Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado
Marta Suplicy 13 de dezembro de 2023 | 19:40
A secretária Marta Suplicy, que é cotada para ser candidata a vice-prefeita de São Paulo na chapa de Guilherme Boulos (PSOL) na eleição do ano que vem, deixou escapar que o presidente Lula (PT), responsável por executar essa costura política, já falou com ela sobre o assunto.
A possibilidade de Marta como vice de Boulos foi revelada pela Folha —a ideia de parlamentares petistas é atrair a ex-prefeita de volta ao PT, sigla à qual foi filiada por 33 anos, por meio de um convite de Lula.
Em um grupo de WhatsApp que reúne entusiastas da esquerda e até alguns jornalistas, Marta enviou na tarde desta quarta (13) uma mensagem dizendo “Lula já falou comigo”.
Isso foi interpretado como um sinal de que a secretária iria atender ao pedido do presidente de voltar ao PT e de integrar a chapa de Boulos. O assunto no grupo naquele momento era justamente a eleição municipal.
Segundo interlocutores da secretária, no entanto, Marta enviou a mensagem no grupo sem querer —sua intenção era enviá-la a um contato privado.
De qualquer forma, Marta e Lula conversaram por telefone, nesta quarta, num primeiro contato a respeito da chapa eleitoral. É esperado que eles se reúnam pessoalmente nos próximos dias para aprofundar o assunto.
A mensagem de Marta gerou comemorações entre os integrantes do grupo, que demonstraram animação com a possibilidade da chapa Boulos-Marta.
O movimento político é delicado porque Marta atualmente é secretária de Relações Internacionais da gestão Ricardo Nunes (MDB) na prefeitura e, a princípio, iria apoiar a reeleição do prefeito, que é o principal rival de Boulos na eleição.
Logo após o equívoco de Marta no WhatsApp, o coordenador do grupo Prerrogativas, o advogado Marco Aurélio Carvalho, que é próximo da secretária, procurou disfarçar. Ele afirmou no grupo que a mensagem dela não tinha relação com a vice de Boulos e que a conversa com Lula havia sido sobre o Natal dos Catadores, evento do qual o presidente e a ex-prefeita costumam participar.
“Calma, turma. É um outro assunto. Convite para o Natal dos catadores de materiais recicláveis em Brasília. Mas, em breve, quem sabe, o que todos e todas nós estamos esperando…”, escreveu Carvalho.
Procurado pela reportagem, Nunes afirmou que “deve ser um boato” a possibilidade de Marta apoiar o adversário.
“Tenho confiança de que a Marta, que está no governo há três anos, deve continuar no nosso projeto. A gente tem um alinhamento muito legal, que transcende a relação de trabalho. Ela tem minha total confiança. Ela é muito amiga da minha esposa, Regina”, afirmou.
Nunes disse ainda que Marta é uma secretária “super ligada a ele”. “Não faz o estilo da Marta ter algum rumo diferente, ter uma atitude dessa.”
Em janeiro deste ano, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, , ao ser questionada sobre o apoio a Nunes, Marta respondeu que ele estava “indo muito bem”. “Não vejo por que eu vá apoiar outra pessoa”, completou.
Tanto líderes petistas quanto o próprio Boulos têm afirmado que a discussão sobre vice será feita apenas em 2024. Pelo acordo firmado entre as duas legendas, o PSOL cederá a posição ao PT e a vaga ficará preferencialmente com uma mulher.
O nome de Marta é bem recebido tanto entre petistas como entre psolistas, que listam uma série de qualidades da ex-prefeita. Para eles, ela é querida e conhecida no eleitorado da periferia e agrega a Boulos sua experiência administrativa.
Além disso, o embarque de Marta representaria uma perda significativa para Nunes, que já sofreu um revés nesta semana com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), de quem ele buscava apoio, fazendo um gesto em favor da candidatura do deputado Ricardo Salles (PL-SP) a prefeito.
A presidente nacional do PSOL, Paula Coradi, já afirmou que a legenda aceita Marta se o partido aliado indicá-la para a vaga de vice.
O eventual retorno ao PT demandaria esforços de acomodação tanto da ex-prefeita quanto da sigla. Ela teria que formatar um discurso para justificar seu movimento e reconquistar o apoio de quadros petistas. Seria preciso, ainda, convencer a militância —em parte refratária a Marta— a acolhê-la.
Marta virou persona non grata entre petistas ao migrar para o MDB e votar em 2016 pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT). No entanto, mesmo após a saída conturbada do PT, ela nunca rompeu com Lula e foi entusiasta da união de diferentes forças para elegê-lo em 2022.
Ela chegou à Secretaria Municipal de Relações Internacionais depois de se engajar na campanha de Bruno Covas (PSDB) em 2020. Naquele ano, Marta se filiou ao Solidariedade por alguns meses e, desde então, está sem partido.
Marta —figura importante do PT ao longo de três décadas, como deputada, senadora e ministra— tem sua passagem pela prefeitura (2001-2004) lembrada por marcas como a construção de CEUs (Centros Educacionais Unificados) e de corredores de ônibus, além da criação do Bilhete Único. Até hoje, parte da população acha que ela está ligada ao petismo.
Ela concorreu à prefeitura pelo MDB em 2016 e ficou em quarto lugar, com 10% dos votos válidos.
Em 2020, Marta foi considerada para a vice do PT quando se discutia lançar a candidatura do ex-prefeito Fernando Haddad (PT), hoje ministro da Fazenda. No ano anterior, Lula chegou a falar que, se quisesse, a ex-petista poderia voltar para a legenda.
Carolina Linhares/Joelmir Tavares/Folhapress