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O candidato de Lula a presidente da Câmara não será o de Arthur Lira

A fala original de Ulysses Guimarães, presidente do MDB, da Câmara dos Deputados e da Constituinte de 1988, foi esta:

“Não se pode fazer política com o fígado, conservando rancor e ressentimentos na geladeira. A Pátria não é capanga de idiossincrasias pessoais. É indecoroso fazer política uterina em benefício de filhos, irmãos e cunhados. O bom político costuma ser um mau parente.”

Foram tantos os políticos que se apropriaram da fala que o que sobrou dela foi isto:

“Não se faz política com o fígado”.

O senador Renan Calheiros (MDB-AL) não guarda o fígado na geladeira, ele não tem fígado. Mas é com o fígado que faz política seu maior adversário em Alagoas, o presidente da Câmara Arthur Lira (PP). Lira tenta disfarçar, mas não consegue.

O que Lira imagina que teria a ganhar dizendo o que disse sobre Alexandre Padilha, ministro da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência? Lira chamou Padilha de “incompetente” e o promoveu publicamente à condição de seu “desafeto pessoal”.

A birra de Lira com Padilha vem desde o início do governo, mas agravou-se com a decisão tomada pela maioria da Câmara de confirmar a prisão do deputado Chiquinho Brazão, suspeito de ser um dos mandantes da morte de Marielle Franco.

O candidato de Lira à sua sucessão na presidência da Câmara é o deputado Elmar Nascimento (BA), líder do União-Brasil, partido que se apressou em expulsar Chiquinho Brazão dos seus quadros. Nascimento, contudo, liderou a campanha para soltar Brazão.

Foi por estar convencido da inocência dele? Que nada. Se estivesse, não concordaria com sua expulsão do partido. Nascimento queria demonstrar ao Supremo Tribunal Federal, que autorizou a prisão de Brazão, que tem muita força dentro da Câmara.

Mas ele jamais agiria assim sem o consentimento de Lira, seu padrinho.De resto, por trás de Nascimento e de Lira havia Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara, no passado cassado por corrupção, e no presente uma espécie de “deputado oculto”.

Com frequência, Cunha despacha no gabinete de sua filha, Danielle (União Brasil-RJ). Cunha tem contas a acertar com o Supremo. Daí seu empenho em libertar Brazão, aliado dele no Rio. Nascimento e Lira foram alunos de Cunha quando ele mandava na Câmara.

Padilha foi o emissário de Lula junto aos deputados para convencê-los a votar a favor de manter Brazão atrás das grades, e Lira não gostou disso nem um pouco. Como não poderia bater em Lula, bateu forte em Padilha. O troco veio ontem. E foi Lula que deu:

“O Padilha está no cargo que parece ser o melhor do mundo nos primeiros seis meses, e depois começa a ser um cargo muito difícil. […] É o tipo do ministério que a gente troca a cada seis meses, para que o novo titular faça novas promessas. Mas só de teimosia, o Padilha vai ficar muito tempo nesse ministério, porque não tem ninguém melhor preparado para lidar com a adversidade dentro do Congresso do que o companheiro Padilha.”

Lira arriscou-se a ouvir o que não queria, e ouviu. Lula não está disposto a passar a mão na cabeça dele quando chegar a hora de eleger seu substituto. Faltam apenas 9 meses e poucos dias.

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