InícioEditorialMargareth segue em silêncio, mas setor cultural celebra convite para ministério

Margareth segue em silêncio, mas setor cultural celebra convite para ministério

Depois do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciar seus primeiros ministros na última sexta-feira (9), uma vaga ganhou a atenção do público e da mídia ao longo do fim de semana: a do Ministério da Cultura. É que a artista Margareth Menezes foi convidada para ocupar o cargo e, desde então, se discute a possibilidade da baiana se tornar ministra.

Uma discussão que, até o momento, não tem a participação pública da própria Margareth, que não falou com a imprensa e mantém silêncio sobre o assunto. Procurada pela reportagem, a assessoria da cantora confirmou que houve o convite para que ela assumisse a pasta, mas ressaltou que não há nada definido ainda.

Enquanto ela não diz se aceita, a “torcida organizada” pelo nome da Bahia ganha força nas redes e na comunidade cultural baiana. Presidente do Olodum, João Jorge destaca o avanço que Margareth Menezes como ministra representaria para o povo negro e diz esperar um “sim” da conterrânea porque vê nela a mesma capacidade que viu em Gilberto Gil, quando este ocupou o cargo entre 2003 e 2008. 

“Ela é uma companheira da jornada da música, da cultura, dos blocos afro e dos afoxés. Esperamos que ela aceite e que tenha uma experiência como a de Gil quando foi um ótimo ministro. Uma mulher negra, baiana, nordestina e que é símbolo da luta contra o racismo em um cargo como esse é um passo muito importante”, fala ele.

Fernanda Bezerra, fundadora e diretora da Maré Produções Culturais, afirma ter recebido a notícia com alegria pelo fato de Maga ter experiência em projetos culturais e capacidade para conduzir a pasta.

“Além de artista incrível, ela representa a diversidade brasileiro e tem ampla experiência em projetos de impacto social. […] Margareth é uma artista empreendedora que tem capacidade de gestão, experiência e que, na gestão pública, vai montar uma equipe que assessore ela nesse processo”, diz.

Apesar de surgir como forte candidata ao ministério e ter a aprovação de muitos, Margareth não foi a primeira opção do próximo governo para ocupar o cargo. De acordo com o jornal Folha de São Paulo, o músico Emicida e a atriz Marieta Severo foram procurados para a vaga antes, mas não aceitaram ocupá-la.

Mesmo assim, Vavá Botelho, diretor geral do Balé Folclórico da Bahia, celebra o convite considera uma decisão acertada da próxima gestão. Ele destaca que a cantora pensa cultura de forma ampla e tem o perfil que se encaixa com a atual necessidade da pasta. 

“É tudo que a gente precisa para o ministério. Uma pessoa com visão humanista e sensível como Margareth tem. Não precisa ser um político ou um técnico nesse momento. Precisamos voltar a humanizar o ministério da cultura e ela é perfeita para isso. Pensa cultura como projeto”, diz.

Antônio Carlos dos Santos, o Vovô do Ilê, se diz entusiasmado com a indicação. Para ele, é fundamental que pessoas negras estejam ocupando cargos de poder e que sejam convidadas para isso.

“Estou muito empolgado com a indicação dela. É uma cobrança que venho fazendo há anos. Não adianta a gente votar nos partidos e, na hora de escolher quem senta na mesa na decisão, só tem pessoas brancas. Por isso, defendemos o nome de Margareth Menezes para ministra”, fala.

A Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult) também foi procurada para repercutir a possibilidade de Maga ser ministra, mas não retornou. A cantora Daniela Mercury, que teve o nome cogitado para o ministério, foi outra acionada pela reportagem, mas não retornou.

Comoção por Magá

Nem toda reação foi positiva em relação a escolha da baiana para o ministério. Segundo informações, há resistência de componentes do novo governo ao nome de Margareth para a pasta. O principal argumento dos contrários seria a inexperiência dela na gestão pública e a insatisfação repercutiu nas redes sociais. A baiana figurou nos assuntos mais comentados e muitos saíram em sua defesa.

A linguista e escritora Conceição Evaristo lamentou as críticas feitas ao convite e disse não ser surpresa o surgimento de questões em relação à capacidade de gestão quando uma mulher negra é indicada a um grande cargo, mesmo em um partido de esquerda.

“As mulheres negras com as suas candidaturas, com seus cargos eletivos, suas vidas sacrificadas até à morte, popularizam os partidos, representam a base, legitimam discursos  de uma esquerda que veemente (de uma direita também) se diz não racista, não machista, não transfóbica, não elitista, afirmando ser democrática”, escreve em uma publicação.

Filósofa e escritora, Djamila Ribeiro também foi às redes sociais para falar sobre o convite. Na publicação, fez questão de destacar o histórico da cantora e a capacidade que ela tem de se organizar em torno de projetos e manifestações culturais. 

“Produz o seu próprio bloco de Carnaval que hoje é marca da cidade de Salvador. Magá é atriz, produtora, gestora da própria carreira e mantém projetos sociais na área da cultura. É pessoa das artes e da cultura desse país. […] Uma mulher extraordinária que tem experiência de ponta a ponta como poucos na cultura desse país. Viva Magá!”, publica.

A mobilização foi grande e outras manifestações além da de famosos surgiram em favor da cantora. Uma fã fez coro ao que já vinha sendo dito e afirmou que a artista não é capaz apenas pelo que faz nos palcos, mas como opera fora deles.

“Maga sempre foi a rainha do Carnaval para mim. Mas ela é muito, muito mais do que uma artista, cantora e compositora premiada. Empresária, ativista e embaixadora do Folclore e da Cultura Popular do Brasil na IOV/Unesco, ela personifica como poucas a cultura brasileira. Inclusive no apagamento em favor de pessoas brancas.”, diz.

“Margareth é reconhecida mundialmente por sua atuação enquanto agente produtora de cultura”, lembrou a jornalista e influenciadora Maíra Azevedo, a Tia Má. 

Antropóloga, historiadora, professora da USP e de Princeton, Lilia Moritz Schwarcz, comemorou a indicação da baiana nas redes sociais e destacou a trajetória da artista. “Antes de ser um sucesso na música, Margareth também foi atriz e hoje celebra 35 anos de carreira se consagrando como uma referência no axé, samba-reggae e afrobeat brasileiro”, disse.

Ela disse não compreender as críticas à indicação. “Não consigo entender portanto tanta polêmica em torno do nome de Margareth. Política a gente aprende e forma equipe técnica. Agora, humanidade, consciência, afeto e conhecimento profundo da arte e da cultura brasileira , capacidade de escuta e de liderança, isso não se aprende tão fácil. Margareth tem de sobra. Vai ser uma grande Ministra”, acredita.

Falta experiência?

Sobre a falta de experiência apontada pelos que não estão a favor da cantora como ministra, o presidente da Fundação Gregório de Matos, Fernando Guerreiro diz que a não atuação da cantora na área de administração pública não será um problema, destacando, porém, que ela precisa se cercar de técnicos na direção do ministério. “Há essa discussão se artista pode ser gestor. Para mim, Margareth pode ser uma grande embaixadora da cultura acima de tudo, mas precisa ter uma equipe de técnicos muito competentes que a auxiliem. Minha perspectiva é positiva com a ressalva da equipe”, fala ele. 

Quem também diz o mesmo é Fernanda Bezerra, que vê a formação do ministério com um artista no comando e cercado de técnicos como algo comum e lembra a experiência que Margareth acumula nos projetos que conduz como empreendedora. “Ela tem o trabalho na Fábrica Cultural que é reconhecido, premiado e respeitado e trabalha na revitalização de uma área super importante de Salvador que é a cidade baixa”, completa.

A Fábrica Cultural é uma organização social de Salvador fundada em 2004 que trabalha com os eixos de educação, cultura e sustentabilidade. O principal objetivo da Fábrica é impulsionar negócios e fomentar a cultura, principalmente na Península de Itapagipe – onde está localizada – através do incentivo ao empreendedorismo e do resgate da identidade cultural da Bahia.

É nela que nasce o Mercado Iaô, um centro de arte, educação, cultura e negócios criativos. O Mercado é um espaço de referência para o artesanato e para a cultura no estado e abriga o Mercado Iaô Verão, Iaô Junino e Mercado Iaô Itinerante.

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