições presidenciais na Moldávia conjuntamente a um referendo. Apesar da vitória parcial da incumbente e europeísta, Maia Sandu com 42,45%, a presidente enfrentará um segundo turno contra o socialista e eurocético Alexandr Stoianoglo, que fez 25,98% dos votos e tende a ganhar apoio de outras facções pró-russas dentro da política local.

Mesmo com um voto de confiança dado à atual presidente, o referendo que propunha mudanças constitucionais para colocar oficialmente a adesão à União Europeia como um objetivo do país, venceu por uma margem extremamente apertada rachando de vez uma nação já dividida. Aqueles que votaram favoráveis à integração europeia representaram 50,46% dos eleitores, enquanto os que decidiram por não seguir adiante rumo à União Europeia foram 49,54%.

Isso deixa muito claro que, assim como a Ucrânia pré-guerra, a Moldávia é uma nação, onde os homens e mulheres soviéticos ainda estão sempre presentes e onde um futuro guiado por Bruxelas assusta mais uma metade de população do que um presente alinhado com Moscou.

Os que votaram contra o referendo alegam temer que Chisinau se torne a nova Kiev e que não estariam dispostos a provocar os russos apenas pela possibilidade de uma economia mais forte. Há também quem associe estar na União Europeia, com políticas de costumes extremamente liberais, onde pautas da comunidade LGBT e imigração irrestrita seriam impostas, algo que contrariaria fortemente a população extremamente cristã ortodoxa do país e muito conservadora em seu modo de vida.

Mesmo sendo através de uma margem bem pequena, o referendo foi aprovado, e agora, essa nação muitas vezes esquecida por tantos, deverá dar passos mais largos para ser mais um dos 27 estados membros do bloco europeu. Todavia, isso depende da reeleição de Maia Sandu no próximo dia 03 de novembro, já que uma vitória de seu opositor, significaria engavetar gradualmente qualquer plano de distanciamento dos russos. Seja qual for o resultado, mais uma vez uma ex-república soviética amanheceu dividida politicamente nessa eterna dicotomia imposta pelo mundo pós-transição.

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