InícioNotíciasPolíticaO que Bolsonaro e Sampaoli, técnico do Flamengo, têm em comum

O que Bolsonaro e Sampaoli, técnico do Flamengo, têm em comum

Tão certo quanto Jorge Sampaoli ser demitido, ganhe ou perca o Flamengo o título de campeão da Copa Brasil, é Bolsonaro condenado no mínimo por mais três crimes: abolição violenta do Estado Democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado e roubo de joias que faziam parte do acervo da Presidência.

Roubo de joias para revendê-las no exterior e ficar mais rico. Descoberto o crime, recomprou algumas para devolvê-las. Foi um almirante que entrou com elas ilegalmente no Brasil. Foi um general que repassou a Bolsonaro o dinheiro da venda. Um tenente-coronel cuidou da operação de venda e recompra.

Inelegível até 2030, Bolsonaro já está. O Supremo Tribunal Federal condenou-o por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação durante reunião com embaixadores estrangeiros no dia 18 de julho do ano passado. Na ocasião, ele mais uma vez investiu contra o sistema eleitoral brasileiro.

Fê-lo ao longo do seu desgoverno. Duvidou da lisura de sua eleição em 2018 ao dizer que havia vencido no primeiro turno, mas forçado a disputar o segundo. Nunca apresentou provas da fraude. Defendeu o restabelecimento do voto impresso, embora tivesse sido eleito deputado federal sete vezes pelo voto eletrônico.

Uma vez que o Congresso votou e derrotou a proposta de recriação do voto impresso, estava obrigado a não mais voltar ao assunto sob pena de estar pregando um golpe. Não se importou. De fato, era o que queria e sempre quis. Tanto que depois de não ser reeleito, convocou os comandantes militares para discutir o golpe.

Deu assim o passo definitivo para ser acusado de tentar acabar com a democracia. Tinha em mãos uma minuta do golpe que lhe fora entregue por Filipe Martins, seu assessor. A minuta, ou outra, foi encontrada nos celulares do tenente-coronel Mauro Cid, seu ajudante-de-ordem, e do ex-ministro da Justiça Anderson Torres.

Não houve golpe porque só um dos comandantes, o da Marinha, aderiu à ideia de intervenção militar para anular o resultado da eleição presidencial de 2022; uma decepção para Bolsonaro que se apresentava como dono do Exército; um alívio para o país que ainda seria sacudido pelo golpe amador de 8 de janeiro.

Bolsonaro refugiou-se nos Estados Unidos por saber que seu projeto de virar um ditador fora abortado. Esqueceu de aconselhar os golpistas acampados à porta de quarteis a retornarem às suas casas. De tanto ouvirem falar em golpe, os acampados tentaram aplicar o deles sob o olhar conivente de policiais e de militares.

Deu no que deu. Os três primeiros golpistas julgados pelo Supremo Tribunal Federal foram condenados a penas de prisão que variam de 14 a 17 anos e seis meses. Se elas não forem revistas pelo próprio Supremo, será inimaginável que Bolsonaro, o pai do golpe, receba pena menor. Quando? Provavelmente no próximo ano.

O relógio da Justiça não bate em sintonia com o relógio da política, esse mais veloz. Se há maioria no Congresso para aprovar qualquer coisa, ali só não se pode transformar homem em mulher e mulher em homem, disse Ulysses Guimarães, o condestável da Nova República, no final dos anos 1980.  Hoje, talvez possa.

É de Ulysses uma sequência famosa de frases quando a atual Constituição foi promulgada em 5 de outubro de 1988:

“Traidor da Constituição é traidor da Pátria. Conhecemos o caminho maldito. Rasgar a Constituição, trancar as portas do Parlamento, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio e o cemitério. Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo”.

Ao buscar apoio ao golpe, Bolsonaro traiu a Constituição e a Pátria. Deixá-lo impune seria igualmente trair a Constituição e a Pátria.

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