“Passava o fim de semana todo bem corrido. Cuidava das crianças, levava para escola. Agora me ver assim, parada e sem poder pegar meu filho no colo, é muito chato. Eu choro toda noite”, conta a maquiadora Jully da Gama Carvalho, de 30 anos. A jovem foi baleada na cabeça por Andrey Suanno Butkewitsch, sargento do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, após confusão em um bar, na região de Alto Paraíso (GO), na Chapada dos Veadeiros.
O episódio ocorreu no final de janeiro deste ano. A mulher, que é mãe de três filhos, passou por cirurgias e chegou a ficar internada no Hospital de Base. “Tenho crise de pânico à noite, não consigo dormir. Fico pensando na cena, na noite em tudo aconteceu. Quando cheguei na UTI, lembro exatamente que não conseguia me mexer. Fechei o olho, acordei e eu já estava no quarto, toda sem movimento. Então eu não conseguia sentir nada, só falar”.
Jully-da-Gama-Carvalho
Vítima foi baleada por bombeiro militar do Distrito Federal em bar de Alto Paraíso (GO) Instagram/Reprodução
Jully-da-Gama-Carvalho
Jully é maquiadora e empreendedora Instagram/Reprodução
Jully-da-Gama-Carvalho
Maquiadora está hospitalizada desde a madrugada desse domingo (28/1) Instagram/Reprodução
Jully-da-Gama-Carvalho
Família da maquiadora diz que toda e qualquer oração é bem-vinda Instagram/Reprodução
Foto-imagens-do-carro-onde-vitima-de-bombeiro-estava (3)
Vidro traseiro do veículo ficou com marca de bala e quebrado Divulgação/ PMGO
Foto-imagens-do-carro-onde-vitima-de-bombeiro-estava (2)
Carro onde Jully da Gama Carvalho, 30 anos, estava quando foi baleada Divulgação/ PMGO
Foto-imagens-do-carro-onde-vitima-de-bombeiro-estava (1)
Jully da Gama Carvalho estava sentada no banco do carona do veículo Divulgação/ PMGO
andrey militar maquiadora
Andrey Suanno Butkewitsch Reprodução
Segundo a vítima, após o crime, sua vida mudou totalmente e a família vem enfrentando dificuldades financeiras porque o seu esposo precisou parar de trabalhar para ajudá-la no tratamento. “A gente tá só sobrevivendo de doação. Meu marido não consegue trabalhar, tem de cuidar de mim e ainda tem as três crianças Está bem complicado, mas a gente vai atrás de justiça”, conta a maquiadora.
Jully ressalta não ter recebido nenhum apoio do bombeiro e tentará judicialmente receber alguma indenização ou colaboração financeira: “Enquanto isso, eu tenho vários custos com as crianças e comigo agora. Todos os dias preciso comprar muito remédio. A gente mora de aluguel e vou ter de devolver a casa e morar de favor”.
“Não estou conseguindo ir ao banheiro sozinha. Tudo é mais complicado. Choro de noite pensando porque eu saí de casa naquele dia para fazer esse passeio. Me culpo, mas é um processo”, continua a vítima.
Bombeiro é indiciado pela PCGO A Polícia Civil de Goiás (PCGO) indiciou Andrey Suanno Butkewitsch. Em um vídeo, é possível ver o momento em que as agressões começam, por volta de 0h47. Conforme as imagens, dois homens se estranham, trocam socos, e outras pessoas acabam se envolvendo na briga.
Veja o vídeo:
A situação fica fora de controle e alguns dos envolvidos deixam o local, seguindo em direção a um carro. Nesse momento, conforme flagrou uma segunda câmera de segurança, o militar sacou uma arma e atirou contra o veículo. O projétil atingiu a cabeça da maquiadora.
De acordo com as gravações, após efetuar o disparo, o militar retorna com a arma para o bar. Um outro vídeo mostra o momento em que ele coloca a pistola em um balcão do comércio, mostra um documento a um funcionário do local e depois se retira.
GSI Quando atirou em maquiadora, Andrey estava lotado na Presidência da República e também fazia parte do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Segundo consta no Portal da Transparência, o militar atuava desde 2019 no órgão do governo federal responsável pela segurança do presidente da República.
A Corregedoria do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) informou, em nota, que apura o “suposto envolvimento de um militar da corporação”.
“Informamos que os fatos estão sendo apurados e, se confirmada autoria e materialidade, a Corregedoria irá adotar as providências internas que o caso requer. Reiteramos ainda que o CBMDF não compactua com condutas delituosas de qualquer natureza e primamos pela conduta ilibada e exemplar da tropa, que são pautadas pelos regulamentos e pilares que norteiam a Corporação”, disse o CBMDF.